Por Eulália Moreno
Para Mundo Lusíada
Foi no domingo, dia 14 de Agosto, dia em que também se comemora no Brasil o Dia dos Pais, que a Casa Ilha da Madeira reuniu a Comunidade em torno das comemorações do dia da padroeira, Nossa Senhora do Monte.
O evento mais significativo do calendário religioso da associação reuniu não apenas madeirenses, mas também um grande número de interessados que escolheram a Casa Ilha da Madeira para passar um dia festivo, desfrutar de uma gastronomia de qualidade e conviver num ambiente de alegria e hospitalidade. Sempre oportuno referir que a cada festa, o número de presentes é maior. Faça chuva ou faça sol.
Dando início as festividades apresentou-se o Trio Pegada que há 30 anos se apresenta nas noites paulistanas. Luisão na percussão e vocal, Roberto no contrabaixo e Paulinho no violão e vocal apresentaram um repertório com músicas, dentre outros, de Adoniran Barbosa, Nelson Cavaquinho e Cartola. “Que pena não termos tido tempo para ensaiar algumas músicas portuguesas, fica prometido para a próxima vez”, lamentou Luisão adiantando que no próximo mês de setembro o trio se apresentará no Bar Brahma da capital.
Num altar instalado no palco teve início a cerimônia litúrgica celebrada pelo padre Edmundo da Mata, pároco no Jardim São Luis, zona sul da capital com uma especial evocação pelo Dia dos Pais saudando os presentes e aqueles outros que, segundo ele, “estão num plano superior e protegidos das tristezas e amarguras da vida terrena”. Uma sessão de fogos anunciou o início da procissão precedida pelos anjinhos e com os andores lindamente decorados de Nossa Senhora do Monte e de Nossa Senhora de Fátima. Vários devotos e devotas, alguns no cumprimento de promessas, se revezaram no transporte dos andores que percorreram o recinto seguidos pelos presentes que entoavam os cânticos em conjunto com a Tocata do Grupo Folclórico Infanto Juvenil da Casa Ilha da Madeira.
Dentre os presentes mais emocionados estava o Irmão Inácio, missionário da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, natural da freguesia de São Jorge, Concelho de Santana, Distrito do Funchal. Desde Janeiro em São Paulo, pela primeira vez visitando a Casa Ilha da Madeira porque, segundo ele, precisava “sentir a sua terra num dia tão festivo”. “Estou impressionado com a presença madeirense nesta cidade, com as várias atividades que a Casa desenvolve. Teria apreciado cânticos madeirenses durante a celebração litúrgica, a procissão foi emocionante, mas (e os seus olhos muito azuis enchem-se de lágrimas), senti falta do tapete de flores”. Informado da presença do Irmão Inácio, o presidente da Casa, José Manuel Bettencourt, chamou-o para junto do palco e o apresentou a Comunidade exaltando os grandes serviços prestados pelo religioso no âmbito do tratamento de doentes mensais. “Vocês podem ter certeza de que é missão para poucos, para uma pessoa dentre um milhão, portanto temos de nos sentir orgulhosos por este madeirense que faz esse trabalho em terras brasileiras”. Irmão Inácio agradeceu e para a alegria de todos, ainda brindou os presentes cantando algumas músicas populares da Ilha da Madeira.
As sempre aguardadas apresentações dos Grupos Folclóricos Infanto Juvenil e Adulto da Casa foram muito aplaudidas e a noite já caía quando o convidado Grupo Folclórico Amigos da Casa de Viseu do Rio de Janeiro de São Paulo se apresentou para encerrar as solenidades em louvor de Nossa Senhora do Monte.
O próximo evento da Casa Ilha da Madeira será a 25 de Setembro, com a Festa da Primavera.
Nossa Senhora do Monte, rogai por nós
O dia 15 de Agosto é para todos os Madeirenses, onde quer que estejam, o dia de Nossa Senhora do Monte, uma Senhora “cheia de vontades” que, segundo a lenda, conversava com uma pastora, escolheu sempre onde queria ficar e resistiu aos corsários e aos espanhóis.
Quando a pratas da Sé, da Igreja de Santa Clara e de outras igrejas foram roubadas os corsários também levaram a imagem da Senhora do Monte mas ao perceberem que ela não era tão valiosa, atiraram-na ao chão. O degrau de basalto quebrou com o impacto mas a imagem permaneceu intacta. Anos depois, os espanhóis roubaram a imagem mas ao chegarem ao barco, a imagem teria desaparecido e voltado a aparecer na Igreja do Monte.
A primitiva Capela da Encarnação foi construída em 1470 por Adão Gonçalves Ferreira, o primeiro homem a nascer na Ilha da Madeira, filho de um companheiro de João Gonçalves Zarco, povoador e administrador da Ilha. A igreja atual, data de 1741, foi parcialmente destruída por um terremoto em 1748 e reconstruída em 1818. Situa-se a 598 metros da altura do mar e tem 68 degraus em pedra. No seu altar mor está a imagem de Nossa Senhora do Monte e na capela lateral o túmulo de Carlos de Habsburgo, Carlos I, imperador da Áustria e rei da Hungria. Num dia de primavera de 1922, nessa mesma igreja 30 mil pessoas assistiram ao funeral de um rei de 34 anos que morreu de pneumonia, pobre e exilado na Ilha da Madeira onde viveu os cinco últimos meses da sua vida.
Pelos altos da cidade do Funchal a tradição que atravessou séculos junta romeiros de todos os cantos e recantos da Ilha e para as Comunidades Madeirenses na Diáspora. Nossa Senhora do Monte é a sua referência cristã. A ela fazem-se promessas e o seu culto mantém a esperança de muita gente.