Sebastião Salgado: Ministra portuguesa da Cultura lamenta morte de fotógrafo brasileiro

Foto Instituto Terra

Morreu quando é inaugurada exposição em Almada, que inclui fotos suas tiradas durante a revolução portuguesa.

A ministra portuguesa da Cultura, Dalila Rodrigues, lamentou hoje a morte do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, lembrando o “importantíssimo legado” na área da Fotografia.

“Com um percurso mundialmente reconhecido, Sebastião Salgado, através das imagens que nos legou, registadas a preto e branco, deixou um importante contributo no campo artístico, no fotojornalismo e na área documental”, afirmou a ministra em comunicado.

Dalila Rodrigues lembrou ainda a dedicação de Sebastião Salgado à causa ambiental, ao lado da mulher Lélia Deluiz Wanick Salgado, nomeadamente através do Instituto Terra, “organização não-governamental dedicada à reflorestação e à recuperação da biodiversidade da Mata Atlântica, ao desenvolvimento rural sustentável e à educação ambiental”.

Considerado um dos mais importantes expoentes da fotografia do mundo, Sebastião Salgado morreu hoje aos 81 anos.

Ao longo da vida foi laureado com os principais prêmios de fotografia do mundo e morreu no dia em que é inaugurada a exposição “Venham Mais Cinco – O Olhar Estrangeiro sobre a Revolução Portuguesa (1974–1975)”, em Almada, que inclui fotos suas tiradas durante a revolução portuguesa.

Na altura da revolução de 25 de Abril de 1974, Sebastião Salgado vivia em Paris com a família e começava a dedicar-se à Fotografia, depois de ter cursado Economia.

Registou esses primeiros tempos de transição em Portugal, mas também em Angola e Moçambique, ao serviço das agências Sygma, Gamma e Magnum.

“Todas as pessoas que tinham ideias libertárias, na Europa, foram para Portugal, na esperança de que seria um grande país democrático, com ideias sociais avançadas. Portugal foi um sonho. E aos poucos, aquilo tudo foi também aterrando, porque me lembro de que, para comprar um quilo de carne num talho, a gente ficava uma hora na fila. Todo o mundo ficava discutindo política”, disse Sebastião Salgado em entrevista em 2024 ao jornal Público, sobre aquela passagem por Portugal.

Nascido em 08 de fevereiro de 1944, em Aimorés, Minas Gerais, Sebastião Salgado é formado em Economia e começou a sua carreira de fotógrafo em Paris, em 1973.

Salgado foi alvo de uma grande exposição em Portugal, em 1993, na inauguração do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, onde mostrou cerca de 250 imagens.

Em 2014, expôs em Lisboa a série “Génesis”, dedicada à natureza, que esteve no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional.

Um ano depois, os cinemas portugueses acolheram o documentário “O Sal da Terra”, de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, sobre o fotógrafo brasileiro.

Membro das agências de fotografia Sygma, Gamma e, posteriormente, a Magnum, Sebastião Salgado fundou a Amazonas Images, com a mulher, Lélia Wanick, em 1994, e juntos criaram o Instituto Terra para a reflorestação da Mata Atlântica brasileira, na região de Aimoré, Minas Gerais.

Exposição em Portugal

Duzentas fotografias que espelham o olhar de 30 fotógrafos e fotojornalistas estrangeiros sobre a revolução de Abril vão estar em exposição em Almada, de 24 de maio a 24 de agosto, em frente à antiga Lisnave – Parque Empresarial da Mutela.

A exposição “Venham Mais Cinco – O Olhar Estrangeiro sobre a Revolução Portuguesa (1974–1975)”, com curadoria de Sérgio Tréfaut e consultoria histórica de Luísa Tiago de Oliveira, é inédita em Portugal reunindo imagens de fotógrafos e fotojornalistas de França, Alemanha, Brasil, Itália, Países Baixos e da então Checoslováquia, publicadas em jornais e revistas de todo o mundo.

Sebastião Salgado é um dos fotógrafos representados na mostra.

Nos dias 24, 25 e 31 de maio estão previstas visitas comentadas por alguns dos autores das imagens, nomeadamente Jean-Claude Francolon, Fausto Giaccone, Michel Puech, Jean-Paul Paireault e Alain Mingam.

“Venham Mais Cinco” é o título da canção de José Afonso, primeira escolha dos militares do MFA para senha do início do golpe militar, mas depois substituída por “Grândola, vila morena”, do álbum anterior do músico (“Cantigas do Maio”), que acabou por ser tocada no Rádio Renascença, na madrugada de 25 de Abril de 1974.

A exposição está dividida em quatro núcleos temáticos: “A Festa da Liberdade”, “Novas Formas de Poder”, “Independências” e “Um País Dividido”.

O curador da exposição adianta que a mostra permite uma viagem a um Portugal que foi o centro do mundo, num determinado momento da história.

“Foi o único momento da história em que Portugal teve os maiores fotógrafos do mundo a tirarem fotografia todos os dias, e a exposição reúne um trabalho desses fotógrafos, que fotografaram Portugal com um olhar curioso”, disse.

Sergio Tréfaut defende que, nessa viagem proporcionada pela exposição, é possível a quem não teve contacto com a revolução descobrir um país “com surpresas atrás de surpresas”.

“Há uma diferença entre eu tirar uma fotografia – e eu não sei tirar uma fotografia -, e um ‘monstro’ [gênio] tirar uma fotografia, e nós temos aqui gênios atrás de gênios”, frisou o curador. 

Mostra inédita “50 anos da Revolução dos cravos em Portugal”, de Sebastião Salgado | Portugal (1975) | Crédito: © Sebastião Salgado

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