Após escândalo no Brasil, UE trava exportação de carne por empresas envolvidas

Mundo Lusíada
Com agencias

bandeira_uniao-europeiaA Comissão Europeia garantiu que acompanha a investigação a fraudes envolvendo produtos animais de consumo e que todas as empresas envolvidas estão impedidas de exportar para a União Europeia (UE). “A Comissão está informada sobre a investigação que decorre no Brasil e pediu, na sexta-feira, clarificações às autoridades brasileiras”, disse o porta-voz do executivo comunitário para a saúde, Enrico Brívio.

Bruxelas, adiantou, “garantirá que todas as empresas envolvidas na fraude estão impedidas de exportar para a UE”, adiantando que a Comissão pediu aos Estados-membros para aumentarem os controles sobre a carne vinda do Brasil.

Na sexta-feira a Polícia Federal brasileira começou a cumprir 309 mandados judiciais em seis Estados e no Distrito Federal, numa operação que investiga o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) e empresários do setor num esquema de facilitação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos.

O Presidente do Brasil, Michel Temer, veio a público garantir que a carne brasileira é segura e que a organização que adulterava estes produtos já foi desmantelada e que se tratou de um caso “pontual”. Temer recebeu, numa reunião de emergência, cerca de 20 embaixadores de países que figuram entre os 150 importadores de carnes brasileiras, para responder a dúvidas suscitadas pelo caso que envolve uma organização criminosa que adulterava esses produtos, tanto para o mercado local, como externo.

Durante o encontro, que decorreu no palácio presidencial do Planalto, em Brasília, o Presidente brasileiro garantiu que as investigações permitiram desmantelar um “pequeno” grupo e sublinhou os rigorosos controles aplicados a carnes brasileiras, “que foram reconhecidos por todos os importadores”.

Segundo ele, de 4.837 empresas do setor da carne, apenas 21 estão sob suspeita e que cerca de 30 dos mais de 10 mil funcionários de fiscalização sanitária do país estão implicados no escândalo. O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e de frango, e o quarto no segmento de carne de porco, com as vendas externas destes três setores a representar no ano passado 7,2% desse comércio, na ordem dos 11,6 milhões de dólares (cerca de 3,5 milhões de euros).

De acordo com a polícia federal, funcionários públicos eram subornados por diretores de empresas para darem aval a carnes com prazos de validade já ultrapassados, mas adulteradas. Entre as práticas, foi comprovado o uso de químicos para melhorar o aspecto das carnes, a falsificação de etiquetas com a data de validade ou a inclusão de alimentos não adequados para consumo na elaboração de enchidos.

Outros 21 estabelecimentos estão sob investigação e o Ministério da Agricultura afastou 33 funcionários por envolvimento no esquema.

“Para tranquilizar os amigos”, Temer referiu que no ano passado saíram do Brasil para exportação 853.000 remessas de carne e apenas 184 “tiveram problemas, mas devido aos rótulos ou assuntos menores, mas em nenhum caso devido à sua qualidade”.

Temer disse que as instalações de todas as empresas de carne que existem no país “estão abertas para inspeções ou visitas dos países importadores” e convidou os embaixadores a jantar na mesma noite num conhecido restaurante de carnes de Brasília.

O maior receio do Governo brasileiro é que existam sanções contra as carnes brasileiras, numa altura em que a economia do país dá pequenos sinais de recuperação, após dois anos de uma severa recessão.

Produtores são vítimas
O presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), João Martins, disse após reunião com o presidente Michel Temer, que os produtores são as grandes vítimas do esquema de “maquiagem” de carnes estragadas descoberto pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal. Martins cobrou punição enérgica aos agentes públicos e as empresas envolvidas no esquema criminoso e reforçou o discurso de que o problema é isolado.

“Tem que ser dividido esse esclarecimento [à sociedade]. Se fala muito em esclarecer, mostrar lá fora para os países importadores de carne de que temos uma defesa sanitária muito boa e temos mesmo. Agora, temos que mostrar para a nossa população que nós produtores somos as grandes vítimas disso tudo”, disse Martins.

“Com certeza, [vamos pagar o pato] no primeiro momento com a especulação. Alguns frigoríficos podem usar de má fé e dizer que a cotação do boi caiu por causa do mercado exportador ter recuado, mas não existe nenhum mercado externo que tenha recuado até o momento”, disse.

Já no dia 20, o presidente Michel Temer disse que os problemas descobertos em frigoríficos pela Operação Carne Fraca atingem apenas uma pequena parte do setor. “O agronegócio é para nós uma coisa importantíssima e não pode ser desvalorizado por um pequeno núcleo, uma coisa que será menor: apurável, fiscalizável e punível, se for o caso. Mas não pode comprometer todo o sistema que nós montamos ao longo dos anos. Exportamos para mais de 150 países”, disse a uma plateia de empresários na sede da Câmara Americana de Comércio, na capital paulista.

Segundo a PF, o esquema envolvia servidores das superintendências regionais do Ministério da Agricultura nos estados do Paraná, Minas Gerais e Goiás. Os investigadores informaram que eles atuavam diretamente para proteger grupos de empresários em detrimento do interesse público.

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