Por Odair Sene
Na noite de 24 de julho, a Casa de Portugal de São Paulo promoveu mais um evento comemorativo aos 80 anos de sua fundação. Abertura do evento foi com um breve coquetel e depois show de fados. Desta vez esteve a fadista Cláudia Madeira, trasmontana que vive na cidade do Porto e que esteve no Brasil pela primeira vez.
Teve ainda uma participação especial da fadista brasileira Ciça Marinho, que é filha de portugueses e canta fados há décadas em São Paulo sendo uma das mais conceituadas do meio artístico luso brasileiro. As duas estavam acompanhadas esta noite pelos músicos: Sergio Borges na viola, do violonista baiano “Bonfim” e ainda do jovem Wallace Oliveira na guitarra portuguesa.
Na ausência do presidente da Casa de Portugal, Antonio dos Ramos, em viagem à Portugal, o vice Paulo Machado esteve no comando do evento chamado de “Recital de Fados e Outras Canções” que teve como destaque a fadista Cláudia Madeira, apresentada como sendo de família humilde de agricultores da cidade Peso da Régua, no coração do Vale do Douro em Portugal.
A menina costumava acompanhar os pais na vinha e, como distração passava o tempo a cantar fados, por incentivo dos pais, entendido por ela como uma “herança” porque aprendeu a cantar Amália Rodrigues, Fernando Farinha e o madeirense Max, mas sem instrumentos (porque não tinha). Assim foi até o ano de 2007 quando se profissionalizou. Participou de um concurso na RTP e ficou ali bem conhecida por levar o fado aos portugueses sendo a única, de 18 concorrentes a escolher cantar o fado: “e a partir dali percebi que era o que eu realmente queria, cantar o fado”.
Hoje, grávida de cinco meses de um menino (Eduardo) a cantora pretende aproveitar a parada que terá nos palcos por conta da gravidez para entrar em estúdio e gravar seu álbum “Caminho”, que faz alusão ao caminho que ela segue na vida (do fado). Caminho que já a levou bem além do que imaginava: França, Suíça, China (Xangai), Canadá, Estados Unidos e agora ao Brasil.
Atualmente morando no Porto, Cláudia Madeira disse é onde tem mais oportunidades do que em Lisboa, o mais tradicional centro do fado. “Em Lisboa eu seria apenas mais uma, já no Porto consigo marcar minha posição física como também online, então tenho ido a sítios onde jamais imaginei que iria”, disse ela com exclusividade ao Mundo Lusíada.
Nos últimos tempos percebeu-se claramente um aumento importante de artistas portugueses no Brasil. Cresceu o chamado intercâmbio cultural, especialmente com fadistas presentes em vários estados. Segundo a visitante, ao contrário do que sempre pensou, o brasileiro gosta sim de ouvir fados. “Temos muitos brasileiros a visitar Portugal e uma das coisas que procuram é o fado. Ouvem o fado nos restaurantes, em espetáculos, em salas de teatro, etc; portanto penso que o Brasil é enorme e as possibilidades de sucesso são fantásticas para muitos fadistas. Acho que para mim é uma porta que está a abrir na Casa de Portugal e eu vou aproveitar com certeza”.
Na entrevista dada ao Mundo Lusíada, Cláudia Madeira disse que ficou muito feliz com o fato de ter sido convidada e acrescentou: “isso quer dizer que meu trabalho foi visto, reconhecido e foi apreciado, depois tenho na platéia muita gente emigrada no Brasil há muitas décadas e muitos são da minha terra natal e isso é mais um orgulho porque essas pessoas saíram de suas casas para ouvirem o fado e também para verem uma conterrânea, assim cantamos com outra paixão e mais peso sobre os ombros”, referiu ela elogiando os músicos que estavam acompanhando, a Ciça Marinho, o jovem Wallace que toca guitarra portuguesa como poucos, o Sergio Borges e o baiano Bonfim, “muito talentosos, ou seja, o fado é mesmo patrimônio imaterial da humanidade e é de toda a gente”, disse.
O repertório escolhido foi de músicas originais da Cláudia Madeira, do trabalho “Fado Fora de Portas”, mas não só os originais dela como outros muito conhecidos do público como “Tudo isso é Fado”, e “Nem às Paredes Confesso” (de Amália Rodrigues), fazendo com isso que o público também se animasse a cantarolar junto. A noite foi bem descontraída.