Da Redação com Lusa
O Presidente da Guiné-Bissau afirmou neste dia 10 que o seu corpo de segurança o protegeu em Paris, num encontro com a comunidade guineense, “perante ameaças de violência” e negou que tenha atuado à margem da lei.
“O meu corpo de segurança tem como papel proteger o Presidente da República. Mesmo nos Estados Unidos da América se levantares a mão [diante do Presidente da República] és logo alvejado a tiro”, defendeu Umaro Sissoco Embaló.
Um grupo de cidadãos guineenses apresentou uma queixa à polícia francesa contra alguns elementos da Presidência da República da Guiné-Bissau, que acusaram de os terem agredido num encontro que Embaló realizou com a comunidade guineense em Paris.
Nos últimos dias, apareceram nas redes sociais vídeos de, pelo menos, dois cidadãos do país, residentes em Paris, com hematomas que, dizem, terão sido causados por alegados espancamentos de que terão sido alvo durante o encontro de Sissoco Embaló com a comunidade na capital francesa.
O Presidente guineense regressou hoje ao país após ter realizado na segunda-feira uma visita de Estado à França onde assistiu, no sábado, à reabertura da catedral de Notre-Dame, alvo de um incêndio há cinco anos.
Em declarações aos jornalistas no aeroporto internacional Osvaldo Vieira, de Bissau, Umaro Sissoco Embaló defendeu que, se existiu ameaças de agressão à sua pessoa, os seus seguranças “fizeram bem” em atuar daquela forma.
Embaló frisou que se os seus seguranças encontrarem alguém na rua e o agredirem irá “tirar as ilações e tomar medidas”.
“Agora se protegerem o Presidente da República fizeram muito bem. Doravante assim será”, declarou.
Recebido pelo Presidente Emmanuel Macron no Palácio do Eliseu, o Presidente Umaro Sissoco, foi agraciado com a Medalha de Grande Oficial da Legião de Honra, a mais alta distinção do Estado francês. pic.twitter.com/sa2k7ysrhd
— Presidência – Guiné-Bissau (@Presidencia_GB) December 10, 2024
Manifestações
O ano de 2024 começou e acaba na Guiné-Bissau com manifestações convocadas contra o regime do Presidente Embaló e reprimidas pelos cassetetes e pelo gás lacrimogéneo lançado pela polícia de intervenção.
As primeiras tentativas de protestos foram da coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI-Terra Ranka), liderada pelo Partido Áfricano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), destituída do poder pelo decreto presidencial que dissolveu o parlamento em dezembro de 2023, meio ano depois das eleições legislativas e antes de decorrido o prazo constitucional para o efeito.
As tentativas de protestos sucederam-se, por parte de formações políticas e da sociedade civil, mesmo depois de um despacho do Governo, logo em janeiro, que proibiu os ajuntamentos na via pública, sempre reprimidas pela polícia.
Quase um ano depois da dissolução do parlamento, partidos e novas coligações preparavam-se para novas eleições, em 24 de novembro, quando o chefe de Estado considerou não existirem condições e adiou o ato eleitoral, com base num parecer do Governo de iniciativa presidencial.
Um dos entraves apontados foi o Supremo Tribunal de Justiça ainda não se ter pronunciado sobre as candidaturas apresentadas.
A decisão judicial surgiu depois do decreto presidencial que cancelou as eleições e excluiu as candidaturas da coligação PAI-Terra Ranka e da Aliança Patriótica Inclusiva (API).
O líder da PAI-Terra Ranka, Domingos Simões Pereira, estranha a decisão e acusa o regime de estar a fazer de tudo para o impedir de ir a eleições.
Simões Pereira, que foi adversário de Embaló em 2019, defende que já deviam ter sido convocadas novas eleições presidenciais e que o mandato presidencial termina em 27 de fevereiro de 2025, data a partir da qual entende que a Guiné-Bissau passa a ser “um não Estado”, onde a única instituição que funciona é o Presidente.
Ao longo do ano, a oposição queixou-se e criticou o silêncio da comunidade internacional relativamente à situação política da Guiné-Bissau.
O ano em que se celebrou o centenário do líder histórico Amilcar Cabral, sem comemorações oficiais na Guiné-Bissau, registou momentos de tensão com Timor-Leste, depois de vários dirigentes timorenses terem duvidado da capacidade guineense de assumir a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa em 2025.
O Presidente guineense lamentou as críticas dos “irmãos timorenses” e enfatizou que a Guiné-Bissau não pediu para presidir à CPLP e que já esteve na presidência de outras organizações como a CEDEAO, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental.