Neste dia 29, a REN adiantou que o intercâmbio comercial de energia entre Portugal e Espanha não está a funcionar por precaução, após o apagão maciço que atingiu a Península Ibéria.
O administrador da REN, João Faria Conceição, referiu ainda que espera que a “fase final” para a “estabilização completa do sistema” esteja concluída até às 00:00 de quarta-feira, em declarações na CNN Portugal.
João Faria Conceição esclareceu que, pouco antes das 23:30 de segunda-feira, foi restabelecida a ligação a toda a sua infraestrutura, enquanto a operadora da rede de distribuição ligou hoje “muito cedo” os últimos pontos de consumo.
“Estamos a caminhar para uma situação normal”, mas “a parte da distribuição está a demorar um pouco mais”, sublinhou o administrador da empresa responsável pelo transporte de eletricidade e gás em Portugal.
O administrador executivo da REN realçou que é ainda necessário “garantir a estabilização completa do sistema” para conseguir o normal funcionamento dos mercados grossistas.
“A partir daí, podemos dizer que o sistema voltou, tanto técnica como economicamente, ao funcionamento completamente normal”, continuou, acrescentando que espera que esta etapa final esteja concluída até à meia-noite de hoje.
Para isso, é necessário “gerir o sistema em separado”, uma decisão tomada em “total coordenação” com o governo português e a Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), bem como com as autoridades e contrapartes da rede elétrica espanhola.
“As interligações entre os sistemas estão operacionais, mas não há troca comercial de energia” entre Espanha e Portugal, explicou Conceição.
Questionado sobre a possibilidade de um excesso de energia renovável no sistema energético estar na origem do apagão, o administrador considerou a ideia plausível, embora “não a única”.
“Aparentemente, e de acordo com as autoridades espanholas, as questões cibernéticas foram descartadas e, por isso, temos agora de nos concentrar exatamente no que aconteceu”, apontou.
João Faria Conceição afirmou ainda que as energias renováveis são “uma fonte de energia segura” que possui uma série de características, “especificamente, a sua volatilidade”, que devem ser acomodadas na gestão de qualquer sistema elétrico para mitigar os efeitos dessa volatilidade.
O responsável da REN salientou que o apagão que ocorreu esta segunda-feira e afetou Portugal, Espanha e o sul de França foi “absolutamente extraordinário”, mas alertou que “não há risco zero” de a situação se repetir.
Autosuficiente
O Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) exigiu hoje um reforço da eficiência energética em Portugal e uma produção descentralizada de energias renováveis, para uma maior resiliência do abastecimento de eletricidade e evitar apagões.
O GEOTA reconhece, em comunicado, que a análise rigorosa das causas do ‘apagão’ de segunda-feira pode demorar, mas defende que “urge esclarecer rapidamente a população”, salientando que o sistema elétrico ibérico já operou inúmeras vezes com percentagens elevadas de energias renováveis sem qualquer constrangimento.
Para o grupo ambientalista, a importação-exportação de eletricidade entre Portugal e Espanha é um processo permanente com benefícios para ambas as partes, mas Portugal “continua a ter capacidade de produção nas centrais termoelétricas a gás natural e em centrais hidroelétricas de albufeira, que lhe permite ser autossuficiente”.
“A importação dentro do mercado ibérico dá-se por motivos meramente económicos, sendo que, no dia 28 [segunda-feira], durante algumas horas Portugal estaria a ser pago para consumir eletricidade de Espanha. Ao contrário do que algumas vozes vêm a defender, a solução não é nem a reabertura das centrais a carvão (na prática substituídas pelas centrais a gás) nem a energia nuclear (extremamente cara, de construção demorada, com riscos conhecidos, pouco resiliente face a perturbações, e perpetuadora do modelo de rede assente em mega centrais)”, argumenta.
Em alternativa, o GEOTA destaca “soluções que reúnem grande consenso entre especialistas”, como sejam reduzir significativamente as necessidades através da eficiência energética, promoção da flexibilidade da produção e consumo como parte de uma moderna rede inteligente, aumento de forma racional da capacidade de armazenamento através de baterias, modernização das redes de transporte e melhoria dos sistemas de alerta e de resposta para estabilização da rede.
“Reconhece-se a necessidade de manter operacionais as centrais de ciclo combinado a gás natural, com utilização decrescente, mas ainda relevantes para o equilíbrio do sistema. Esta mudança de paradigma do sistema elétrico obriga a uma reestruturação do funcionamento do mercado de eletricidade”, considera o grupo.
Neste contexto, o GEOTA reivindica uma maior aposta na eficiência energética, e na produção de energia renovável descentralizada em autoconsumo e comunidades de energia.
O GEOTA avisa que “no modelo atual, a grande maioria dos sistemas fotovoltaicos estão acoplados à rede elétrica e desligam-se em caso de ‘apagão’”, recomendando que “se pondere a instalação de energia solar com capacidade para operar desconectada da rede elétrica em algumas localizações críticas, para resposta a estes eventos muito raros, mesmo que tal comporte custos superiores”.
Um corte generalizado no abastecimento elétrico afetou na segunda-feira, desde as 11:30, Portugal e Espanha, continuando sem ter explicação por parte das autoridades.
Aeroportos fechados, congestionamento nos transportes e no trânsito nas grandes cidades e falta de combustíveis foram algumas das consequências do “apagão”.
O operador de rede de distribuição de eletricidade E-Redes garantiu hoje de manhã que o serviço está totalmente reposto e normalizado.