Beneficências Portuguesas se unem em busca de “colaboração mútua” e resgate da filantropia

A colaboração mútua deve favorecer os hospitais no plano prático, técnico, administrativo, e de aquisições.

 

BeneficenciasPortuguesasSP

Por Odair Sene
Mundo Lusíada

Em 11 de setembro, representantes de algumas Beneficências Portuguesas do Estado de São Paulo estiveram reunidas para discutir novos caminhos, o futuro, a origem portuguesa, experiências, encorajar cooperação e colaboração entre elas. O projeto tem apoio do Consulado de Portugal de São Paulo e do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de São Paulo.

A Beneficência Portuguesa de São Paulo neste encontro representada pelo seu presidente Dr. Rubens Ermírio de Moraes, foi anfitriã do primeiro e inédito encontro que contou com representantes de outras cinco Beneficências. Durante a reunião, foram esplanadas as possibilidades de cooperação, apoios governamentais, incluindo da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) e principalmente apoio mútuo uns aos outros.

Consulado de Portugal
Segundo o Cônsul Geral de Portugal em São Paulo, Paulo Lopes Lourenço, a iniciativa pretende fazer duas coisas ao mesmo tempo. Por um lado reconhecer publicamente neste evento o papel das instituições beneficentes de matriz portuguesa, nos cuidados de saúde, na assistência social no Estado de São Paulo e em outras praças. E em segundo lugar, compreender em que medida essas instituições beneficentes, que estão em processos distintos e individuais de transformação, podem cooperar em conjunto para se tornarem mais fortes.

Conforme Paulo Lourenço, fazer o reconhecimento das Beneficências é a metade do caminho. “Todas elas hoje tem uma história para contar, todas elas estão fazendo uma transformação profunda do seu modelo de organização. Umas mais desenvolvidas, e outras menos. Nossa intenção é tentar inspirar uma reflexão aqui sobre que caminho podemos iniciar, às que estão hoje presentes e as que ainda podem vir a aderir este processo, iniciando um caminho de colaboração para o futuro”.

As questões essenciais de colaboração passam por gestão e administração, políticas de aquisições de equipamentos e fornecimentos, levando em conta a dimensão de cada instituição, e na troca de informação. “E colaborar, criar parcerias e aproveitar as sinergias, de forma que elas possam ser cada vez mais vistas como uma plataforma importante no setor hospitalar. Para as Beneficências Portuguesas continuarem sendo tão importantes quanto já foram no passado, é preciso que elas colaborem mais estritamente entre si”, defende o cônsul.

A ideia é que a cooperação e trocas de informações sejam definidas pelas próprias participantes. Mas para os organizadores, nenhuma área está excluída. A colaboração mais óbvia é no plano prático, técnico, administrativo, e de aquisições. Segundo o cônsul, elas podem ter 200 ou 7 mil funcionários, mas apresentam os mesmos quadros de desafios e dificuldades.

“Vamos saber onde cada uma está se especializando, porque todas são diferentes, mas todas elas continuam a ter um papel determinante nas comunidades em que estão inseridas. Esta [a de São Paulo] é muito grande, há outras que não são, mas tem um papel tão importante ou maior na sua comunidade de inserção. O que interessa é a importância que elas tenham localmente. Esse sempre foi o grande legado das beneficências portuguesas, elas nasceram de baixo para cima, da vontade de solidariedade de constituição em um conjunto de mecanismos de proteção social. Agora, o tempo mudou, os desafios de hoje são de gestão, e para elas continuarem a ser filantrópicas, precisam fazer grandes transformações no seu modelo de organização”, explicou.

Resgate dos objetivos
Conforme o Consulado de Portugal e o Conselho da Comunidade, a preocupação é tentar resgatar a importância que esses hospitais tiveram ao longo de suas histórias, na afirmação dos valores da comunidade como um todo, conforme disse o presidente do Conselho Antonio de Almeida e Silva.

Para ele, as beneficências, que ao todo são 14 em São Paulo, estariam se distanciando da sua criação original. “A ideia desse encontro é resgatar a importância que elas continuam tendo, estabelecer um canal de cooperação entre todas elas, no sentido de buscar com mais rapidez essa nova integração”.

Segundo Almeida e Silva, todas as beneficências gostaram da iniciativa, mas algumas tiveram dificuldades em se deslocar até a capital. “O verdadeiro motivo é que, infelizmente algumas seguiram caminhos, digamos, comerciais e se afastaram dessa ideia”, referiu ele defendendo a criação de um grupo de trabalho para que isso se alargue. “Para a comunidade portuguesa em São Paulo, essas beneficências são importantes, mas algumas estão já completamente distantes porque estão vinculadas exclusivamente à planos de assistência médica. Como disse o cônsul, esse lado romântico já não diz nada para algumas, e queríamos tentar reverter esse quadro”.

Contar com apoios de governos como já aconteceu anteriormente na história das beneficências está descartado, mas a questão “beneficente” que cada uma carrega no nome, permite isenção de impostos e um tratamento fiscal diferenciado. “Para nós o que preocupa é que sejam canais de afirmação da presença portuguesa em São Paulo”, disse Almeida e Silva entendendo que comercialmente a vantagem na redução de impostos é algo a se considerar.

Beneficência de São Paulo
Rubens Ermírio de Moraes, o anfitrião do encontro, falou ao Mundo Lusíada sobre o evento em que reuniu pela primeira vez seis representantes de beneficências portuguesas. Segundo ele, o complexo hospitalar que dirige tem uma “missão” de ajudar outras beneficências na parte clínica, na parte médica, cirúrgica. “Não posso afirmar que ajudaremos na parte financeira porque todas as instituições beneméritas portuguesas vêm passando situações extremamente difíceis financeiramente”, diz o dirigente que revelou um dado: “Só para ter uma ideia, para cada 100 reais gastos no SUS (Sistema Único de Saúde), recebemos apenas 22 reais, então meu déficit de caixa também é grande”.

Atualmente, os três hospitais do grupo somam cerca de 1.100 leitos, entre o hospital São Joaquim, São José e Santo Antônio na Penha. Segundo o Dr. Rubens, já foi tentado junto ao governo minimizar os problemas relacionados ao SUS, mas ainda continua com bastante deficiência. “Por isso que estamos montando um centro oncológico, estamos fazendo muito essa parte de convênios top e particular, para realmente fazermos um caixa e mantermos a filantropia, aqui no Hospital São Joaquim e no Santo Antonio”, explicou.

Durante sua gestão, nunca houve encontros como este envolvendo Consulado (com a presença da diplomacia portuguesa), Conselho da Comunidade e Beneficências. “Isso é um apelo do Consulado para tentar salvar as outras beneficências portuguesas, pelo que escutamos de depoimentos de outros presidentes, a situação está bastante crítica. Muitos deles vieram a perder a filantropia, provavelmente por uma má gestão do passado, as pessoas estão tentando recuperar, são hospitais pequenos em relação a Beneficência de São Paulo, mas acho que se tiver um pouco de bom senso, honestidade, arregaçar as mangas e querer trabalhar, creio que dá para sair dessa situação”, receitou Dr. Rubens que dirige a Beneficência Portuguesa de São Paulo, a maior instituição hospitalar privada da América Latina, com 153 anos de história e que, atualmente atende mais de 60 especialidades e cerca de 1,5 milhão de pessoas por ano.

AICEP e empresas portuguesas inseridas no projeto
A AICEP, Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, que mantém representação em São Paulo, também deverá ter participação importante junto às beneficências para melhorar seus processos, fazendo uma ponte com as empresas portuguesas que estão vindo, que virão, ou já estão instaladas no Brasil.

Ao Mundo Lusíada, o diretor da AICEP em São Paulo, Carlos Moura, explicou a participação da agência que poderá ser bastante útil no sentido de poder apresentar potenciais fornecedores portugueses nos processos de compra das beneficências.

“Portugal tem vindo a ser cada vez mais requisitado nos processos de exportação, dispositivos médicos, na área de biotecnologia, no setor farmacêutico, portanto Portugal tem muita capacidade de exportar e um cluster da saúde muito desenvolvido, logo poderá ser uma maneira de fornecer a estas beneficências portuguesas no Brasil”, disse.

Segundo Carlos Moura, a AICEP já preparou documentos médicos, farmacêuticos e biotecnológicos para repassar aos hospitais presentes no encontro, e estão previstas outras reuniões individuais com alguns superintendentes na área de compras para ser apresentado o que Portugal tem a oferecer, e saber quais as necessidades de cada um, fazendo este cruzamento da oferta e da procura.

A própria Beneficência Portuguesa de São Paulo, já conta com fornecedores portugueses por intermédio da AICEP. O sistema de informática gigantesco utilizado pelo hospital é de uma empresa portuguesa. “E temos já agendado uma reunião com o superintendente de compras para perceber onde podemos explorar oportunidades. Eles estão dando essa abertura, e nosso objetivo é que as beneficências criem uma central de compras e seríamos uma ligação direta e assistencial para isso”, referiu Carlos Moura.

Beneficência de São Caetano aprova iniciativa e indica a “entidade mãe” para dar o norte
De acordo com o vice-presidente da Beneficência Portuguesa de São Caetano do Sul, (na grande São Paulo), Antonio Rubira, a maioria das entidades estão numa situação precária. Mas a chamada “entidade mãe”, Beneficência Portuguesa de São Paulo, poderá dar o norte de procedimentos e valores para este início.

Analisando as outras situações, Rubira entende que a situação da Beneficência de SCS é “maravilhosa”, por contar com setores bem montados, enquanto algumas entidades não tem isso. Presente no encontro com seu setor comercial, como para assuntos governamentais, e diretoria administrativa, o dirigente de São Caetano defende que as entidades devem trocar planilhas de valores, procedimentos, formas de financiamentos, para conseguirem juntos, equacionar e tentar resgatar a maioria das entidades que ainda estão no mercado.

“As entidades beneficentes pequenas precisam ter uma linha de conduta, porque a diretoria das entidades não tem um setor administrativo forte, não é comercialmente forte, e nós precisamos administrar como são administrados grandes planos, com planilhas de valores, tempo de duração e procedimento, tempo de duração de internação, etc”, diz Rubira revelando que a ideia partiu dele durante um jantar na Casa de Portugal, num evento onde o Cônsul estava, e a conversa seguiu posteriormente numa reunião no Consulado com integrantes do Conselho da Comunidade.

As expectativas de futuro, segundo Rubira, são boas, já com uma reunião anual das Beneficências agendada, “mas com essa troca de informação inicial, será possível realizar reuniões setoriais”. Inicialmente a Beneficência de SCS tratará de assuntos comerciais e administrativos com a Beneficência de Araraquara. Enquanto a Beneficência de São Paulo se propõe a orientar nos procedimentos de valores maiores, segundo revelou Rubira ao Mundo Lusíada.

Além da Beneficência Portuguesa de São Paulo, participaram da iniciativa as entidades de Araraquara, Campinas, São Caetano, Santos e Bauru. Uma ata de divulgação será divulgada às outras Beneficências que também poderão aderir ao grupo.

Confira aqui a Declaração de São Paulo sobre as Beneficências Portuguesas >>

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