Por Daniel Pazinatto
A recente onda de violência que atingiu a cidade de São Paulo, com ataques a escolas e ameaças de bomba, reforçou um sentimento que há tempos acompanha quem vive nas grandes metrópoles: o medo. Em um contexto onde a segurança deveria ser garantida como direito básico, a sensação de vulnerabilidade cresce. Dados do IBGE revelam um movimento contínuo de famílias que deixam as capitais em direção a cidades do interior, processo que se intensificou nos últimos anos com a pandemia e o avanço do trabalho remoto. A busca por tranquilidade, qualidade de vida e maior proximidade familiar tem pautado a escolha por cidades médias, que oferecem infraestrutura crescente sem o peso da insegurança das metrópoles.
O fenômeno, porém, não pode ser tratado apenas como uma tendência social, mas como um sintoma da falência do modelo urbano concentrado. O adensamento desordenado, a precarização dos serviços públicos, o colapso da mobilidade e a escalada da violência urbana criaram um ambiente hostil para quem deseja construir uma vida com estabilidade. Famílias com crianças pequenas, por exemplo, já consideram o medo de crimes em trajetos escolares como fator determinante para uma mudança de cidade. Trata-se de uma crítica silenciosa, mas contundente, à forma como os grandes centros vêm sendo conduzidos – privilegiando crescimento econômico, mas negligenciando o bem-estar coletivo.
Enquanto isso, cidades do interior, especialmente aquelas próximas a grandes polos econômicos, se mostram cada vez mais preparadas para absorver essa nova demanda. Municípios com menos de 500 mil habitantes têm ampliado sua infraestrutura educacional, de saúde, lazer e conectividade, tornando-se alternativas viáveis para famílias que buscam equilíbrio entre vida profissional e qualidade de vida. A presença de empreendimentos imobiliários planejados e com foco em segurança, mobilidade interna e sustentabilidade mostra que o setor privado também tem compreendido essa mudança de comportamento e atuado para oferecer soluções alinhadas ao novo estilo de vida urbano descentralizado.
No entanto, essa migração não resolve o problema estrutural da violência urbana, apenas o redistribui. Se, por um lado, o êxodo para o interior representa uma oportunidade de desenvolvimento regional, por outro, escancara a urgência de repensar a forma como a vida nas capitais é organizada. Continuar a ignorar a crise de segurança é manter um modelo de cidade excludente, onde apenas quem pode migrar terá acesso a uma vida mais segura. É necessário que as grandes cidades adotem uma abordagem sistêmica, que envolva políticas públicas eficazes de segurança, planejamento urbano humanizado e investimentos que resgatem a confiança dos cidadãos em seu território.
O futuro das cidades brasileiras exige um pacto de responsabilidade compartilhada entre governos, setor privado e sociedade civil. A interiorização da vida urbana pode ser uma resposta momentânea, mas não pode ser a única. A solução passa por reconstruir o valor da convivência urbana nas capitais, garantindo que todas as famílias, independentemente da região onde vivem, tenham acesso a segurança, dignidade e qualidade de vida. O direito de viver sem medo não deveria ser um privilégio geográfico, e sim, um compromisso coletivo.
Daniel Pazinatto
*Formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Paulista, é empresário e especialista em Gestão de Empreendimentos Privados de Desenvolvimento Urbano. Com 25 anos de experiência, foi presidente da Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano (Aelo) RMC e diretor do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação ou Administração de Imóveis (SECOVI) de Campinas/SP. Atualmente, o profissional é sócio-diretor da Antônio Andrade Empreendimentos Imobiliários.