Presidente do Chega concorda com deportação de imigrantes e fim de ideologia de gênero

O líder do Chega, André Ventura (C), acompanhado pelos deputados do partido, Pedro Pinto 2-E), Marta Martins da Silva (3-E), e Rui de Sousa (3-D), durante a manifestação promovida pelo Chega contra a \"imigração descontrolada e insegurança nas ruas\", em Lisboa, 29 de setembro de 2024. JOSE SENA GOULAO/LUSA

O presidente do Chega, André Ventura, admitiu neste dia 21 concordar com a deportação em massa de imigrantes em situação de irregularidade proposta pelo presidente norte-americano, Donald Trump, e que poderá incluir a expulsão de milhares de cidadãos portugueses.

Em Washington, onde participou nas cerimónias de tomada de posse de Donald Trump, Ventura defendeu que “países seguros têm fronteiras fortes”.

“A Direita é coerente nisto: existem regras em Portugal e em toda a parte do mundo. Quem não cumpre regras tem de ser devolvido ao seu país de origem”, sublinhou o presidente do Chega em declarações à imprensa portuguesa.

“O que nós defendemos é que – também em Portugal – os que não cumprem regras devem ser devolvidos ao seu país de origem. E vejam que isto não é dito só pelo presidente do Chega ou pelo presidente do Vox. É dito agora pelo presidente dos Estados Unidos, um país que é uma referência de liberdade e que é uma referência até de direitos humanos”, sublinhou Ventura.

Donald Trump garantiu, no seu discurso de tomada de posse, que irá expulsar “milhões e milhões” de imigrantes ilegais, um dos principais focos da sua campanha eleitoral, durante a qual prometeu levar a cabo a “maior deportação em massa da história” do país.

O novo presidente norte-americano prometeu ainda endurecer a luta contra a entrada de imigrantes ilegais e a deportação imediata de quem tentar entrar sem cumprir os requisitos para permanecer em território dos Estados Unidos.

“Nós temos dito também na Europa que nós precisamos de que quem não esteja legal volte para o seu país. (…) Eu acho que o que o Donald Trump disse foi que as pessoas que venham para os Estados Unidos têm que estar legais. E eu acho que essa é a mensagem certa”, defendeu Ventura.

Questionado pela Lusa sobre se essa mensagem inclui os portugueses que estão de forma irregular nos Estados Unidos, Ventura respondeu: “Todos. O que exijo para os outros é o que exijo para mim como português.”

“Os portugueses devem cumprir a lei. Estou convencido que isso não vai acontecer, porque os portugueses que tenho conhecido por todo o mundo cumprem as regras. (…) O que estou convencido é que os portugueses não serão um número significativo”, observou.

“Porém, quando digo que os imigrantes em Portugal têm de cumprir regras, todos têm de cumprir regras. Não posso dizer que quero uma regra para para paquistaneses, indianos, brasileiros, angolanos e não quero para os portugueses. Os portugueses têm de ser os primeiros a dar o exemplo. Ao irem para os EUA, Canadá, Suíça, têm de cumprir regras”, frisou André Ventura.

O Governo dos Açores está a preparar um plano de contingência para acolher emigrantes açorianos que venham a ser deportados por Donald Trump.

“Não é o cenário previsível, mas estamos a preparar-nos para o pior”, disse na semana passada Paulo Estêvão, secretário regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades, admitindo que possam vir a ser deportados “centenas” de emigrantes oriundos dos Açores, que estarão sem situação ilegal nos Estados Unidos.

Questionado sobre se apoia a audiência parlamentar requerida pelo PS, Ventura respondeu com críticas ao Partido Socialista, o qual acredita “não ter nenhuma moral para falar de imigração”.

“O PS é o Partido mais sem vergonha na cara que nós temos em Portugal. Há questões de segurança e o PS diz que foi ele que deu ao país condições de segurança, quando deixou o país no maior estado de insegurança em que nós temos memória”, avaliou.

“E agora, um Partido que deixou meio milhão de imigrantes por legalizar em Portugal, vem fazer moral sobre os imigrantes que estão noutras partes do mundo. O que o PS devia fazer era pedir desculpa por ter conduzido o país ao caos de imigração a que levou. O PS e Pedro Nuno Santos [secretário-geral do PS] não têm nenhuma moral para falar de imigração”, acrescentou, em Washington.

ideologia de gênero

Donald Trump foi empossado como o 47.º Presidente dos Estados Unidos, numa cerimónia no Capitólio em Washington que marca o seu regresso para um segundo mandato na liderança da Casa Branca.

Ventura também viu um alinhamento do magnata republicano “com a direita europeia”, que luta “para que a ideologia de gênero seja varrida das escolas”.

“Eu gostava de destacar duas coisas [do discurso de tomada de posse de Trump], que acho que mexeram muito com a (…) direita europeia que está cá comigo: a questão económica, uma economia livre, uma economia sem a burocracia, sem o peso que o socialismo geralmente mete na economia; e a questão da ideologia de gênero”, começou por dizer André Ventura aos jornalistas portugueses na capital norte-americana.

“Eu acho que o Donald Trump ter dito que há dois gêneros, há o masculino e o feminino, talvez para muita gente, ou para uma parte importante da classe média trabalhadora, isto não seja um assunto relevante, mas nós hoje sabemos que há uma luta civilizacional de ideologia de gênero nas escolas. E acho que o Donald Trump prometeu acabar hoje [segunda-feira], claramente, desde Washington, com essa ideologia de gênero”, avaliou o presidente do Chega.

O Governo federal norte-americano deve reconhecer apenas dois sexos – masculino e feminino -, de acordo com uma ordem executiva que Donald Trump deverá assinar em breve.

A ordem reverteria os esforços do Governo de Joe Biden para ampliar as designações de identidade de gênero.

“A partir de hoje, será a política oficial do Governo dos Estados Unidos que existam apenas dois gêneros: masculino e feminino”, declarou Trump durante o seu discurso de tomada de posse na segunda-feira, dando um passo inicial para cumprir uma das suas promessas de campanha.

A medida foi celebrada por André Ventura, que integrou a comitiva dos Patriotas pela Europa (extrema-direita), terceiro maior grupo político do Parlamento Europeu, que esteve presente na tomada de posse de Donald Trump.

“Eu acho que hoje o Donald Trump, ao dizer que um homem é um homem e uma mulher é uma mulher, diz o óbvio, mas diz que vai alinhar com a direita europeia. É importante dizer isto, porque a direita europeia tem feito esta luta há muito tempo (…) para que a ideologia de gênero seja varrida das escolas”, advogou o presidente do Chega, que admitiu não ter falado com Trump durante a deslocação a Washington.

Apesar de concordar com várias das medidas prometidas por Trump, André Ventura garantiu que discorda do perdão concedido pelo republicano aos invasores do Capitólio, que levaram a cabo um violento ataque contra o Capitólio em 06 de janeiro de 2021 com o objetivo de travar a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden.

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