Estudo recomenda medidas preventivas para Torre de Belém e proteção de visitantes

Da Redação com Lusa

Um estudo sobre o impacto das alterações climáticas em Lisboa recomenda uma intervenção de conservação na Torre de Belém, e também avisos e apoio aos milhares de visitantes que aguardam em filas sob calor extremo junto aos Jerónimos.

Estas são algumas das recomendações do estudo, iniciado em setembro deste ano, nos dois monumentos classificados como Patrimônio Mundial, na zona de Belém, pela equipa da investigadora norte-americana Barbara Judy, do Serviço Nacional de Parques dos Estados Unidos.

Numa entrevista à agência Lusa, a investigadora, arquiteta com especialização nesta área, disse que a sua equipa identificou impactos provocados pelas alterações climáticas nos dois monumentos e recomenda, como medidas mais urgentes, a realização, nos próximos três a cinco anos, de uma intervenção de conservação da Torre de Belém, e medidas para proteger os milhares de turistas que no verão visitam o Mosteiro dos Jerónimos.

“Sabemos que o clima está a mudar aqui em Portugal, e em Lisboa, mas a questão é como estas alterações estão a afetar estes dois monumentos. Estamos muito preocupados com os visitantes que estão nas filas durante, normalmente, uma hora e meia à espera, o que é excessivo sob temperaturas que estão a aumentar”, alertou a investigadora, com experiência no estudo de monumentos em zonas costeiras.

O Mosteiro dos Jerónimos encontra-se no topo dos monumentos mais visitados em Portugal, com 870.321 entradas em 2022, e a Torre de Belém, também na capital, somou 377.780 visitantes no ano passado.

“As estatísticas indicam que 90% dos visitantes vêm de todo o mundo, nomeadamente os turistas mais idosos do norte da Europa, que não estão habituados ao calor. Também outros visitantes mais vulneráveis como grávidas e crianças causam preocupação”, apontou a investigadora, alertando para “os riscos para a saúde da exposição ao sol forte e altas temperaturas ambientes”.

Barbara Judy recomenda, nesta área, que os visitantes sejam protegidos com sombras e, quando isso não for possível, que sejam devidamente avisados das longas esperas, sobretudo em períodos do ano mais quentes, que usem chapéus e levem água.

Questionada sobre a questão da limitação de entradas, a investigadora lembrou que existem já limites de 400 pessoas no claustro do mosteiro, mas considera que “deveria haver uma restrição de meia hora de espera em fila em vez de uma hora e meia”.

Globalmente, a investigadora aponta, no estudo, as conclusões em três áreas: “Concluí, ao observar em pormenor os dois monumentos, e investigando a literatura científica sobre as alterações climáticas em Lisboa, que há três sistemas naturais que estão a mudar”.

“A primeira é que a temperatura ambiente está a elevar-se. Por outro lado, está a verificar-se uma subida do nível do mar e também as tempestades, que, combinadas, criam ondas de impacto que atingem as estruturas costeiras. Estas já têm sido faladas”, indicou.

O terceiro sistema prende-se com as condições das águas subterrâneas no Mosteiro dos Jerónimos, e que têm menos visibilidade: “Os lençóis freáticos normalmente não estão à vista, mas quando o nível da água salgada sobe, empurra a água doce para as fundações dos monumentos, e é preciso estudar esta evolução e a forma como pode afetá-los”.

Especificamente sobre a Torre de Belém, recomendou “uma campanha de reparação e conservação nos níveis mais baixos, nos próximos três a cinco anos, para fortalecer o monumento face ao aumento do nível do mar e da frequência das tempestades”.

Também em declarações à Lusa sobre o estudo – que será hoje apresentado publicamente, às 15:00 – Dalila Rodrigues, diretora dos dois monumentos, sublinhou que “o relatório é extremamente útil em termos de aplicação prática, porque identifica os riscos e as vulnerabilidades dos monumentos e propõe medidas práticas a adotar no imediato e a médio e a longo prazo”.

“É fundamental, agora, concretizar o que resulta deste estudo, adotar as soluções e tratamentos recomendados. É necessário que a tutela disponibilize meios, e que se defina uma rede de colaborações institucionais, desde logo com a Câmara Municipal de Lisboa e a Administração do Porto de Lisboa, entre outras”, defendeu.

Ambos os monumentos estão classificados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) como Património Mundial desde 1983.

O projeto de investigação “O impacto das alterações climáticas no Mosteiro dos Jerónimos e na Torre de Belém – estudos científicos e planos de mitigação” decorre em parceria com a embaixada dos EUA em Lisboa, ao abrigo do programa ‘Embassy Science Fellow’.

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