Em Bruxelas, o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, instou a União Europeia a “usar a capacidade de argumentação para convencer” o Presidente norte-americano, Donald Trump, a não impor taxas aduaneiras ao bloco comunitário, dado não ser “uma boa decisão para ninguém”.
“Nós, na Europa, temos consciência de que essa decisão, a ser tomada, não será uma boa decisão para ninguém e é preciso também dizer isto e é preciso usar a capacidade de argumentação para convencer precisamente a administração americana a não ir por esse caminho”, disse Luís Montenegro.
Falando em Bruxelas à margem do primeiro retiro de líderes da União Europeia (UE), iniciativa criada para debates mais informais entre os chefes de Governo e de Estado europeus e dedicada à área da segurança e defesa, o primeiro-ministro português apontou que esse seria “um caminho que vai levar à inflação, vai levar ao aumento dos preços, dos preços que se vão praticar na indústria e no mercado americano e que também vão estar, naturalmente, na esfera europeia”.
Numa altura em que Donald Trump ameaça a UE com novas tarifas aduaneiras, o chefe de Governo português garantiu que “a Europa não deixará de ter, em primeiro lugar, como prioridade, o diálogo político com a administração americana”.
“É isso que nós temos defendido, é isso que eu tenho defendido também nas reuniões do Conselho, [que] é prioritário estabelecer um diálogo que possa evitar [esse cenário]”, adiantou Luís Montenegro, assegurando que a relação comercial transatlântica ainda está numa “boa fase” e que “é possível” mantê-la.
“Estamos atentos e a Europa terá de ter uma resposta, que não pode ser de retaliação, mas de adaptação a uma nova realidade”, mas antes um “ataque de sensibilização”, concluiu.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que os produtos europeus vão ser sujeitos a taxas aduaneiras “muito em breve”, na sequência da imposição de tarifas à importação de produtos do Canadá, México e China.
“Estão realmente a aproveitar-se de nós, temos um défice de 300 mil milhões de dólares [293 mil milhões de euros]. Não levam os nossos automóveis nem os nossos produtos agrícolas, praticamente nada, e todos nós compramos, milhões de automóveis, níveis enormes de produtos agrícolas”, disse no domingo à imprensa.
A Comissão Europeia, que detém a competência da política comercial na União Europeia, lamentou no mesmo dia o aumento das taxas aduaneiras pelos Estados Unidos da América sobre produtos do Canadá, do México e da China, e disse que vai retaliar fortemente se for alvo de tarifas injustas.
A instituição garantiu que, se o bloco europeu for também alvo dessas medidas, o executivo comunitário vai retaliar. “Essas tarifas aumentam os custos das empresas, prejudicam os trabalhadores e os consumidores, criam perturbações econômicas desnecessárias e provocam inflação”, referiu ainda a presidente da Comissão Ursula von der Leyen, acrescentando que a UE “não vê nada de bom nesta situação”.
Também o presidente do Conselho Europeu, António Costa, defendeu hoje que os Estados Unidos “são amigos” da União Europeia (UE) e que “também entre amigos podem surgir problemas”, razão pela qual devem ser encontradas soluções, face às ameaças comerciais.
“Os Estados Unidos são nossos amigos, nossos aliados e nossos parceiros e também entre amigos podem surgir problemas e diferenças de opinião, [mas] quando isso acontece temos de os abordar, de falar e de encontrar soluções”, disse António Costa.
Discursando no final da Conferência dos Embaixadores da UE sobre “A política externa europeia que dá resultados”, em Bruxelas, o presidente do Conselho Europeu apontou que os blocos europeu e norte-americano “têm sido pilares da ordem baseada em regras, respeitando a soberania nacional, a integridade territorial, a estabilidade das fronteiras e a Carta das Nações Unidas”.
“A União Europeia defenderá o respeito universal do Direito internacional e da ordem assente em regras em todo o lado”, apontou, numa alusão às investidas do Presidente norte-americano, Donald Trump, sobre a Gronelândia, um território autónomo gerido pela Dinamarca.
O encontro surgiu numa altura em que Donald Trump reivindica um maior acesso ao Ártico e manifesta interesse em adquirir a Gronelândia, possibilidade que os líderes da UE rejeitam.