Rede de Portugal espera restabelecimento da eletricidade em todo o país durante a noite

Sede da REN (Rede Elétrica Nacional), Sacavém, 28 de abril de 2025. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Portugal “vai acordar amanhã com eletricidade” – REN.

Em declarações à imprensa, a REN disse hoje esperar que a eletricidade seja restabelecida em todo o país durante a noite, após o corte generalizado no abastecimento elétrico em toda a Península Ibérica e parte do território francês.

“Espero que nós consigamos ter o sistema totalmente equilibrado durante esta noite”, disse aos jornalistas o administrador da REN – Redes Energéticas Nacionais, João Faria Conceição, em conferência de imprensa em Sacavém, concelho de Loures.

O responsável garantiu que no que depender da REN, o país “vai acordar amanhã [terça-feira] com eletricidade”.

“Infelizmente, não é só a REN que conta, é todo um sistema e, esse, nós estamos a interagir da forma mais cuidadosa que nós sabemos, para garantir que não damos passos em falso”, ressalvou.

João Faria Conceição salientou que numa situação destas, “é absolutamente crucial” não dar passos em falso, sob pena de comprometer toda a recuperação efetuada até ao momento.

Questionado sobre as causas do apagão, o responsável referiu que ainda não conseguem, “com toda a certeza, apontar para nenhuma causa concreta”.

“A única coisa que podemos referir é que, sensivelmente momentos antes das 11h30, assistimos a uma grande oscilação de tensões verificada na rede espanhola, e naquele momento o sistema elétrico português estava num momento de importação, que tem sido normal nestes últimos dias para aproveitar uma energia mais barata que é produzida em Espanha a partir das centrais solares em Espanha”, começou por explicar.

Neste seguimento, “naturalmente existiu esta oscilação de tensões ao ponto que os sistemas de controle e de proteção de todas as centrais elétricas disparam, algo equivalente ao que temos nas nossas casas com os disjuntores do quadro”, exemplificou.

“A partir desse momento, há um desequilíbrio total entre os consumos e a produção e como é uma característica dos sistemas elétricos quando ocorre qualquer desequilíbrio o sistema vem todo abaixo”, acrescentou.

No que toca aos sistemas de redundância, João Faria Conceição assegurou que existem “vários”, mas “como tudo na vida, isto é um equilíbrio entre a segurança e o custo”, apontou.

“Nunca vamos conseguir ter um sistema 100% seguro”, comentou, dando o exemplo da contratação de seguros.

“Nós podemos duplicar, triplicar, quadruplicar todos os seguros que temos, mas isso não vai impedir que nós possamos correr o risco de ter um acidente. Aqui é exatamente a mesma coisa. O que tem que ser feito é ser avaliado se, efetivamente, os tais níveis de redundância, os níveis de recuperação de um sistema com uma circunstância extrema como foi esta, são os suficientes. Se não forem os suficientes, ver quais serão os suficientes, mas também estar consciente que mais sistemas de recuperação significa mais custo”, contou.

Neste momento, Portugal tem duas centrais disponíveis para esta prestação de serviço inicial, a Tapada do Outeiro e Castelo de Bode, e para o próximo ano terá mais centrais disponíveis, nomeadamente hídricas, lembrou o gestor.

“As hídricas prestam um serviço eficaz porque têm uma grande capacidade de resistência e podem mobilizar uma grande potência de consumo ao mesmo tempo. E é isso que agora temos que avaliar efetivamente se faz sentido aumentar mais essa capacidade de resposta ou se o custo que isso acarreta efetivamente não justifica este custo”, explicou.

“É evidente que hoje toda a gente vai dizer que é mais do que justificado, mas provavelmente daqui uns tempos estaremos já a dizer que estamos preocupados com o custo da conta de eletricidade e, portanto, vamos querer reduzir todas as rubricas”, lamentou.

A primeira explicação chegou da distribuidora de energia espanhola Red Electrica, que adiantou tratar-se de um “incidente excecional”, provocado por uma flutuação muito brusca no fluxo de energia da rede, de origem desconhecida, que provocou a desconexão de Espanha do restante sistema elétrico europeu.

Esta versão foi confirmada pela REN, que adiantou que, àquela hora, o sistema elétrico português “estava num momento de importação”.

Segurança

 A PSP vai reforçar o policiamento hoje à noite nas cidades que estão sem eletricidade, em especial nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, disse à Lusa fonte desta polícia.

A mesma fonte adiantou que o policiamento vai ser reforçado durante a noite, uma vez que não há iluminação pública e os sistemas de alarmes de segurança não estão a funcionar.

Segundo a PSP, o trânsito esteve muito complicado ao fim da tarde de hoje nas saídas de Lisboa, nomeadamente nas pontes 25 de abril e Vasco de Gama, Autoestrada 1, A8, A5 e IC19, mas por volta das 19:45 a situação estava mais calma.

Também durante o fim da tarde de hoje as filas para apanhar os autocarros em Lisboa foram longas, tendo em conta que não há Metropolitano e a CP esteve em greve.

A fonte disse também que a PSP ajudou a encerrar o Metropolitano de Lisboa ao fim da manhã, tendo os polícias apoiado na retirada de pessoas sem que se registrasse qualquer incidente.

Num comunicado hoje divulgado, a PSP referiu que os serviços da polícia estão “a funcionar plenamente com o auxílio de fontes alternativas de energia”, estando todas “as operações essenciais de polícia a ser asseguradas”.

Ao longo do dia de hoje, a PSP auxiliou os automobilistas no trânsito, uma vez que, devido à falta de eletricidade geral, os semáforos deixaram de funcionar.

 A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) está a enviar ao fim da tarde de hoje mensagens através do telemóvel para informar a população de que a ligação de energia está a ser gradual.

“Ligação de energia está a ser gradual. Com a serenidade de todos, garantiremos os serviços essenciais e a normalização da situação nas próximas horas”, refere o SMS enviado pela ANEPC.

Nos transportes, o serviço do Metropolitano de Lisboa encerrou, mantendo-se em circulação os autocarros da Carris Metropolitana.

No Porto, a Sociedade de Transportes Coletivos do Porto manteve a sua operação em pleno funcionamento, à exceção dos elétricos históricos que pararam, enquanto a circulação do Metro do Porto está parada.

Também os aeroportos da ANA acionaram os geradores de emergência, mas em Lisboa centenas de voos foram cancelados no Aeroporto Humberto Delgado e vários foram desviados para outros aeroportos, deixando milhares de passageiros “à porta”.

Energia reposta

Várias áreas dos distritos de Coimbra, Porto, Guarda, Santarém e Lisboa, inclusive na capital, têm já o fornecimento de energia reposto hoje à noite, conforme relatado à Lusa por moradores.

A REN anunciou ao início da noite a reposição das subestações do Carregado e Sacavém, no distrito de Lisboa, um processo essencial para reabastecer a região de Lisboa, onde, segundo moradores, há já energia pelo menos em locais dos concelhos de Lisboa (Alvalade, Areeiro, Benfica, Telheiras, Parque das Nações ou Campo de Ourique, por exemplo), Odivelas (como a Ramada) ou Torres Vedras.

Em alguns bairros da capital, como zonas junto à Almirante Reis ou Benfica, os moradores estão a festejar à janela o regresso da eletricidade, com aplausos e gritos.

Durante a tarde havia já relatos de reposição da energia em vários concelhos dos distritos de Santarém e do Porto.

A reposição de energia elétrica no país está a ser feita “de forma faseada e segura para evitar novos desequilíbrios no sistema”, numa operação que exige “particular rigor e prudência”, adiantou em comunicado o Sistema de Segurança Interna (SSI).

Também o operador de rede de distribuição de eletricidade, E-Redes, informou que até às 20h30 estavam ligadas parcialmente 110 subestações, alimentando cerca de um milhão de clientes, mas não consegue prever a reposição integral.

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