Projeto “Wonder Memories” da artista Beatriz Albuquerque expõe diáspora portuguesa no Porto

Da Redação com Lusa

 

O projeto “Wonder Memories – Peregrinos da Memória”, da artista plástica Beatriz Albuquerque, chega ao Porto depois de ter passado por França e pelos Estados Unidos, estando a artista à procura de emigrantes que queiram partilhar a sua experiência.

Em comunicado, a assessoria da artista avança que, depois de apresentado no departamento francês de Lille-Roubaix-Tourcoing e na cidade de Nova Iorque, o projeto “Wonder Memories – Peregrinos da Memória” chega à Cooperativa Árvore, no Porto, de 14 de setembro a 05 de outubro.

Idealizado pela artista plástica Beatriz Albuquerque, o “Wonder Memories” mapeia, documenta e divulga as memórias da diáspora portuguesa no mundo.

“São intenções do projeto a história viva das comunidades e do local, a riqueza das experiências, a herança viva, a materialidade durável e a imaterialidade, a rastreabilidade portuguesa, com trocas de opiniões e diálogos com a artista e os emigrantes do país anfitrião”, salienta o comunicado.

Beatriz Albuquerque está por isso à procura de emigrantes portugueses, que ainda sejam ou tenham sido, e que queiram partilhar a sua experiência.

As partilhas poderão ser filmadas ou realizadas por correio eletrônico e de forma anónima.

As entrevistas terão por base 11 questões relacionadas com a experiência da emigração e as ligações a Portugal, decorrendo nos dias 16, 29, 23, 27 e 30 de setembro na Cooperativa Árvore, no Porto, ou por correio eletrônico, através do endereço [email protected].

Beatriz Albuquerque nasceu em 1979 e desenvolve diferentes práticas artísticas, do vídeo à fotografia, tendo já recebido o prémio da Bienal de Cerveira, o prémio Myers Art do Teachers College, da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e o prémio Ambient Performance Serie, em Chicago.

No passado mês de dezembro, quando apresentou o projeto “Wonder Memories” em Nova Iorque, Beatriz Albuquerque disse à agência Lusa que fez perguntas como: “Do que sente saudades de Portugal?”, “Qual a música que associa a ser emigrante?”, “Quando está em Portugal o que leva na mala/carteira?” ou “Porquê emigrar?”. E disse que, muitas vezes, estas são questões que levam os entrevistados às lágrimas.

“Adoro ouvir as vozes de todos, mas gosto particularmente das histórias que me contam e que partem de perguntas muito pessoais que lhes faço nestas entrevistas. Entrevisto pessoas muito diversas e, muitas vezes, não estão à espera de perguntas tão pessoais e chegam a ficar emocionadas”.

“Saudades dos avós, das família, de tudo… Notam-se ligações muito fortes. Mas há também variações, como histórias de amor, histórias de pessoas que estão a lutar para conseguir algo. Registei as mais diferentes vivências. Mas o que é comum a todos é a saudade e a nostalgia. Não é uma saudade que os levaria de volta a Portugal agora, é saudade do Portugal que deixaram há 10, 20, 30 anos mas que, quando voltam, já não é o mesmo Portugal, nem eles são a mesma pessoa”, explicou então a artista.

Beatriz Albuquerque sublinhou que nunca observou qualquer mágoa desses emigrantes para com Portugal, sentido sempre “positivismo”, mas muitas das pessoas com quem falou sentem-se emigrantes dentro do seu próprio país quando regressam.

“É muito interessante perceber isso. É a saudade do país que eles deixaram, mas saudades de como ele era nessa altura. E, quando regressam, notam um certo distanciamento que os leva a sentirem-se emigrantes dentro do próprio país. Há um paradoxo muito interessante e que vejo em muitas das entrevistas”, assegurou.

“Acredito que os portugueses são poderosos”, disse Beatriz Albuquerque à Lusa quando da estreia do projeto em França, em setembro de 2022. “Gostamos de descobrir e somos conhecidos por chegar a um país e conseguirmos integrar-nos bem. É isto que as pessoas me contam, que vieram à procura de melhores condições de vida. Claro que tiveram lutas, mas contam-me como as venceram”.

É objetivo da artista fazer “um arquivo digital para não se perderem as narrativas que são muito importantes […], um arquivo de memórias e pensamentos destas pessoas, as suas histórias, a sua vida e as perspectivas de futuro”, manteve a artista, desde o lançamento do projeto.

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