Turistas visitam centro de Lisboa sem demonstrar preocupação com vírus

Da Redação
Com Lusa

Parece um dia de primavera e os turistas aguardam para visitar os monumentos em Belém, em Lisboa. Há muitas pessoas vindas de vários países, como Estados Unidos, Rússia e Malta, e ninguém parece preocupado com o novo coronavírus.

É numa fila extensa à entrada do Mosteiro do Jerónimos que o turista John Yarbrough considera, em declarações à agência Lusa, que “há gripes mais perigosas”, demonstrando pouca preocupação com o surto de Covid-19.

“Não estou preocupado. Acho que não é perigoso. Pelo que sei há gripes mais perigosas que provocam mortes”, afirma o turista da ilha de Maui, do estado norte-americano do Havai.

Mais à frente, perto da Torre de Belém, encontra-se uma turista brasileira com morada em Malta que comenta que as pessoas têm de se prevenir.

“Temos de ter cuidado, temos de nos proteger, não devemos aproximar-nos muitos das pessoas. Temos de lavar sempre as mãos e passar desinfetante”, refere Gilvannia Xuereb, frisando que “seja o que Deus quiser”.

Na zona, as pessoas passeiam sem alarmismo e não desistem dos seus programas. Vindo de Moscovo (Rússia), Victor Umanskiy explica que não há razões para as pessoas entrarem em pânico e que há controlo da doença em Portugal.

“É uma doença perigosa, mas não sinto quaisquer razões para entrar em pânico. Em Paris, eu e a minha namorada usamos máscaras de respiração e máscaras para os olhos. […] Aqui não usamos proteção, aqui a doença não se espalha tanto”, afirma o turista russo.

Apesar de haver muitos turistas na zona Belém, vários setores comerciais queixam-se de uma quebra nos negócios por causa do surto.

No caso dos ‘tuk-tuk’, há quem fale numa redução de 50%. Neuza Queiroz conta que o setor começou a notar uma diminuição de volume de trabalho nos últimos 15 dias, adiantando que nunca assistiu a uma quebra tão grande desde que é condutora daquelas viaturas turísticas.

“Têm vindo a diminuir [as viagens] e há cancelamentos inevitáveis. As pessoas tentam quebrar um bocadinho o contágio com deslocações. Está a afetar muito a nossa atividade”, explica, considerando que “nesta altura já era expectável estar com valores próximos da época alta”.

Com receio de ficar em casa de quarentena, Neuza Queiroz acrescenta que o surto de Covid-19 trará “prejuízos para economia do país e familiar”.

A 300 metros do Mosteiro dos Jerónimos situa-se a Antiga Confeitaria de Belém, onde o cheiro dos tradicionais pastéis de Belém atrai habitualmente muitas pessoas, sobretudo aos fins de semana. Contudo, hoje não se veem filas.

O principal responsável pela empresa, Miguel Clarinha, reconhece que tem havido um abrandamento na procura, embora pouco significativo.

“No mês de fevereiro não houve qualquer queda. No início de março começou a haver mais, talvez na ordem dos 8% a 12% nos primeiros dias, mas ainda é muito cedo para tirar alguma conclusão”, diz o gerente da confeitaria, explicando que foram adotada “todas as medidas necessárias” para fazer face ao novo coronavírus.

Preparado para o pior cenário, Miguel Clarinha diz que a Antiga Confeitaria de Belém vai “tentar que não haja qualquer foco de contágio”. A gerência tem desinfetado os locais de trabalho e os funcionários têm tido todos os cuidados de higienização.

Por seu turno, um funcionário de um restaurante vizinho admite que ainda não foram tomadas quaisquer medidas de contingência e que se nota uma quebra de afluência de clientes.

“Ainda não tomamos medidas nenhumas. Nota-se um bocadinho [na quebra de clientes]. Não podemos fazer nada”, manifesta Rufino Silva.

As ruas junto à Escola Básica 2,3 Roque Gameiro e à Secundária da Amadora estão desertas, como nas férias. Foi aqui que ocorreram os primeiros casos de Covid-19 da Grande Lisboa, mas no Parque Central os idosos ainda jogam às cartas.

A direção do agrupamento, no concelho da Amadora (distrito de Lisboa), anunciou no domingo passado que as duas escolas iriam encerrar a partir de segunda-feira.

Três dias depois, o comércio começa a ressentir-se, com os proprietários dos estabelecimentos da zona a pensar em fechar também para férias.

No dia em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declara o novo coronavírus como uma pandemia, muitos portugueses decidiram aproveitar o calor de março para rumar às praias na região de Lisboa.

Turistas no Porto

 Cervejas e tremoços na esplanada, comboios para apanhar e fotografias a tirar: junto à estação de São Bento, no Porto, a rotina turística é a habitual, com algumas cautelas confessadas, mas sem grandes manifestações de receio do coronavírus.

“É evidente que há algum receio, é impossível não ter receios, mas também não podemos deixar de viver as nossas vidas. Se houver uma decisão governamental ou das autoridades de saúde para não sairmos de casa, obviamente acatarei essa medida”, resume Jasmine Lee, de 19 anos, no Porto numa visita turística desde terça-feira, natural da Califórnia, Estados Unidos, a estudar atualmente no Reino Unido.

Ao sol, numa esplanada junto à estação de São Bento, o belga Maxime Despontin, de 28 anos, bebe cerveja e come tremoços com o grupo de amigos, sem receios do surto de Covid-19, assegurando que fez um exame de saúde global antes de viajar e que todos deviam fazer o mesmo.

“Trabalho nos serviços administrativos de um hospital e estamos habituados a todas estas preocupações de lavar bem as mãos, tossir para o cotovelo, vigiar sintomas. Antes de viajar fiz um ‘check up’ e o médico disse que podia partir sem preocupações”, descreveu o jovem à agência Lusa.

Maxime defende que não se pode partir de qualquer destino “antes de analisar a saúde”, afirmando ser “necessário que todas as pessoas façam isso antes de viajar”.

Para a norte-americana Jasmine Lee, “atualmente o coronavírus já está em todo o lado”. “Portugal deve ser dos sítios mais seguros. Não estou paranoica. Apenas acho que devemos ter precauções”, afirmou.

As cautelas da estudante passam por “tentar usar máscara nos aeroportos e onde está muita gente e lavar bem as mãos”. “Fora isso, não sei bem o que podemos fazer”, notou.

Mais preocupado está Hugo Pontes, de 50 anos, um brasileiro a residir em Portugal há dois anos. Usa máscara para se deslocar para o trabalho e no trabalho. “Temos de nos prevenir. Estou muito preocupado. As escolas estão a fechar, algumas pessoas estão fazendo os seus trabalhos em casa, os estagiários estão a ser mandados para casa”, descreveu.

Hugo Pontes trabalha numa empresa de comunicação e continua a trabalhar. “Mas eu fico de máscara”, alerta.

Descreve que alguns colegas também o fazem, outros estão “na dúvida”, sem acreditar que “possa ser uma coisa séria”. “Alguns pensam que [a Covid-19] é só uma gripe. Eu penso que é algo mais sério”, afirmou.

Da janela do táxi que conduz há quatro semanas, Sara Cidade, de 26 anos, admite estar preocupada, mas recusa “entrar em pânico”.

“As únicas preocupações que tenho é desinfetar as mãos e lavá-las regularmente. É a única coisa que podemos fazer. Não vamos andar aqui de máscara…”, disse. A taxista também desinfeta “o carro de duas em duas ou de três em três viagens”.

Segundo a Direção-Geral de Saúde, em Portugal existem 59 casos confirmados.

Detectada em dezembro, na China, a epidemia de Covid-19 já infetou mais de 120 mil pessoas em 120 países e territórios, tendo provocado mais de 4.300 mortos.

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