Papa: Quatro portugueses vão ajudar a escolher o novo líder da Igreja Católica

Portugal tem, pela primeira vez desde que o colégio cardinalício foi criado, quatro cardeais eleitores no conclave que irá escolher o sucessor de Francisco.

Além dos quatro cardeais eleitores portugueses – António Marto, Américo Aguiar, Manuel Clemente e Tolentino de Mendonça – existem outros nove lusófonos: sete brasileiros, um cabo-verdiano e um timorense.

O sucessor do Papa Francisco será eleito pelo Conclave de cardeais menos europeu e menos italiano de sempre, um sinal das mudanças na Igreja Católica, mas também do dinamismo religioso de outras geografias em comparação com o velho continente. No total, o colégio cardinalício tem 252 elementos, 135 dos quais são eleitores (com menos de 80 anos).

Nos últimos anos, assumindo-se como o Papa das periferias, Francisco nomeou vários cardeais de países tão diversos como Austrália, Chile, Peru, Sérvia, Japão, Indonésia, Irão, Canadá, Costa do Marfim ou Argélia.

O colégio atual é também feito à imagem da renovação promovida por Francisco: dos 137 cardeais eleitores, 108 (80%) foram escolhidos por si, um sinal de que a sua sucessão será marcada pelo seu carisma.

A Europa tem 53 cardeais eleitores (39% do universo eleitoral), um número muito abaixo do habitual nos colégios anteriores.

Portugueses

O mais velho dos quatro cardeais eleitores portugueses, António Augusto dos Santos Marto, foi bispo de Viseu e de Leiria-Fátima, onde presidiu às celebrações dos cem anos das aparições marianas da Cova da Iria.

O flaviense, nascido em 1947, foi ordenado sacerdote em Roma, em 1971, onde continuou os estudos, concluindo o doutoramento seis anos depois, com a tese “Esperança cristã e futuro do homem. Doutrina do Concílio Vaticano II”.

Muito ligado aos movimentos estudantis e operários católicos, chegou a trabalhar em fábricas antes do 25 de Abril e manteve uma forte ligação aos emigrantes portugueses.

Depois de ter sido professor na Universidade Católica Portuguesa e pároco em vários locais da Diocese do Porto, foi nomeado bispo auxiliar de Braga em 2000.

Quatro anos depois, foi nomeado responsável diocesano de Viseu e foi um dos dois bispos portugueses presentes no Sínodo dos Bispos, no ano seguinte.

Em 2006, substituiu Serafim Ferreira e Silva como bispo de Leiria-Fátima, cargo que lhe deu grande visibilidade, tendo sido anfitrião na visita de dois papas, Bento XVI (2010) e Francisco (2017).

No trabalho pastoral a partir de Fátima, valorizou temas como o ambiente e a paz, procurando atualizar a mensagem mariana de 1917.

Após a celebração dos cem anos das aparições, em 2018, foi elevado a cardeal por Francisco e veio a deixar a diocese em 2022, por limite de idade.

Américo Aguiar é o mais novo cardeal português, de apenas 51 anos, tendo sido elevado pelo Papa Francisco há dois anos, logo após a Jornada Mundial da Juventude, organização a que presidiu.

Nascido em Leça, Matosinhos, Américo Aguiar foi ordenado padre aos 27 anos e bispo aos 47 anos, como auxiliar do Patriarcado de Lisboa.

E foi na qualidade de bispo auxiliar que exerceu as funções de presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, a entidade que organizou o encontro magno dos jovens católicos em Lisboa, entre 01 e 06 de agosto de 2023.

Semanas antes da JMJ, o Papa anunciou que Américo Aguiar seria elevado a cardeal, tendo sido nomeado responsável pela Diocese de Setúbal em setembro de 2023.

O cardeal Manuel Clemente foi uma das primeiras nomeações de Francisco que, poucas semanas depois de ter sido eleito, o transferiu da diocese do Porto para o Patriarcado de Lisboa, sucedendo a José da Cruz Policarpo, já então gravemente doente.

Nascido em Torres Vedras em 1948, foi o mais velho dos quatro cardeais a chegar a sacerdote, aos 31 anos, já depois de se ter licenciado em História, tendo-se doutorado em Teologia Histórica.

Desempenhou cargos nas paróquias do Oeste, até assumir funções no Seminário dos Olivais, onde chegou a reitor, antes de ser nomeado bispo auxiliar.

Em paralelo, a sua carreira está muito ligada ao movimento escuteiro, participando em retiros e acampamentos nacionais até há poucos anos.

O seu trabalho sobre os movimentos sociais católicos em Portugal e a coordenação de vários projetos de investigação histórica, como “Igreja e Sociedade Portuguesa, do Liberalismo à República”, renderam-lhe o prêmio Pessoa, quando ainda estava à frente da Diocese do Porto, para onde foi depois de ter estado vários anos como auxiliar de Lisboa.

O madeirense José Tolentino de Mendonça é o atual prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação. Poeta galardoado com o prémio Pessoa em 2023, ensaísta, dramaturgo, académico e teólogo, foi elevado a cardeal em 2019.

Nascido em 1965 em Machico, Madeira, viveu em Angola até aos nove anos e foi ordenado padre em 1990 pela Diocese do Funchal, concluindo o mestrado em Ciências Bíblicas em 1992 e obtendo o grau de doutor em 2004, em Teologia Bíblica pela Universidade Católica Portuguesa, onde lecionou quando foi viver para Lisboa.

Em 2010 foi nomeado reitor da Capela do Rato, um local de prestígio do Patriarcado de Lisboa, um trabalho que conciliou com a carreira de docente universitário – foi vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa – e escritor, com vasta obra publicada.

Em 2011, foi para Roma, a convite de Bento XVI, que o nomeou consultor do Conselho Pontifício para a Cultura e, em 2018, já com Francisco, foi elevado a bispo, subindo a cardeal no ano seguinte.

Cardeais eleitores brasileiros

Atual presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano, o franciscano Jaime Spengler (64 anos), elevado a cardeal por Francisco, é arcebispo de Porto Alegre e considerado um dirigente progressista, ocupando a liderança da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Elevado a cardeal por Bento XVI, João Braz de Aviz nasceu no sul do Brasil há 77 anos, foi arcebispo de Brasília e prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica no Vaticano, sendo considerado um purpurado progressista, defensor da teologia da libertação, uma doutrina condenada pelo Vaticano na década de 1980 e 1990.

Elevado a cardeal há três anos, o franciscano Leonardo Ulrich Steiner é arcebispo de Manaus e é formado em filosofia e pedagogia, ocupando ainda cargos nas estruturas missionárias junto dos indígenas da Amazónia.

Odilo Pedro Scherer, 75 anos, era visto como um dos nomes mais fortes da América Latina para suceder a Bento XVI, em 2013. Hoje mantém-se como responsável pela arquidiocese de São Paulo, cargo a que pediu renúncia, ainda não aceite por Francisco.

Orani Tempesta é o único cardeal cisterciense do conclave. Atual arcebispo do Rio de Janeiro, depois de ter ocupado função semelhante em Belém, estado do Pará, é cardeal desde 2014, tendo sido o anfitrião do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude de 2013.

Elevado a cardeal por Francisco, Paulo Cezar Costa (57 anos) é o atual arcebispo de Brasília, sucedendo ao também purpurado Sérgio da Rocha, tendo sido anteriormente titular de São Carlos (estado de São Paulo).

Com 65 anos, Sérgio da Rocha é o único lusófono do Conselho de Cardeais – um órgão consultor de Francisco no projeto de revisão da Cúria Romana – e lidera a diocese de São Salvador da Bahia, função que o eleva à condição de Primaz do Brasil.

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