Por Felipe Gonçalves
Em Portugal e no Brasil, fala-se muito hoje nas migrações, mais de brasileiros para Portugal, do que propriamente de portugueses para o Brasil.
Mas algo que ainda fala-se pouco nas duas pontas do Oceano Atlântico, são dos luso-descendentes. Sim, com a diminuição do fluxo de imigrantes portugueses nas últimas décadas, fluxo esse que existe desde 1.500, com a chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral, os luso-descendentes passaram a ser os principais responsáveis pela manutenção da cultura portuguesa no Brasil.
Há uma estimativa de cerca de 25 milhões de brasileiros com ascendência portuguesa, e esses números ficam mais factíveis quando, por exemplo, temos acesso a informação de que em fins de 2022, segundo apurado pelo (Portugal Giro – Globo.com; 29/11/2022), já eram quase 400 mil brasileiros, os que desde 2010, tiveram a concessão da nacionalidade portuguesa.
A mim me parece óbvio, que ao luso-brasileiro, deva-se acrescentar uma intimidade ainda maior com a cultura portuguesa, do que um luso-descendente de outros países. Não por qualquer demérito desses, mas por uma característica muito singular daqueles. Porque os luso-brasileiros tem, para início de conversa, a língua portuguesa como a sua língua materna e a gramática portuguesa, como seu livro didático no ensino básico.
A História do Brasil começa a ganhar seus primeiros contornos com a expansão marítima portuguesa. A literatura portuguesa é parte do nosso crescimento literário, depois de Camões, Gil Vicente e Bocage, quando chegamos aos séculos XIX e XX, aprendemos com Eça de Queirós e Machado de Assis, Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, entre tantos outros contistas e poetas.
Mas a língua é apenas um pormenor, diante do emaranhado de “mesclas culturais” que vão desde a culinária até a religião. Quem não conhece no Brasil e em Portugal a festa do Divino? Quantos não vão à missa aos domingos? E as festas juninas e julinas dos Santos populares? Santo António, São João e São Pedro? Que são celebradas nos dois países.
Nesses tempos de Natal então, é comum reunir a família e ter um prato de bacalhau e rabanadas à mesa! E não cabe nessa pequena síntese, no que ficará para a próxima, o associativismo no Brasil, nomeadamente no Rio de Janeiro, que já foi até mesmo capital do Império português, mais propriamente em 1808 com a vinda da família real para o Brasil, mas principalmente entre 1814-1821, quando do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
O associativismo marca uma série de clubes e casas portuguesas, constituídas ao longo dos séculos XIX e XX, em diversos estados do Brasil, e em boa medida, no Rio de Janeiro. Entre muitas, podemos citar a Casa do Minho, dos Açores, de Trás-os-Montes, do Porto, das Beiras, Camponeses de Portugal de Duque de Caxias, Casa de Viseu, Casa de Portugal de Teresópolis, Casa de Portugal de Petrópolis e muitas outras.
Não obstante, os clubes de futebol como o Clube de Regatas Vasco da Gama e a Associação Atlética Portuguesa (Carioca), que possui as suas “irmãs” portuguesas no estado de São Paulo, que são a Portuguesa Santista e a Portuguesa de Desportos, associações que são clubes de futebol e também outras modalidades desportivas de destaque e relevância nacional.
Por isso, vamos continuar a tratar disso brevemente, porque há muita gente a se reverenciar e muitos temas a esse respeito a tratar. Pra já, um feliz natal a todos brasileiros, portugueses e luso-descendentes.
Boa consoada !
Cumprimentos,
Por Felipe Gonçalves
Historiador e Diretor Social da Casa de Portugal de Teresópolis-Rio de Janeiro.