Da Redação com Lusa
No Catar, o presidente de Portugal defendeu a importância dos direitos humanos, não só políticos e econômicos, mas individuais, a liberdade e a inclusão de todos, incluindo migrantes, e independentemente de orientação sexual e de gênero.
Marcelo Rebelo de Sousa em Doha, numa conversa com o Presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, sobre educação, iniciativa organizada pela fundação Education For All em conjunto com as Nações Unidas, antes de assistir à estreia da seleção portuguesa de futebol no Campeonato do Mundo.
Nesta sessão de diálogo, transmitida na Internet, o chefe de Estado sustentou que para se cumprir o 4.º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas — “o acesso a uma educação inclusiva, de qualidade e equitativa” — é preciso “liberdade para cada um, para todos” e “coesão social”.
Coesão social implica “incluir toda a gente, incluir os pobres” e também “os migrantes”, implica “incluir pessoas com ideias sociais, políticas, econômicas diferentes, até com diferentes orientações — nós sabemos que cada país tem a sua maneira de pensar — mas até orientações sexuais e de gênero”, acrescentou.
A propósito da liberdade, referiu: “Claro, aqui temos somente equipas de futebol masculinas. Mas, por exemplo, em Portugal a maioria dos estudantes do ensino superior são mulheres, a maioria das doutoradas são mulheres, estamos acima da média da Europa, estamos a liderar, e isso é tão importante”.
Marcelo Rebelo de Sousa, que falou em inglês, apelou a que se aposte e invista no ensino superior, na evolução científica e tecnológica, mas sem esquecer os que não conseguem ter acesso a essa educação, considerando que esta é uma questão de direitos humanos.
“Direitos humanos são direitos sociais, direitos econômicos, direitos políticos, mas também direitos individuais, e isso é tão importante. O direito de acesso à educação é vital, faz a diferença. Quando falamos de uma educação de qualidade e inclusiva, falamos do futuro numa visão de longo prazo”, declarou.
Diplomacia
O embaixador de Portugal em Doha esteve na quarta-feira no Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar no “quadro da preparação da visita” do Presidente ao emirado.
O embaixador de Portugal em Doha, Paulo Neves Pocinho, “esteve, conforme prática habitual” no Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, onde se realiza o Campeonato de Mundo de Futebol e onde chegou hoje o chefe de Estado Português, disse fonte do gabinete de João Gomes Cravinho.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros português não acrescentou mais detalhes sobre a reunião do embaixador de Portugal junto da diplomacia do Qatar.
Marcelo Rebelo de Sousa já assistiu ao primeiro jogo da seleção portuguesa de futebol no Mundial, contra o Gana, que venceu por 3×1.
O Presidente da República disse na terça-feira que Portugal mantém relações diplomáticas com vários países não democratas e defendeu que o Mundial de futebol é um certame importante e que as autoridades portuguesas devem estar presentes.
Esta semana, em declarações aos jornalistas, em Leiria, Marcelo Rebelo de Sousa disse que Portugal mantém “relações diplomáticas com a maioria dos Estados do mundo, [e] a esmagadora não é democrática” e reiterando a importância de falar sobre direitos humanos.
“Eu já tive ocasião de dizer que eu intervenho num debate sobre a educação e um dos pontos fundamentais da educação é direitos humanos. Portanto, naturalmente, eu, depois de amanhã, [quinta-feira] estarei a falar de direitos humanos no Qatar”, afirmou.
A deslocação do Presidente da República ao Qatar para assistir ao primeiro jogo da seleção nacional de futebol no Mundial 2022, na quinta-feira, foi aprovada esta semana no Parlamento, com votos a favor das bancadas do PS, PSD e PCP, abstenção do Chega e votos contra de IL, BE, PAN e Livre.
Anteriormente, no dia 17 de novembro proferiu declarações que se tornaram polêmicas sobre o emirado pedindo concentração nas questões desportivas.
“O Qatar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal…, mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa. Começamos muito bem e terminamos em cheio”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, na zona de entrevistas rápidas no Estádio José Alvalade, na quinta-feira da semana passada.
Várias organizações de defesa dos direitos humanos denunciaram que milhares de pessoas morreram no país entre 2010 e 2019 em trabalhos relacionados com o Mundial.
Um relatório publicado no jornal britânico The Guardian, no passado mês de fevereiro, indica a morte de pelo menos 6.500 pessoas.
Além das mortes por explicar, o sistema laboral ‘kafala’ e os trabalhos forçados, sob calor extremo assim como as longas horas de trabalho, entre outras agressões, têm sido lembradas e expostas vários há anos por organizações não-governamentais e relatórios de instituições independentes.