Etar de Cambres “desagrada” população

A Estação de Tratamento de Águas Residuais (Etar) de Cambres, no concelho de Lamego, está a gerar polêmica entre os habitantes da freguesia e a empresa Águas de Trás-os-Montes e Alto Douro (ATMAD). Em causa está o mau-cheiro que exala daquela estrutura.  

Embora os habitantes daquela zona reconheçam a importância da Etar, o surgimento de insetos e de outros animais provoca uma onda de contestação por parte da população. Para resolver a situação, a empresa pretende instalar um sistema de desodorização na Etar. 

Rosa Gouveia vive no local há mais de 24 anos. Mas logo após a Etar começar a funcionar, há cerca de um mês, a sua vida mudou. Passa o dia a fechar portas e janelas de casa, com o intuito de “afastar o cheiro horrível que se faz sentir na localidade”. 

“Gostava que não houvesse mau-cheiro. Os responsáveis pela empresa disseram que o objectivo da Etar era despoluir o rio, mas acabaram por poluir a população”, lamenta. 

Lúcia Oliveira vive numa casa a apenas 20 metros da Etar. Está no local há 23 anos, onde mora com mais quatro pessoas, mas diz que agora os insectos e o odor são insuportáveis. 

“O cheiro é nauseabundo. Há dias em que os meus pais não conseguem simplesmente dormir. Se estiver vento, então, tudo se complica. Por vezes é impossível estar em casa. Tenho que ter tudo fechado e utilizar muitos ambientadores. Não tenho saneamento em casa, mas estou a levar com o cheiro dos outros”, refere esta moradora que garante que quando soube do projecto da construção da Etar naquele local, alertou de imediato o anterior executivo da Câmara Municipal de Lamego. Lúcia Oliveira levou o caso ainda ao conhecimento da GNR de Lamego e à Delegada de Saúde do concelho, mas nada foi ainda resolvido. 

Esta situação causa transtorno também à Maria Pereira. “Nem sequer posso receber visitas em casa devido ao mau-cheiro que se faz sentir. Tivemos que fazer a nossa vindima tendo este odor insuportável por companhia”. 

Por seu turno, Adélia Pereira, que vive nos arredores da Etar, confirma que mesmo sem vento o ar carrega sempre um cheiro desagradável. 

Já Manuel Gaivão, responsável pela Casa da Azenha, diz-se preocupado com a imagem turística daquela zona. “Todo esse cheiro cria um mau aspecto no local. Ninguém vai querer pagar para ter que conviver com esse odor que atinge não só os que vivem próximos da Etar, mas, também, os que estão mais afastados, o que é o meu caso. Esse cheiro é um transtorno tanto para moradores como para os trabalhadores das empresas que aqui estão”. 

Numa carta enviada no dia 15 deste mês, ao chefe dos Serviços de Águas e Saneamento do concelho de Lamego, Manuel Gaivão alega que “a construção de uma Etar se destina precisamente ao tratamento das águas residuais e não em criar a emanação dos piores cheiros que se podem imaginar”. Manuel Gaivão recorda ainda que existem outros estabelecimentos de turismo de habitação que podem sofrer sérias consequências com esta situação. “Creio que o futuro hotel da Aquapura, em Vale Abraão, não vai abrir as portas enquanto esse problema não for resolvido”, atesta. 

Este empresário considera que o problema pode afectar os investimentos feitos na região em termos de turismo, pondo em causa, ainda, a continuidade do galardão de Património Mundial da Humanidade. 

Contatado pelo Lamego Hoje, o presidente do Conselho de Administração da ATMAD, Alexandre Chaves, esclareceu que a estrutura está em fase de conclusão das obras e de afinação do processo. 

“Fizemos a Etar para melhora a saúde pública, garantir a qualidade de vida das populações e para melhorar o ambiente na região. Quando estiver na sua fase final, obviamente não haverá maus-cheiros. Penso que até ao natal deste ano teremos a estrutura a funcionar nos termos da lei e dentro do que está previsto”, garante este responsável que acrescenta que a empresa está a investir na região do Douro cerca de 200 milhões de euros em abastecimento de água e tratamento de águas residuais. 

Para José Boal Paixão, membro do conselho de administração da empresa, o odor exalado no local não é culpa das estruturas da Etar, mas, sim, de algumas descargas de resíduos feitas de forma irregular na rede de águas da região, o que já terá sido denunciado às autoridades. “A Etar está preparada para tratar apenas esgotos domésticos, e não industriais”, frisa. 

Este responsável garante, porém, que será instalado na estrutura um sistema de desodorização para que possa retirar o cheiro que está a ser produzido. “Estamos a utilizar as melhores técnicas nacionais para garantir a qualidade do ambiente”, finaliza Boal Paixão.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: