Ministra portuguesa participa de evento científico e discute cooperação com ministra do Brasil

Da Redação

A ministra brasileira da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, ao lado da Ministra de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal, Elvira Fortunato, acompanhadas pelo embaixador de Portugal, Luis Faro Ramos, cumpriram um dia inteiro de agenda voltada à pesquisa e à educação superior em Alagoas, no último dia 2.

A ministra Luciana Santos, no evento XXI B-MRS Meeting, encontro internacional da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais, defendeu a importância das áreas de materiais avançados e nanotecnologia para o desenvolvimento do país e avaliou que desafios globais só serão enfrentados com cooperação internacional em ciência, tecnologia e inovação.

“Os materiais avançados e a nanotecnologia – áreas disruptivas e portadoras de futuro – são fundamentais para a consolidação do ecossistema de inovação, para a capacitação de recursos humanos e a maior interação entre academia e indústria”, disse a ministra, destacando que, há mais de duas décadas, o Brasil desenvolve iniciativas relacionados a esse tema.

Como exemplo, ela citou a Iniciativa Brasileira de Nanotecnologia que tem o objetivo de integrar e fortalecer as ações governamentais para promover a inovação na indústria brasileira. “No âmbito desse programa guarda-chuva, os investimentos públicos no Sistema Nacional de Laboratórios em Nanotecnologias alcançaram R$ 98 milhões nos últimos dez anos, e estamos trabalhando para viabilizar um terceiro ciclo de investimentos”, antecipou.

Ao lado da ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal, Elvira Fortunato, Luciana Santos lembrou as áreas de materiais avançados e nanotecnologia fazem parte da cooperação científica com Portugal. E defendeu uma atuação conjunta entre países para solucionar problemas comuns.

“Vivemos uma conjuntura internacional marcada pelo enfrentamento a problemas globais, como eventos climáticos extremos, escassez hídrica, elevação do nível dos oceanos, emergências em saúde e insegurança alimentar. Esses desafios não reconhecem fronteiras e só serão solucionados com a cooperação internacional em ciência, tecnologia e inovação”, afirmou.

Já a ministra Elvira Fortunato ressaltou que Brasil e Portugal estão aprofundando os laços de colaboração institucional e de amizade que mantêm há muitos anos e têm contribuído para a ciência e o ensino superior em ambas as nações. “A parceria entre Portugal e Brasil é pautada por uma colaboração crescente. Temos em curso vários projetos em diversas áreas, como física, tecnologias quânticas, biomedicina, espaço, cultura científica, entre outras”, disse.

“Estes laços podem e devem ser reforçados. Em Portugal, tal como no Brasil, acreditamos que o desenvolvimento da ciência se faz para além dos muros e portão de instituições acadêmicas. É possível e desejável estabelecer relações de trabalho conjunto entre ensino superior, ciência, indústria e empresas. A área de materiais é um exemplo de como essas parcerias podem ser bastante profícuas”.

Os gestores discutiram sobre oportunidades de financiamento e cooperação científica entre Brasil e Portugal. A plateia, além de brasileiros e portugueses, foi composta por químicos, físicos e engenheiros da Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Índia e Itália, em sua maioria.

“Pelo menos 26 instituições de ensino superior portuguesas têm acordos ou protocolos de cooperação bilateral com instituições do Brasil. No ano letivo de 22-23, quase 19 mil cidadãos brasileiros estavam inscritos no ensino superior português”, apontou Elvira Fortunato.

Da mesa redonda, participaram ainda a presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat), Mônica Cotta, e o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal), Fábio Guedes. O reitor Josealdo Tonholo prestigiou a participação das ministras na mesa redonda, no evento científico internacional organizado pela Ufal, com coordenação dos professores Carlos Jacinto, do Instituto de Física e Mário Meneguetti, do Instituto de Química.

O XXI B-MRS Meeting reuniu até 5 de outubro, pesquisadores e estudantes de 38 países e de todas as regiões do Brasil para discutir avanços no estudo e desenvolvimento dos mais diversos materiais e suas possíveis aplicações no dia-a-dia das pessoas.

Bilateral

Logo após o encontro internacional, as ministras do Brasil e de Portugal realizaram reunião bilateral para discutir ações já em curso, em áreas como nanotecnologia, saúde, espaço e popularização da ciência.

Luciana Santos apresentou uma série de projetos estratégicos para o Brasil, como o Conecta e Capacita, o laboratório NB4, o acelerador de partículas Sirius, o Reator Multipropósito e o Pró-Infra, todos incluídos no Novo Programa de Aceleração do Crescimento. Elvira Fortunato, por sua vez, sublinhou que seu país tem interesse em ampliar a cooperação bilateral na área de semicondutores.

As ministras falaram ainda sobre a preparação para a próxima Cimeira Brasil-Portugal, marcada para acontecer em 2024 no Brasil. Luciana Santos convidou a ministra portuguesa para conhecer as atividades da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, de 14 a 22 de outubro, e, em 2024, participar do evento, com um estande mostrando as oportunidades para estudantes e pesquisadores brasileiros no país europeu.

“Há uma disposição e uma vontade política do presidente Lula e do primeiro-ministro de Portugal de ampliar as nossas cooperações, seja na área de nanotecnologia, seja na área espacial ou de semicondutores. Nós temos uma próxima cúpula, no ano que vem, e até lá vamos fazer um grupo de trabalho preparativo para que essa nossa cooperação se intensifique, com troca de experiência, de conhecimento e parcerias, para apontar boas soluções”, disse Luciana Santos.

A ministra portuguesa detalhou o andamento da cooperação. “Este ano, em Portugal, na Cimeira Luso-Brasileira, assinamos dois memorandos de entendimento, e parte da reunião que tivemos hoje foi exatamente para ver qual o desenvolvimento. Um deles foi na área da saúde, que está em desenvolvimento. O outro é na área de espaço, na parte dos satélites. O que queremos aqui é reforçar os laços que estes dois países têm já há muito tempo, em especial na área da ciência e da tecnologia.”

Alagoas

Na agenda em Maceió, as ministras, o embaixador e o reitor foram recebidos pelo governador do Estado e pelo secretário estadual da CT&I, Silvio Bulhões, momento que Luciana Santos anunciou R$12,2 milhões para o próximo edital de inovação Secti/Fapeal, o Tecnova AL III. R$10 milhões são aporte do MCTI, através da Financiadora de Estudos e Projeto (Finep), mais R$2 milhões de contrapartida em recursos exclusivamente do Governo de Alagoas, além da inauguração de uma sede da Empresa Brasileira de Pesquisa de Inovação Industrial, Embrapii.

A comitiva seguiu para uma visita à sede da Fapeal, onde fica abrigado o Ponto de Presença de Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (PoP-AL RNP). Isto se deve ao anúncio de uma nova infovia para a internet acadêmica de alta velocidade em Alagoas, trazendo mais mil quilômetros de conectividade em banda larga para os campi de todo o estado, em até 15 municípios, a partir de um investimento de R$8 milhões, anunciados por Luciana Santos.

A visita foi concluída no Centro de Inovação de Jaraguá, espaço gerido pela Secti, onde funciona o primeiro co-working público 24 horas do Brasil, e um hub de empresas inovadoras alagoanas. Houve também cerimônia para credenciamento do EDGE, do Instituto de Computação da Ufal, como integrante da rede Embrapii, com unidade de computação industrial, coroando uma atuação que começou em 2020.

Josealdo Tonholo chamou a atenção para o progresso do ecossistema de inovação alagoano, “uma revolução que é silenciosa, mas está fazendo a diferença, com gente muito bem posicionada, gente que faz a diferença também no outro lado, na universidade, que tinha um índice de evasão muito grande. Hoje, tem gente trabalhando nesses projetos. Não evade mais, fica no curso e dá qualidade. Acho que essa transformação pela educação é real e a gente está vivendo isso aqui em Alagoas. Eu vejo as coisas acontecendo aqui de uma forma diferente, e para o bem”, comentou.

Sobre as perspectivas para a ciência no estado, o professor Fábio Guedes declarou: “O que queremos fazer do estado de Alagoas? Um sistema de Ciência e Tecnologia que atraia pessoas para estudar aqui, e não necessariamente a gente exportar gente; atrair para cá com bolsas e com um sistema de qualidade, e tendo a Fundação de Amparo à Pesquisa”, observou o economista.

 

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