25 Abril: Mundo deu a Portugal comida, roupa, dinheiro, casas e empregos para os retornados

Da redação com Lusa

Leite da Inglaterra, farinha da União Soviética, conservas da Noruega, cobertores da Suécia e medicamentos da Austrália, mas também dinheiro, casas e até empregos são exemplos da ajuda externa a Portugal aos retornados após o 25 de Abril.

Sobretudo em 1975, Portugal chegou a receber 7.000 retornados por dia, vindos maioritariamente de Angola e Moçambique através de uma ponte aérea que trouxe à antiga metrópole a maioria dos 463.315 portugueses que tiveram de deixar esses países.

Para responder às necessidades básicas destes portugueses, o Governo aplicou uma série de medidas financiadas pelo orçamento do Estado, a emissão de dívida pública, empréstimos e doações internacionais.

Foi determinante a ajuda externa, nomeadamente das Nações Unidas, mas também, e de uma forma direta, de outros países e organizações, principalmente no fornecimento de alimentos, roupas e medicamentos, o que durou até final de 1976.

O relatório de atividades do Comissariado para os Desalojados indicava, em 30 de junho de 1979, que a ajuda externa na alimentação se saldou em produtos num valor superior a 250,5 milhões de escudos, o que ao valor e moeda atual representa cerca de 33,9 milhões de euros.

Os maiores valores vieram do Programa Alimentar Mundial, com 195 milhões de escudos, ou seja, 26,4 milhões de euros atuais através da FAO e 38,4 milhões de escudos (cerca de 5,2 milhões de euros) através da CEE.

Centenas de toneladas de roupa, entre cobertores e vestuário, foram enviados para Portugal de várias partes do mundo: Suécia, Inglaterra, Canadá, Alemanha, Noruega, e de organizações como a Unicef, a Cruz Vermelha e o Exército de Salvação. Foram igualmente encaminhadas toneladas de medicamentos.

Até dezembro de 1976, foram distribuídas 224.282 peças de vestuário, 158.713 peças de roupa doméstica, 570 camas e 972 colchões, de acordo com o Comissariado para os Desalojados.

A Cáritas Portuguesa, por exemplo, distribuiu, em 1975, 21.000 litros de leite e 80.000 sandes por 84.000 pessoas acabadas de chegar a Portugal, passando a ter a seu cargo 15.000 retornados acolhidos em programas administrados por esta organização da Igreja Católica, proporcionando nesse ano 121.675 diárias e 243.350 refeições, segundo relatórios do seu arquivo, consultados pela Lusa.

A esta organização chegaram dezenas de pedidos de empréstimos, alojamento e emprego, enviados por organismos oficiais e outras e até particulares. As respostas foram obtidas através de donativos, de empresas e de proprietários de casas que as ofereceram para acolher famílias de retornados.

A solidariedade manifestou-se de outras fontes menos oficiais, como famílias de emigrantes portugueses na Alemanha, que se juntaram para reunir um donativo de 25.875 escudos (3.509 euros em valores atuais) ou o jornal alemão Neve Bildpost, que promoveu uma campanha que resultou em 27 toneladas de agasalhos e um milhão de escudos (atuais 135.614 euros).

Em Portugal, várias organizações participaram de uma forma determinante no apoio aos retornados, como a Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) que na chamada “Operação Aeroporto” – assistência durante os meses da “ponte aérea” de Angola – assegurou a triagem de doentes, órfãos e viúvas, dando-lhes o respetivo apoio sanitário, médico e de encaminhamento.

Em colaboração com o Instituto de Apoio ao Retorno dos Nacionais (IARN), organismo público criado em 1975 para responder a este regresso, a CVP acolheu no aeroporto de Lisboa cerca de 410.000 retornados, prestando assistência médica e medicamentosa no local a 105.523 pessoas e provendo o internamento hospitalar de cerca de 4.000 doentes e feridos, segundo avançou à Lusa fonte desta organização.

A CVP e o IARN iriam mais tarde gerir os principais centros de acolhimento e outros organismos criados para alojar e apoiar a vida dos retornados na região Centro e da Grande Lisboa, incluindo prisões utilizadas para o efeito.

Por seu lado, a Cáritas participou ativamente no alojamento e alimentação destes portugueses, bem como a Fundação Calouste Gulbenkian, que criou um fundo de 50 milhões de escudos (atuais 6,7 milhões de euros), que viria a financiar a construção de milhares de fogos, em articulação com outras organizações.

A ajuda externa também foi determinante no financiamento de programas de crédito para a criação de empregos, uma vez que os subsídios que o Estado atribuía eram temporários, insuficientes e pesavam nas contas do Estado.

Em 1976 e 1977, com vista ao financiamento destes programas de crédito, os Estados Unidos fizeram doações no valor de 1.028 milhões de escudos (atuais 139,4 milhões de euros).

Mas também outros países participaram na solidariedade internacional com os retornados portugueses como Grã-Bretanha, União Soviética, Noruega, Áustria, Suíça ou Holanda.

A ajuda incluiu ainda postos de trabalho, como os 10 mil oferecidos pela Venezuela ou os 1.110 disponibilizados pelo Irão para motoristas, segundo dados do IARN.

Após o 25 de Abril de 1974, chegaram a Portugal oriundos das ex-colônias africanas, sobretudo Angola e Moçambique, 463.315 portugueses, segundo o recenseamento de 1977, tendo o Censos 1981 atualizado esse número para 471.427.

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