10 Junho: Presidente defende melhores condições de voto para emigrantes e “mais aposta no mar”

“Nunca nos esqueçamos disto: somos uma pátria de emigrantes”, realçou Marcelo Rebelo


Mundo Lusíada com Lusa

Na Ilha da Madeira, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu melhores condições de voto para os emigrantes e “ainda mais aposta no mar” como espaço geoestratégico, definindo Portugal como um país universal e de emigração.

No seu discurso na cerimônia militar comemorativa do 10 de Junho, no Funchal, o chefe de Estado de Sousa afirmou: “Esta terra de emigração, de partida, impõe-nos que levemos mais longe o que nos liga às nossas comunidades dispersas pelo universo que tanto prestigiam Portugal”.

“É necessário prosseguir e melhorar o que já fizemos no ensino da língua de Camões, na proteção social, nas condições efetivas para que os passos enormes já dados no voto, desde os tempos em que se negava esse voto nas presidenciais, de modo a não se tenha de percorrer milhares de quilômetros para o exercer, que prossigamos e melhoremos o que já fizemos”, acrescentou.

Segundo o Presidente da República, “é necessário ultrapassar um estranho complexo” que por vezes se manifesta em Portugal, apesar da dimensão da sua emigração, que leva a uma recusa em “converter essa realidade em prioridade nacional”.

“Nunca nos esqueçamos disto: somos uma pátria de emigrantes”, realçou Marcelo Rebelo.

No início do seu discurso, perante a população concentrada na Avenida do Mar para assistir a esta cerimônia comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se à importância estratégica dos oceanos.

“Isto é Portugal: o Atlântico, os oceanos, o mar, um desafio nosso do futuro mais ainda do que do passado e do presente, que faz crescer o nosso espaço físico, que faz crescer o nosso espaço geoestratégico, que faz crescer o nosso universalismo, nação que somos o que somos por sermos universais, e por isso denominador comum, como tem demonstrado António Guterres como secretário-geral das Nações Unidas”, sustentou.

Dirigindo-se aos portugueses, Marcelo Rebelo de Sousa declarou: “Não serão as imensidades destes desafios que nos vão desviar do nosso futuro, que se desenganem os profetas da nossa decadência ou da nossa finitude. O mar exige mais de nós, que o assumamos em palavras, mas também em obras. É necessário reforçar a nossa estratégia de liderança nos oceanos, que se reforce com urgência”.

Segundo o chefe de Estado, Portugal deve fazer da conferência dos oceanos, de que será anfitrião, “um marco nesse caminho desde os mandatos de presidentes como António Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio ou Aníbal Cavaco Silva, sucessivos governos da República e regionais”.

“Que se faça, para nunca perdermos o rumo e a urgência desse rumo. Este 10 de Junho convida-nos a sermos melhores neste desafio fundamental para a nossa diferença no mundo”, apelou, insistindo numa “ainda mais aposta no mar”.

Imigrantes

Depois, o chefe de Estado falou da imigração, defendendo: “Não podemos querer para os nossos emigrantes aquilo que negamos aos migrantes dos outros por nós acolhidos, que nos dão natalidade que não temos, serviços básicos de que precisamos, contributos para a riqueza nacional de que carecemos”.

Marcelo Rebelo de Sousa frisou que tantos desses imigrantes ajudaram neste período de pandemia “a não parar setores inteiros como a construção civil”.

“Este 10 de Junho de 2021 é um dia apropriado para agradecermos aos nossos irmãos na nacionalidade que por esse globo criam Portugais, para agradecermos a esses outros irmãos de humanidade que nos são tão úteis para o que queremos pronto, mas não pelas nossas mãos, aquilo que realizam em Portugal”, considerou.

Marcelo Rebelo de Sousa descreveu a Região Autónoma da Madeira como uma “terra feita de chegadas, enraizamentos, criações e recriações, um arquipélago que se liga ao arquipélago que se liga ao arquipélago mais vasto que forma com os Açores e com o continente, mas tão diverso e tão enriquecedor do resto do todo nacional”, com “gente corajosa, desbravadora, resistente”, que faz valer “a sua justa e intrépida autonomia”.

O Presidente da República assinalou que aqui nasceu “o melhor do mundo no desporto”, numa alusão a Cristiano Ronaldo, e daqui “tantas e tantos partiram para novos mundos espalhados pelos cinco cantos, da Venezuela à África do Sul”, alguns dos quais “têm de regressar em épocas de aflição, para ganharem fôlego, esperando o reembarque para refazerem as vidas que o destino tinha desfeito”.

Fundos europeus

O Presidente apelou ainda no seu discurso a que se reconstrua “o tecido social ferido pela pandemia” e não se desperdice fundos europeus transformando-os numa “chuva de benesses para alguns”.

“A terra, esta terra exige mais de nós, que o não esqueçamos nos próximos anos, não nos limitando a remendar o tecido social ferido pela pandemia. Reconstruamos esse tecido a pensar em 2030, 2040, 2050”, declarou.

Perante o presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro, e o presidente do Governo Regional da Madeira, o chefe de Estado defendeu que “é necessário agir em conjunto, com organização, transparência, eficácia, responsabilidade, resultados duradouros” e acrescentou: “Que tudo façamos para o conseguir”.

Depois, o Presidente da República referiu-se aos fundos europeus, afirmando: “É necessário ter nestes anos um apelo à convergência para aproveitar recursos, recriar espírito novo de futuro para todos, e não uma chuva de benesses para alguns, que se veja com olhos de interesse coletivo e não com olhos de egoísmos pessoais ou de grupo”.

“Este 10 de Junho interpela-nos a não desperdiçarmos o acicato dos fundos que nos podem ajudar evitando deles fazer, em pequeno e por curtos anos, o que fizemos tantas vezes na nossa História, com o ouro, com as especiarias, com a prata, mais perto de nós com alguns dos dinheiros comunitários, sendo uma terra de passagem para outros destinos ou porto de abrigo para muitos poucos de nós”, reforçou.

Condecorações

O presidente condecora neste 10 de Junho o Estado-Maior-General das Forças Armadas e os estados-maiores de cada um dos três ramos, Armada, Exército e Força Aérea.

Além do Presidente da República, discursa na cerimônia a médica Carmo Caldeira, diretora do serviço de cirurgia do Hospital Dr. Nélio Mendonça, escolhida por Marcelo Rebelo de Sousa para presidir à comissão organizadora destas comemorações, simbolicamente, tendo em conta a atual conjuntura.

Em 2020, devido à pandemia da covid-19, Marcelo Rebelo de Sousa cancelou as comemorações do 10 de Junho que estavam previstas para a Madeira e para a África do Sul e optou por assinalar a data com uma “cerimônia simbólica” no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, apenas com dois oradores e seis convidados.

Quando assumiu a chefia do Estado, em 2016, Marcelo Rebelo de Sousa lançou, em articulação com o primeiro-ministro, António Costa, e com a participação de ambos, um modelo inédito de duplas comemorações do 10 de Junho, primeiro em Portugal e depois junto de comunidades portuguesas no estrangeiro.

Em 2016 decorreram entre Lisboa e Paris, em 2017 entre o Porto e o Brasil, em 2018 entre os Açores e os Estados Unidos da América e em 2019 entre Portalegre e Cabo Verde.

Com este modelo – interrompido neste ano e no ano passado devido à pandemia de covid-19 – o chefe de Estado e Comandante Supremo das Forças Armadas fazia dois discursos nesta data, um mais solene, de manhã, numa cerimônia militar em território português, e outro mais emotivo, ao fim do dia, perante emigrantes portugueses e lusodescendentes no estrangeiro – ou, como prefere dizer, no “território espiritual” da nação.

Em 2021, as comemorações do 10 de Junho iriam prosseguir em Bruxelas, junto dos portugueses residentes na Bélgica, coincidindo com o final da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, mas esse programa no estrangeiro acabou por ser cancelado devido à situação sanitária local.

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