A triste ideia da União Europeia

Quando hoje olho o que se vai passando no seio da tristemente célebre União Europeia, com a sua não menos infeliz moeda, o euro, não deixo de dizer para comigo mesmo: que falta de jeito dos políticos europeus, dos mais antigos aos atuais, e quase desde a primeira hora desta triste ideia dos nossos dias, que é a objetiva ditadura da União Europeia.
Hoje, só mesmo os interessados podem continuar a defender este corpo sem alma que é a União Europeia dos nossos dias e do futuro mais previsível. Uma estrutura que se atemoriza até à histeria quando um qualquer líder político de um dos seus Estados resolve auscultar o seu povo, que os cânones democráticos dizem ser o detentor primeiro da soberania de cada Estado…
Pretendia-se com este corpo moribundo evitar o regresso da guerra e pensava-se, até, que o regresso dos golpes de Estado seria coisa do passado antidemocrático. Bom, como agora pôde ver-se com o caso grego, tudo é ao contrário, tendo estado bem à vista a possibilidade de um golpe militar na Grécia, mas tornando-se evidente que os povos europeus dos nossos dias vivem, de facto, por sob de uma ditadura, embora em nome da paz e da democracia.
Bastou que Papandreou tivesse tomado a iniciativa de anunciar um referendo ao pacote de medidas empobrecedoras do seu povo, e foi um dilúvio de medo por essa União Europeia fora. Uma realidade que tem como causa o facto dos líderes políticos europeus terem construído este Tytanic à revelia da vontade dos seus povos, lamentavelmente enganados pelos seus líderes, nomeadamente no caso do Tratado de Lisboa: eles sabiam que o mesmo seria reprovado por largas franjas de povos europeus, que hoje já não pretendem continuar nesta barco sem futuro, que se afunda a cada dia que passa.
Se os meus leitores tiverem tido a oportunidade de assistir ao filme INSIDE JOB – A Verdade da Crise –, facilmente compreenderão o que está hoje a ter lugar no seio da famigerada União Europeia. O que esta acabou por trazer aos povos europeus foi o desemprego, a pobreza e a miséria, e ao ponto de um governante nosso já aconselhar a nossa juventude a imigrar e a procurar singrar na vida por outras paragens.
Hoje, inquestionavelmente, e como tantas vezes tenho referido, nós já não vivemos numa democracia, mas numa ditadura onde os dirigentes políticos são escolhidos por via eleitoral. Simplesmente, basta olhar o que este Governo prometeu e disse, e ver o que agora faz, numa autêntica mudança ideológico-constitucional, para de imediato se perceber que as eleições, de facto, são um simples momento teatral, porque não vinculam o poder ao sentir geral dos cidadãos.
Tal como eu escrevi pelo meio de Outubro e como Kissinger agora nos diz, no seu recente livro, DA CHINA, sobre os riscos de uma guerra mundial entre os Estados Unidos e a China, neste Século XXI, nós caminhamos a passos largos para essa mesma realidade. De resto, José Medeiros Ferreira, na passada terça-feira, salientou esta mesma possibilidade. E será no seu decurso que a guerra voltará ao espaço europeu. De resto, os tais pais fundadores desta lamentável ideia, nunca terão pretendido o que agora parece querer-se, mas que se não pode assumir, como é evidente. E por esta razão simples: a Europa é uma estrutura mui diversa e a todos os níveis, quase todos insuscetíveis de mistura e de coexistência para lá de certo limite.
Já tenho dito muitas vezes, em conversa com amigos ou conhecidos, à laia de brincadeira intrigante, que já chegou a existir, durante o Século XX, uma outra União Europeia. Perante a dúvida dos meus interlocutores, lá esclareço a verdade a que me refiro: a antiga Jugoslávia. Num certo sentido, também ela era uma outra União Europeia, construída a partir de nações com caraterísticas muito distintas entre si, mormente de natureza religiosa, e onde a memória da guerra era muito antiga e frequente.
À generalidade das pessoas não ocorre este facto, só aparentemente sem grande significado: o líder histórico da Jugoslávia foi Tito, que era croata, ou seja, com raízes religiosas e culturais católicas. Com a sua morte, e graças à ação concertada da Alemanha e do Vaticano, a antiga Jugoslávia desmoronou-se, acabando os seus povos por ser conduzidos às mil e uma guerras que todos pudemos ver. Ou seja, tudo voltou ao estado inicial, depois de nova guerra, mas com alguma predominância final e vitoriosa da Croácia católica. Por outras palavras: esta nova realidade é, afinal, a velha realidade… Os isomorfismos da História.
Neste sentido, pois, nós já tivemos esta experiência, e que, vista de fora, parecia até funcionar, embora tudo não passasse de uma aparência, que só funcionava sob o pulso forte de um ditador e da criação de um singular caminho independente para o socialismo, mas fora da esfera de influência da antiga União Soviética. Morto o ditador, a realidade das culturas nacionais, religiosas e históricas voltou a impor-se.
Um dado é certo: a União Europeia só sobrevive hoje porque é, de facto, uma ditadura, para mais assente numa fantástica e despesista teia burocrática de gente que vive, essa sim, acima do moralmente aceitável. Os cidadãos dos seus diversos Estados, ou nunca foram auscultados sobre a sua adesão a esta estrutura, ou se o foram foi à luz de outros pressupostos que hoje já não vigoram, nem deverão voltar a vigorar. E, tal como aconteceu com a antiga Jugoslávia, será também a guerra que virá a pôr-lhe um fim. A História é uma fantástica sucessão de isomorfismos.

Hélio Bernardo Lopes
De Portugal

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