MINHA VIDA NA MALA – Reparar e Memorizar a Importância do Emigrante

Por António Justo
A organização de exposições e outras iniciativas sob o título “MINHA VIDA NA MALA”, no âmbito de celebrações comemorativas dos emigrantes portugueses, poderia tornar-se num factor de promoção e revitalização de associações e iniciativas lusas na diáspora e, ao mesmo tempo, num apelo à consciência portuguesa para valorizar a imagem dos emigrantes portugueses pelo seu papel de embaixadores de Portugal e pelo contributo económico e cultural, que deram e dão, para os seus locais de proveniência e para a sustentabilidade das finanças portuguesas.

O objectivo principal do projecto seria focar o itinerário e o papel da vida migrante; celebrar a presença dos portugueses nos diferentes países e motivar a nova geração de emigrantes a desenvolver o associativismo e o lusitanismo universalista propagador de uma cultura de povos em festa. Ao mesmo tempo fomentar a memória e o agradecimento que Portugal deve aos emigrantes na qualidade de constante factor de desenvolvimento do país e para quem o país se tem mostrado ingrato (por vezes cobarrde porque envergonhado!)

Criar recursos lusos de apoio e fomentar sinergias entre associações e as mais variegadas instituições em Portugal e na diáspora. Contribuir para espalhar a festa portuguesa a acontecer dentro e fora de Portugal: arraial, museus, celebrações e diferentes iniciativas tendentes a avivar a memória e presença migrante no palco da lusofonia e nas comunidades da diáspora espalhadas pelo mundo

Conteúdo do projecto: Num trabalho de rede de consulados, missões, associações, artistas, professores, assistentes sociais e multiplicadores culturais, activar entre os emigrantes e em Portugal iniciativas concretas viradas para diferentes públicos.

Um apoio financeiro poderia provir do MNE, União Europeia, bancos, etc.

Resultados a esperar: celebração dos emigrantes – do Homem como caminheiro – fortalecimento da consciência migrante, intercomunicação e fortalecimento operacional das associações e inclusão das mais variadas personalidades em actividades das associações. Fortalecer a consciência dos emigrantes no seu papel de embaixadores de povos/culturas e de apoio ao desenvolvimento. Fortalecer a consciência nacional de um povo cujo génio se encontra dentro e fora do país.

A coordenação poderia ser feita pela Secretaria de Estado para as Comunidades, por universidades, Associações empresariais, Instituto Camões, consulados, missões, associações e possíveis parcerias sob um comité ad hoc. (Fiz esta proposta, já lá vão muitos anos, à Secretaria das Comunidades – ME- mas não houve resposta).

O projecto poderia constituir uma oportunidade para reflectir sobre a identidade portuguesa e possibilitar a objectivação de histórias de famílias que partem e que ficam, que vêm e que vão.

Cada pessoa ou família envolvida no projecto poderia apresentar uma mala, a ser exposta e elaborada com materiais, imagens, objectos, documentos, lembranças, tudo relacionado com uma vida entre paragens e em que a mala se tornou símbolo de vida e companheira. Trata-se de conhecer e divulgar, também com postais, cartas, músicas, etc., o contributo da emigração em termos geográficos e sociológicos valorizadores do nosso povo e das nossas terras. Nas associações ou iniciativas seria importante envolver artistas a apoiar a elaboração das malas.
Em museus de emigração, poderia haver uma secção com malas de migrantes forradas e recheadas com fotos e materiais que testemunhassem currículos e destinos individuais.

Atendendo ao rosto amarelo de um Estado envergonhado, devido à emigração carente (o que tem impedido a sociedade portuguesa residente de honrar suficientemente a contribuição dos emigrantes para o seu bem-estar e desenvolvimento), agora que já tem imigrantes que mostram a atractividade de Portugal, poderiam ser unidas, expressões que incluam emigrantes e imigrantes. (Aqui há também um outro capítulo de grande débito e de reparação que ao país tem em falta em relação aos “Retornados”). Enquanto a consciência nacional não se encontrar à altura de fazer reparação e de reconhecer as suas faltas em relação ao passado faltar-lhe-á a lucidez necessária para dar forma ao presente de forma a prestigiar o futuro.

Quanto a celebrações anuais (10 de Junho e outros festejos comemorativos) um tal projecto poderia assumir proporções regionais, nacionais ou mesmo internacionais. A estender-se o projecto a Portugal (por exemplo ligação com a festa migrante) implicaria que as repartições da cultura das Câmaras, bancos, alguma faculdade universitária e os meios de comunicação social se tornassem, possivelmente, iniciadores e promotores de tais projectos. Este projecto, depois de realizado nos diferentes locais, poderia tornar-se depois numa exposição itinerante.

Não há família nenhuma em Portugal sem experiência migrante. A migração marca a paisagem e a alma de Portugal. É uma constante característica de organização da vida familiar portuguesa e do seu Estado. A emigração é, na realidade, uma das cinco quinas que marcam o país.

Este é um contributo para um “Brain” de ideias que poderia preparar um projecto a ser assumido por um Secretário de Estado, institutos superiores, jornais, pelos deputados, conselheiros da emigração e outras parcerias.

 

Por António da Cunha Duarte Justo

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