Da Redação
Com Lusa
O diretor do Real Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro mostrou-se favorável à construção de um possível “Museu das Descobertas”, em Lisboa, dizendo compreender os lados da polêmica.
“Eu sou muito liberal. Entendo as duas partes, os que são a favor e os que são contra, mas eu acho que tudo aquilo que for transparente é válido (…). Eu sou favorável. Acho que tudo o que seja mostrar o passado, (…) sempre terá coisas boas e más. Nada como mostrar à nova juventude, aos novos lusos que estão surgindo, aquela que foi a nossa história”, afirmou Francisco Gomes da Costa, diretor da instituição que detém o maior acervo de livros portugueses fora de Portugal.
As declarações de Francisco Gomes da Costa foram durante a visita do ministro da Cultura português ao Brasil, e na qual abordou a polêmica relacionada com um possível “Museu das Descobertas”, em Lisboa, que motivou uma carta aberta, publicada em abril na imprensa portuguesa, de dezenas de historiadores que se opõem ao conceito por trás da designação, e teve já várias outras – a favor e contra – desde então.
A ideia de construir um ‘Museu das Descobertas’ na cidade de Lisboa, incluída no programa eleitoral de Fernando Medina de 2017, levantou muitas vozes contra, devido, sobretudo, ao nome e ao programa, classificados como “neo-coloniais”.
Também o ensaísta Eduardo Lourenço afirmou, em Maio deste ano, não compreender a necessidade de “crucificar” o país por causa do seu passado de colonizador, sublinhando que não houve maldade na gênese e que o mal feito já não pode ser reparado.
O diretor do Real Gabinete Português de Leitura aproveitou o 9º Colóquio do Polo de Pesquisas Luso-Brasileiras, onde se debateu na segunda-feira o tema “Relações luso-brasileiras: imagens e imaginários” para reforçar a vontade de melhorar a união dos dois países.
“Cada vez há mais intercâmbio entre professores e intelectuais indo para Portugal e vindo de Portugal também para o Brasil. Eu diria que nunca houve tanto intercâmbio cultural como (…) atualmente, e a tendência é crescente. Portugal está na moda, toda a gente quer conhecer Portugal e, automaticamente, isso envolve toda a área da Cultura entre ambos os países”, afirmou o diretor do Real Gabinete.
Também a presença do ministro da Cultura português, Luís Filipe Castro Mendes, no colóquio Luso-Brasileiro foi comentada por Francisco Gomes da Costa, considerando-a “muitíssimo importante”.
Afinal, “primeiro ele adora o Real Gabinete Português de Leitura, ele gosta muitíssimo da comunidade aqui no Rio de Janeiro e a presença dele aqui e também amanhã [terça-feira] na entrega do Prêmio Camões, fará com que seja uma visita muito feliz. Acho que estamos todos muito otimistas em relação aquilo que o ministro irá apresentar”, finalizou.
Na agenda do ministro da Cultura segue-se uma reunião com o ministro da Cultura brasileiro, no Museu Nacional de Belas Artes, além da presença na cerimônia oficial de entrega do Prêmio Camões ao escritor cabo-verdiano Germano de Almeida, na Fundação Biblioteca Nacional.
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O escritor foi escolhido, por unanimidade, no passado mês de maio, na reunião do júri do prêmio em Lisboa, tendo sido destacada “a riqueza de uma obra” na qual “se equilibram a memória, o testemunho e a imaginação”.
Nascido em 1945, na ilha da Boavista e a viver atualmente no Mindelo, Germano Almeida é autor de obras como “A Ilha Fantástica”, “Os Dois Irmãos” e “O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo”, tendo publicado este ano “O Fiel Defunto”, pouco depois do anúncio da atribuição do prêmio.
Formado em Direito, em Lisboa, Germano Almeida foi procurador da República de Cabo Verde. É o segundo autor deste país distinguido com o Prêmio Camões, depois do poeta Arménio Vieira, em 2009.