Em meio à crescente internacionalização de negócios, Luiz Filho analisa como Portugal se tornou um dos destinos preferidos dos empreendedores brasileiros em busca de novas oportunidades, estabilidade e conexão cultural.
BRANDING, CONSUMO E NEGÓCIOS
Por Luiz Filho
Nos últimos anos, Portugal tem se consolidado como um dos principais destinos para empreendedores brasileiros em busca de novas oportunidades de negócios, estabilidade econômica e afinidade cultural. A combinação de políticas públicas voltadas à inovação, programas de incentivo ao investimento estrangeiro e a presença de uma comunidade brasileira numerosa tem impulsionado esse fluxo de internacionalização de iniciativas e talentos.
Segundo dados atualizados de setembro de 2024, divulgados pelo governo português e repercutidos pelo jornal O Globo, o número de brasileiros residentes em Portugal já ultrapassa os 600 mil, representando mais de um terço da população estrangeira no país. Esse crescimento contínuo sinaliza uma transformação no perfil do imigrante brasileiro. Se antes o foco era apenas na busca por qualidade de vida, agora muitos chegam com planos de negócios estruturados, visão estratégica e interesse real em participar do ecossistema empreendedor europeu.
Os setores que mais atraem esses novos empreendedores são variados e refletem tanto tendências globais quanto as conexões afetivas com o Brasil. Startups brasileiras da área de tecnologia têm utilizado Portugal como porta de entrada para o mercado europeu, aproveitando programas como o Startup Visa, que oferece facilidades de visto e apoio institucional a fundadores estrangeiros. Ao mesmo tempo, negócios ligados à gastronomia e à cultura brasileira têm florescido em cidades como Lisboa, Porto e Braga, atraindo tanto o público imigrante quanto portugueses interessados em experimentar sabores tropicais e vivências multiculturais.
A escolha por Portugal, além da língua e da proximidade histórica, também se dá por razões práticas. O país tem buscado se posicionar como hub de inovação na Europa e promove iniciativas consistentes para atrair investimento estrangeiro. O programa Startup Portugal, o apoio de aceleradoras locais e uma legislação empresarial menos volátil do que a brasileira criam um cenário relativamente estável para quem deseja iniciar um negócio. Ainda assim, os desafios não são pequenos. Apesar da boa receptividade e do ambiente seguro, há uma burocracia inicial que exige atenção, especialmente para os brasileiros que não dominam a legislação local. Questões como abertura de empresa, tributação, licenças e contratação exigem preparação e, muitas vezes, o suporte de especialistas. O ritmo de negócios também pode surpreender: mais conservador e menos imediato do que o brasileiro, ele impõe uma curva de adaptação àqueles acostumados com informalidade e velocidade nos processos.
Outro fator de atenção é o aumento da concorrência em setores populares entre os brasileiros, como cafés, padarias e restaurantes. O sucesso de muitos negócios nesses segmentos inspirou novas iniciativas, mas também elevou a exigência por diferenciação, sofisticação e atendimento de alto nível. Empreender em Portugal exige mais do que entusiasmo: requer estudo de mercado, flexibilidade cultural e capacidade de adaptação a novos códigos de consumo e convivência.
Ao mesmo tempo, esse movimento não se resume apenas a oportunidades financeiras. Há um componente simbólico e afetivo importante. Muitos negócios criados por brasileiros buscam também manter vivas referências culturais, afetivas e sensoriais. Isso se expressa no marketing adotado, que muitas vezes recorre à estética tropical, à linguagem informal, à música popular brasileira e à narrativa da saudade como elementos de conexão emocional. Essas estratégias têm se mostrado eficazes para fidelizar o público, criar vínculos com a comunidade e fortalecer o posicionamento de marca num mercado competitivo, mas aberto à diversidade.
Ainda que nem todas as iniciativas sejam bem-sucedidas, o saldo geral é promissor. O crescimento da presença empresarial brasileira em Portugal revela um novo tipo de relação entre os dois países, marcada por parceria estratégica e intercâmbio de competências. Em vez de apenas migrar, esses brasileiros constroem pontes, redesenham fronteiras e costuram novas possibilidades de pertencimento e prosperidade. Portugal, por sua vez, tem respondido com abertura, reconhecendo o valor desse capital humano criativo, resiliente e ambicioso.
Seja no centro histórico de Lisboa, nas incubadoras tecnológicas do Porto ou nos bairros vibrantes de Braga, o que se observa é uma geração de empreendedores brasileiros que não apenas sonha com a Europa, mas que age, investe e transforma esse sonho em plano. São profissionais que enxergam Portugal não apenas como destino, mas como projeto. E, cada vez mais, como realidade concreta.
Por Luiz Filho
Publicitário, especialista em Negócios e Marketing, com 25 anos de experiência em definição de estratégias e métodos de comercialização para mercados B2B e B2C, análise de produtos, serviços e ações 360º. Atualmente, atua como Consultor On Demand, desenvolvendo ações inovadoras e estabelecendo parcerias comerciais, pela Wixi Marketing.