25 Abril: Presidente tem sido uma “muralha” contra o populismo em Portugal

Sessão solene comemorativa dos 45 anos da Revolução de 25 de Abril na Assembleia da República em Lisboa, 25 de abril de 2019. ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Da Redação
Com Lusa

Neste 25 de abril, o presidente da Assembleia da República fez um rasgado elogio à ação do chefe de Estado, considerando que Marcelo Rebelo de Sousa tem sido um “exemplo de lealdade democrática” e uma “muralha simbólica” contra o populismo.

Na sessão solene do 45º aniversário do 25 de Abril de 1974, na Assembleia da República, em Lisboa, num discurso aplaudido em vários momentos por todas as bancadas e em que também homenageou o antigo deputado e “capitão de Abril” Marques Júnior, defendeu que, na presente legislatura, o parlamento “teve uma centralidade sem precedentes” na vida democrática nacional.

Em final de legislatura, Ferro Rodrigues disse que não podia deixar de aproveitar a presença de Marcelo Rebelo de Sousa no parlamento “para enaltecer” a forma como o Presidente da República “tem prestigiado o sistema democrático português”.

“Vossa Excelência é um exemplo de lealdade democrática, numa relação com o parlamento que só enaltece o prestígio de ambos os órgãos de soberania. Nenhum é condicionável – e os dois têm disso consciência”, disse.

Segundo Ferro Rodrigues, Marcelo Rebelo de Sousa “tem sido uma muralha simbólica contra o crescimento do populismo, pelo papel decisivo e essencial que tem assumido durante a sua Presidência da República”.

Na sua intervenção, o presidente da Assembleia da República deixou ainda um apelo e também um desafio aos diferentes partidos.

“Em ano eleitoral deixo um apelo aos líderes políticos e parlamentares: que sejam capazes de travar um debate franco e leal, baseado em alternativas políticas claras. A política democrática é essencialmente isso: um confronto tolerante entre interesses sociais e programas políticos conflituantes”, disse.

Mas, o presidente da Assembleia da República foi ainda mais longe no seu recado, sustentando que “a política de casos é a arma dos fracos, daqueles que não têm ideias, nem alternativas”.

“Não resolve os desafios estruturais do país, nem os problemas concretos das pessoas. Só serve para minar a democracia e envenenar a vida pública”, completou, recebendo, então, uma prolongada salva de palmas por parte de deputados de diferentes bancadas.

A seguir, Ferro Rodrigues falou num desafio para a próxima legislatura, após frisar que um dos princípios da revolução de Abril foi o combate às desigualdades.

“Que consigamos ser tão exigentes com os efeitos sociais das políticas públicas como somos quanto ao seu efeito econômico e financeiro, que além das várias instituições que zelam pelo rigor orçamental surjam no espaço público as vozes daqueles que têm menos voz, a voz dos mais pobres, a voz de todas as vítimas da discriminação social”, apontou.

Na sua intervenção, o presidente da Assembleia da República defendeu que o parlamento teve um papel central na vida política desta legislatura, mas também transmitiu várias advertências sobre “as novas vestes da extrema-direita”.

“Esta décima terceira legislatura ficou marcada pelo reforço do papel do parlamento no sistema de Governo português, marcada por uma centralidade parlamentar sem precedentes”, sustentou, antes de transmitir um conjunto de avisos.

“Não é aviltando o papel do parlamento e dos deputados que se avança, não é com mentiras e desinformação que se avança, mas sim com responsabilidade, respeito e dedicação à causa pública”, defendeu, insurgindo-se depois contra o “ultra nacionalismo, a xenofobia e as derivas autoritárias”.

“Falamos do ódio ao imigrante, às minorias, ao parlamentarismo democrático, falamos das novas vestes da velha extrema-direita, falamos da cultura do medo e da irracionalidade na política, falamos de perspetivas de violência nas ruas e de condicionamentos de opinião”, referiu.

Para o presidente da Assembleia da República, importa mesmo “não normalizar aquilo que não é normalizável”. “É mesmo de extrema-direita autoritária que estamos a falar – uma extrema-direita que quer dividir o mundo entre elites e massas, entre liberais e conservadores, entre cosmopolitas e patriotas”, advertiu.

Presidente pede “mais ambição”

Já o Presidente da República pediu “mais ambição” para resolver os problemas do país e dos “jovens de 2019”, um programa quase impossível em que é preciso garantir a economia a crescer e o endividamento a diminuir.

Marcelo Rebelo de Sousa fez um discurso de cerca de 20 minutos na sessão solene, em que comparou as ambições dos “jovens de 1974”, como ele, e os jovens de hoje, “os jovens de 2019”.

Para o Presidente da República, é preciso “mais ambição no Portugal pós-colonial, mais ambição na democracia, mais ambição na demografia, mais ambição na coesão, mais ambição na era digital e mais ambição na antecipação do futuro do emprego e do trabalho”.

“Mais ambição na luta por um mundo sustentável”, concluiu. Estes objetivos têm que ser conseguidos, afirmou, “com a economia a crescer, com dependência pelo endividamento a diminuir, sensatez financeira a salvaguardar, com acrescida justiça a repartir”.

“Parece um programa impossível? Talvez, mas a História faz-se sempre de programas, ideais, de sonhos impossíveis. Portugal é uma pátria que nasceu impossível, mas uma impossibilidade com quase 900 anos. Porque haveriam de ser as gerações de hoje as primeiras a renunciar ao impossível?”, afirmou, já a finalizar o seu quarto discurso, como Presidente, na sessão solene do 25 de Abril, na Assembleia da República.

“Porque haveríamos de ser nós a não acreditar em Portugal?”, questionou ainda. Os “jovens de 2019 querem respostas inequívocas para algumas perguntas urgentes”, acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa começou sempre cada frase a perguntar “quando e como” vai Portugal querer “ser uma sociedade a rejuvenescer”, pelos que “nascem e pelos que recebe de fora”, os imigrantes, ou se vão esbater “mesmo as desigualdades que ainda existem”.

“Desigualdades que ainda existem, que continuam a minar a nossa coesão, entre pessoas, entre grupos e territórios, que atrasam o desenvolvimento, juntam novos pobres aos velhos pobres”, exemplificou.

É preciso, aconselhou, que se antecipe “o que aí vem nesta era da revolução digital”, no emprego e no trabalho, face a “mutações que, em cinco, dez anos, vão mudar os sistemas produtivos” e que podem “dispensar pessoas ou rearrumá-las” nas suas atividades.

No final, aplaudiram de pé as bancadas do PSD, do PS e do CDS-PP, enquanto PCP, BE e PEV optaram por ficar sentados, sem aplaudir.

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