Em fase final de obras, o novo espaço cultural será inaugurado em breve na Avenida Portugal, n.º 1650, em um dos bairros mais famosos e nobres da capital paulista.
Por Odair Sene
Mundo Lusíada
Aos 104 anos de fundação, o Clube Português de São Paulo, fundado em 14 de julho de 1920, é uma das raras entidades ‘centenárias’ na formação cultural luso-brasileira. São 104 anos de história, de muito glamour, muitas realizações pessoais e relações humanas, e lembranças de uma época que deixou saudades.
Porém, como disse o ex-presidente e atual dirigente Rui Fernão Mota e Costa, o Clube Português “nunca encerrou suas atividades”. Teve que negociar sua antiga sede da Rua Turiassú (por motivo de dívidas de diversas origens), mas nunca deixou de existir na memória da luso brasilidade.
A partir de 2025, logo no início do ano, o novo espaço passará a ser uma referência lusófona na Zona Sul, em um dos bairros mais charmosos e bem localizados de São Paulo, que é sinônimo de qualidade de vida e comodidade. Conhecido por sua atmosfera tranquila e ao mesmo tempo vibrante, o Brooklin equilibra perfeitamente a tranquilidade residencial com a agitação das áreas comerciais.
Por isso o ex-presidente Rui Fernão Mota e Costa (na ausência do presidente Assis Augusto Pires, afastado por problemas de saúde) recebeu o Mundo Lusíada no local, dizendo que o novo espaço pretende ser um lugar “representativo” para a comunidade lusófona da região.
“Estamos empenhados em apresentar uma alternativa para a comunidade portuguesa, para a qual eu tenho muito respeito, numa região onde não existem associações lusófonas, então estou muito feliz porque vivo o Clube Português desde 1956, onde conheci minha mulher (Dona Linda) e com quem formei família”.
Foi adquirido este imóvel na Av. Portugal n. 1650, foi reformado e transformado numa sede cultural onde vai passar a funcionar esta que é uma das mais tradicionais entidades lusófonas de São Paulo. O espaço de convivência vai abrigar uma área cultural, uma biblioteca, com “noites de fados” e um espaço de happy hour social, cultural ou corporativo.
“Essa é nossa intenção, eu até gostaria de, com o tempo, agregar aqui eventos do tipo ‘uma noite portuguesa’, uma bacalhoada, mesmo neste espaço pequeno, seria para poucas pessoas, porque fizemos uma casa pequena, mas aconchegante, e com intenção de fazê-la ser auto suficiente para que, futuramente a gente não tenha que fechá-la como fizemos com a sede da Turiassu, por falta de dinheiro para pagar as dívidas”, disse o dirigente numa altura em que uma equipe trabalhava no acabamento, com instalações elétricas, ar-condicionado e outras montagens.
Rui Mota disse que o novo local está num bairro “maravilhoso” e o nome da rua não podia ser melhor: “Av. Portugal”, destacou ele que também mora numa “Av. Portugal”, mas na cidade de Santo André. O local foi projetado para reunir numa área externa (superior) cerca de 50 pessoas num espaço de convivência decorado com um painel de Nossa Senhora de Fátima.
Críticas pela comunidade são infundadas
O dirigente e ex-presidente do Clube Português, Rui Mota respondeu sobre críticas por outros dirigentes de casas portuguesas e alguns ligados ao Conselho da Comunidade Luso-Brasileira, no geral com comentários dizendo que diretores teriam se aproveitado e vendido um patrimônio da comunidade, bastante valioso.
“Quem não deve não teme, nós fomos surpreendidos quando pensamos em vender, foi bem na época da pandemia. E tradicionalmente o Clube Português sempre reuniu os portugueses abastados, para terem um lugar onde se reunir. Na Rua Turiassu o Clube fez e criou histórias para muitas famílias. Então nós fomos acusados de termos vendido o Clube Português, mas nós vendemos o prédio onde estava instalada a sede, e hoje estamos num bairro, num local muito melhor, sem as dívidas antigas, e que vale a pena virem aqui conhecer”, disse ele detalhando como foi o encontro com a nova localidade.
Os dirigentes da época da Turiassu pagaram todas as dívidas, adquiriram o novo imóvel onde construíram a nova sede e onde Rui Mota disse ter expectativas de que a nova casa tenha condições de se manter com recursos próprios, e que a data de inauguração será estudada com carinho e comunicada com antecedência via comunicação social.
“Não estamos pensando em grande número de convidados, porque o espaço é pequeno, é um espaço de convivência e por isso teremos grupos menores que serão recebidos para tomarmos um vinho com orgulho de falar ‘sou sócio do Clube Português’”, disse ele que está à frente das obras.
Também presente nesta visita o publicitário Luiz Filho elogiou o projeto, para um futuro que promete ser promissor. “Muita satisfação em estar aqui hoje e ver um novo espaço crescendo, de uma associação centenária, mas com um conceito totalmente diferente para a comunidade, onde vai valorizar: negócios, cultura, eventos, num espaço onde pode-se agregar valores à cultura portuguesa de modo que podemos sentir e valorizar o que é ser português, e espaços assim estão faltando, então com certeza desejo sucesso a todos que formarão a nova direção”.
Segundo ele, o tipo de convivência lusófona vai agregar muito na região “até saindo um pouco do folclore português que vemos em todas as casas, pendendo mais para a riqueza da história portuguesa, que deve valorizar a cultura dos vinhos, literatura, arte, muita coisa aqui pode-se agregar e é um conceito interessante que vem vindo”, referiu Luiz.
“Aqui não é só para portugueses, é uma casa que está no Brasil, e eu costumo dizer que sou um brasileiro nascido em Portugal, então isso para mim é algo que me faz vibrar, sempre vivi assim com as coisas da comunidade”, disse Rui Mota.
Ao longo dos seus 104 anos, o Clube Português recebeu muitas personalidades importantes como artistas, políticos brasileiros e portugueses, como numa época do grande auge o arquiteto Ricardo Severo e o primeiro presidente comendador Antônio Pereira Inácio, entre tantos formaram a história do Clube.
Sua rica biblioteca teve como um dos idealizadores justamente o arquiteto Ricardo Severo. A biblioteca foi constituída oficialmente em 1929, e teve um significativo acervo com mais de 15 mil volumes formado por livros e periódicos raros e especiais, mapas, e material sobre a memória da instituição (iconografia, recortes de periódicos etc). Além de uma relevante coleção de títulos da Literatura Portuguesa e Brasileira. Entre as relíquias e algumas referências históricas um exemplar do ano de 1572 da obra “Os Lusíadas” de Luís de Camões, além de coleções dos escritores Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, Fernando Pessoa e Machado de Assis.