O Clube e o Vale Encantado: 36 anos de Arouca São Paulo Clube

A comemoração do 36º aniversário da entidade do Arouca São Paulo Clube é uma celebração à vida, pois que um aniversário é um momento de especial significado e este ainda mais, por ser uma efeméride tríplice!

Primeiro porque são os 36 anos desta entidade, portanto, chamamos de Jubileu.

Pensamos na sua origem, na cidade de São Paulo, fundada por Portugueses, pelo Padre Manuel da Nóbrega, em 1554, quando era apenas uma pequena Vila que por muito tempo assim ficou. Até que se desenvolve e cresce exponencialmente no final do século XIX com o rico Ciclo Cafeeiro e mais com o início da Industrialização no século XX.

São Paulo, então, recebe uma grande quantidade de imigrantes portugueses, que se organizando entre si, criam grandes entidades associativas, como a Câmara de Comércio em 1912, o Clube Português e a Portuguesa em 1920 e depois, na década de 30, o Centro Trasmontano, a antiga Casa do Minho e a Casa de Portugal.

Passado um largo tempo sem o surgimento de novas associações, por conta do período com pouca imigração, somente com pós-guerra vem uma nova onda de imigrantes portugueses, criando-se em 1979 a entidade Arouca São Paulo Clube.

Esta também ganha destaque por ser uma entidade regional, sendo uma nova fase das associações de portugueses em São Paulo, pois que já tínhamos a Casa da Ilha da Madeira e, depois do Arouca, nasce a Casa dos Açores, o Conselho da Comunidade Luso Brasileira, os Poveiros, o Brunhosinho, os  Gebelinenses e a nova Casa do Minho, entre outras.

E por que o Arouca é criado em 1979?

Quando da visita de um querido conterrâneo arouquese, em setembro de 1978, recebido por seus familiares e amigos, estes formam uma comitiva para conhecer no Rio de Janeiro o Arouca Barra Clube e, na volta a São Paulo, a semente estava lançada. A ideia de fundar um Clube que reunisse toda a gente da região de Arouca, aglutinando um grupo destes, faz surgir em 08 de março de 1979 a entidade.

Sendo referencia em capacidade de mobilização, com muito trabalho e dedicação, logo no primeiro ano de sua fundação já compraram o terreno da sede própria e, num verdadeiro mutirão foram crescendo rapidamente. Fizeram a terraplanagem, a construção do Salão Cabral, o parque aquático, o Salão Arouquense, a Capela, tudo em menos de 10 anos. Ao longo dos anos sempre se modernizando e construindo novas estruturas.

No ano passado, completando seus 35 anos de fundação, tiveram a ilustre  presença do Presidente do Concelho de Arouca, Sr. José Artur Tavares Neves.

Neste momento, no ano da graça de dois mil e quinze, agora 36 anos de idade, que comparada à idade de uma pessoa, é considerado prenúncio de sua “meia-idade”, é uma nova fase da vida tida pelos pesquisadores da alma “a mais feliz”. E é assim, imbuídos neste espírito, que todos desejamos ao Arouca São Paulo Clube mais felicidade em seu jubileu de 36 anos.

Porém, não esqueçamos que é uma comemoração tríplice, vez que não se trata somente do jubileu da entidade, mas, agora também comemoramos os 36 anos de dedicação das pessoas que a fundaram e aqui ainda estão, vivos, podendo comemorar com seus descendentes, celebrando as bodas de dedicação e vivência ao clube e estejam celebrando com trinta e seis, trinta e cinco, vinte ou dez anos de dedicação, todos partilhando da mesma alegria.

Como eleito para falar desta comemoração, tenho pouco mais de um mês de história arouquense e já fui contagiado pela alegria de comemorar este momento, imaginem quem já dela participa desde a sua  “pedra fundamental”.

Estudando sobre o Arouca São Paulo Clube, entendendo sua origem e principalmente os motivos de sua criação, permito-me parafrasear o “Príncipe dos Poetas”, Guilherme de Almeida, quando dizia sobre São Paulo em sua Crônica Cosmópolis, que esta Cidade “é o resumo do mundo” e talvez por isso comporte tão bem o mundo arouquense.

Dizia, ainda, Guilherme de Almeida, aos épicos de 32, que estes dedicaram sua “Força e Fé” à revolução. Lembramos que os arouquenses que aqui estão também dedicaram toda sua força e fé a este Clube, podendo nós compararmos esta vivência às Bodas de um Casamento.

Voltando à tríplice comemoração deste dia 08 de março, temos que a primeira é o jubileu da entidade, a segundo as bodas deste casamento pessoal de cada um com ela, levando à reflexão de sua contribuição individual ao seu sucesso.

E a terceira comemoração?

É o mesmo dia 08 de março, por ser o Dia Internacional da Mulher, esta que é de suma importância em nossas vidas.

A referência direta à mulher está na Bandeira do Conselho de Arouca e no Brasão das Armas que ostenta o busto de uma mulher, rainha e santa – Rainha Santa Mafalda.

O Mosteiro de Arouca, que apesar de já existir desde o século X, somente se destaca após D. Mafalda, filha do Rei Dom Sancho I, vir no século XIII para lá, dedicando sua vida a este Mosteiro e trazendo esplendor para a Vila de Arouca, que continuou se desenvolvendo mesmo após sua morte, mantendo o prestígio do mosteiro, tendo fama de santa confirmada com sua Beatificação pelo Papa Pio VI, no século XVIII, sendo hoje a Padroeira do Conselho de Arouca.

Na literatura, há a já celebrizada expressão de Alexandre Herculano, citada nos Apontamentos de Viagens por Portugal quando,em 21 de julho de 1854, depois de partir de Vila Nova na madrugada e chegando lá ao fim da tarde, descreve: “torneia-se o monte e começa a descida para o Vale de Arouca, a encosta e o vale igualam em beleza a Sintra, e excedem-na na vastidão”.

Outros grandes poetas e escritores passaram por Arouca e também se encantaram com aquela “terra maravilhosa”. Dentre eles, Camilo Castelo Branco, Egas Munis, o próprio Alexandre Herculano, Miguel Torga e o Nobel, José Saramago.

Esses escritores, com seus olhares literários sobre “uma Arouca de impressionante beleza”, fez com que os considerássemos mais pintores que poetas, uma vez que a leitura pormenorizada dos seus textos remete-nos a viajar sobre vales e serras como obras de arte.

Talvez seja essa a razão porque Jaime Cortesão, contemplando este “reino encantado” que é Arouca, o tenha definido em poesia e comoção lhe chamando “A bela adormecida”. Ou seja, uma bela região, mas, esquecida pela nacionalidade. A região de Arouca precisa ser dinamizada e assim “rebrilhará no esplendor duma ressurreição gloriosa”.

Nesse caminho da valorização de Arouca, a Unesco, em 2009, reconheceu o Geoparque de Arouca como patrimônio geológico mundial da Humanidade. Uma área de 327 quilômetros quadrados, que tem particular importância pelo seu caráter científico, raridade, encanto estético e valor educacional, trazendo uma nova pujança para o turismo da região.

Assim, felicito e saúdo a todos por essas três efemérides: o Jubileu da entidade, as bodas de seus fundadores e de cada um com o clube e o Dia Internacional da Mulher.

Lembro-me quando era jovem de ter ganhado do meu avô, Antônio Pereira de Magalhães, um livro escrito pela avó dele, Maria Paes de Barros, chamado “No Tempo De Dantes”, com a carinhosa dedicatória: “Ao meu neto, lembrança de minha avó”. Entendi naquele gesto a importância da história de nossas origens e valorizar nossas raízes. Assim, peço encarecidamente aos filhos e netos, que estão nessa caminhada com os fundadores e abnegados desse clube, que se espelhem no testemunho vivo dos seus pais e avós, registrando e preservando a memória desta entidade e todo o encantamento que ela traz para a comunidade da Cidade de São Paulo.

Parabéns e viva o Arouca São Paulo Clube!

 

Por Ricardo Jacob de Magalhães Corrêa
Orador na Sessão Solene Comemorativa de 36 anos do Arouca São Paulo Clube em 06/03/2015. Professor, físico Licenciado pela USP, diretor do Conselho da Comunidade Luso Brasileira do Estado de São Paulo – CCLB, diretor da Casa de Portugal de São Paulo e diretor cultural da Associação das Indústrias de Panificação e Confeitaria de São Paulo  AIPAN/SAMPAPÃO.

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