“Minha detenção para interrogatório foi um abuso” declara Sócrates

Mundo Lusíada
Com Lusa

O ex-primeiro-ministro, José Sócrates (E), no interior de um carro da polícia, à saída do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) no Campus de Justiça, em Lisboa, 23 de novembro. ANDRÉ KOSTERS/LUSA
O ex-primeiro-ministro o interior de um carro da polícia, à saída do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) no Campus de Justiça, em Lisboa, 23 de novembro. ANDRÉ KOSTERS/LUSA

O ex-primeiro-ministro José Sócrates classifica de “absurdas, injustas e infundamentadas” as acusações que lhe são dirigidas no âmbito do processo de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção, afirmando que o caso “tem também contornos políticos”.

Numa carta de oito parágrafos, ditada ao jornal Público pelo seu advogado, e também enviada à TSF, o ex-primeiro-ministro queixa-se de “humilhação gratuita”, promete “desmentir as falsidades” que lhe são apontadas e “responsabilizar os que as engendraram”.

José Sócrates responsabiliza o Ministério Público pela acusação, que diz ter “também contornos políticos. “A minha detenção para interrogatório foi um abuso e o espetáculo montado em torno dela uma infâmia”, sustenta o ex-chefe do Governo entre 2005 e 2011.

O ex-primeiro-ministro do Partido Socialista afirma que ao fim de cinco dias “fora do mundo”, decidiu, em “legítima defesa”, comunicar que as acusações de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais são “absurdas, injustas e infundamentadas”.

Segundo o jornal Público, o texto foi ditado por José Sócrates ao seu advogado a partir de uma cabine telefônica da prisão de Évora, onde se encontra detido preventivamente desde segunda-feira.

No texto, Sócrates garante que vai “conforme for entendendo”, “desmentir as falsidades lançadas” e responsabilizar “os que as engendraram”.

O ex-líder socialista queixa-se da “humilhação gratuita” que sofreu com a decisão do juiz Carlos Alexandre de o colocar em prisão preventiva, uma medida de coação que considera ser “injustificada”.

Segundo o Público, Sócrates afirma mais à frente que descobriu “uma lição de vida” sobre o poder: “verdadeiro poder – de prender e de libertar”. “Este é um caso da Justiça e é com a Justiça Democrática que será resolvido”, afirma, referindo também a solidariedade que tem recebido nos últimos dias e pede para que o PS não seja envolvido.

“Este processo é comigo e só comigo. Qualquer envolvimento do Partido Socialista só me prejudicaria, prejudicaria o Partido e prejudicaria a Democracia”, diz Sócrates. A mensagem de José Sócrates é divulgada a pouco mais de 48 horas do início do Congresso Nacional do PS, que formalizará a liderança de António Costa como secretário-geral do partido.

Caso Político
Depois das declarações de Mario Soares, o advogado de José Sócrates considerou que o processo-crime que envolve o ex-primeiro-ministro tem “contornos políticos” e disse não saber que crime de corrupção é imputado ao ex-líder socialista. “Este processo tem contornos políticos. Não é uma opinião, é um fato. A prisão de um ex-primeiro-ministro tem sempre contornos políticos”, disse João Araújo em declarações à agência Lusa.

O advogado adiantou que, na próxima semana, vai recorrer da prisão preventiva aplicada a José Sócrates pelo juiz de instrução Carlos Alexandre, pedindo a “libertação plena” por considerar que houve ilegalidade na prisão por questões substanciais.

João Araújo afastou, contudo, a possibilidade de apresentar um pedido de “habeas corpus” (libertação imediata), junto do Supremo Tribunal de Justiça. Segundo o advogado, José Sócrates respondeu a todas as perguntas feitas pelo juiz Carlos Alexandre, mas disse que, no final do interrogatório, continuou sem saber os contornos do crime de corrupção que é imputado ao antigo primeiro-ministro.

“Está tudo muito fluido e estou a tentar entender bem as coisas”, disse à Lusa João Araújo, referindo que “há incongruências que é preciso verificar”. João Araújo disse ainda que, quando Sócrates foi detido na sexta-feira no aeroporto de Lisboa, constava do mandado de detenção o crime de tráfico de influências, mas que este “desapareceu” e não foi abordado no interrogatório judicial.

José Sócrates está indiciado por fraude fiscal qualificada, corrupção e branqueamento de capitais e encontra-se em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Évora. O advogado escusou-se a adiantar os montantes que estarão em causa no processo, depois de vários órgãos de comunicação social terem avançado entre 20 e 25 milhões de euros.

Questionado sobre os comentários do ex-presidente da República Mário Soares, de que há uma “campanha que é uma infâmia” contra Sócrates, João Araújo disse: “Não partilho de coisa nenhuma, embora Mário Soares seja uma personalidade fascinante.”

O motorista do ex-governante, João Perna, o advogado Gonçalo Trindade Ferreira e Carlos Santos Silva foram detidos na quinta-feira, igualmente suspeitos da prática de crimes econômicos na “operação Marquês”.

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