O padre João Miguel Russo Silva, um dos “seis irmãos” em Portugal da Ordem de Santo Agostinho, considera o novo Papa, Leão XIV, um homem “com uma sensibilidade social muito forte” e um digno sucessor de Francisco.
“Das vezes que privei com ele creio que é um homem próximo, com uma sensibilidade social muito forte”, com muita experiência de governação pastoral, “um homem do estudo, da formação”, disse à Lusa o vigário paroquial da Paróquia de São Domingos de Rana.
A Ordem de Santo Agostinho, à qual o novo Papa pertence, tem atualmente em Portugal duas comunidades, uma em Santa Iria de Azoia e outra em São Domingos de Rana, com três frades em cada comunidade.
Nas declarações à Lusa, João Miguel Russo Silva recordou a fundação da Ordem de Santo Agostinho, no século XIII, que surgindo vários séculos após a morte de Santo Agostinho (século V) segue as normas desse teólogo e filósofo da Igreja Católica,
Recordou nomeadamente a frase “ama e faz o que quiseres”, atribuída a Santo Agostinho, acrescentando que “o cerne da vida é a vida em comunidade, a procura de Deus uns nos outros”.
Formalmente a Ordem de Santo Agostinho surgiu no século XIII na Toscana, Itália, quando os Papas Inocêncio IV e depois Alexandre IV responderam ao apelo de eremitas e monges para a constituir, juntando-os numa só ordem.
“É uma Ordem centrada na vida comunitária, na interioridade, na pobreza, na partilha dos bens, no serviço à Igreja, no estudo”, centrada na amizade, resumiu o padre à Lusa, explicando haver indícios de que a Ordem tenha chegado a Portugal ainda no século XIII.
A primeira igreja terá sido na que é hoje a Capela de Nossa Senhora do Monte, em Lisboa, explicou João Miguel Russo Silva, recordando que na capital os frades eram chamados de “gracianos”, pela sua devoção a Nossa Senhora da Graça. E hoje, notou, “é o dia de Nossa Senhora da Graça”.
A Ordem cresceu ao longo dos anos e “há hoje conventos vazios ou transformados em todo o país que eram da Ordem”, e em 1834, como todas as ordens, foi expulsa de Portugal, regressando em janeiro de 1974, lembrou também João Miguel Russo Silva.
Sobre o novo Papa recordou que foi muitos anos o prior-geral da Ordem, que fez parte do seu percurso em Roma, que esteve no Peru e regressou depois a Roma, tendo sido o Papa Francisco que o nomeou cardeal.
Também o reitor do Santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas, disse estar convicto de que Leão XIV vai continuar o trabalho do seu antecessor e deseja que visite a Cova da Iria.
“É minha convicção de que este homem que tinha sido escolhido pelo Papa Francisco para tarefas dentro da Igreja continuará aquilo que foi o pontificado que o antecedeu, o pontificado do Papa Francisco, um homem atento às dores e às feridas da Igreja e do mundo em que vivemos”, afirmou o padre.
Para o reitor, este também é um momento para desejar que “ele possa visitar Fátima”, lembrando que alguns dos cardeais de quem se falava para a sucessão de Francisco já estiveram em Fátima.
“O cardeal Prevost, agora Leão XIV, não esteve e, por isso, o meu grande desejo é que ele possa visitar este santuário, fazer a experiência de oração neste santuário e experimentar aqui a força da oração dos peregrinos pelo Santo Padre”.
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) considerou hoje que o Papa Leão XIV vai ser construtor de pontes para a paz e a justiça, e desejou a continuidade do caminho sinodal ao lado dos migrantes, dos pobres e dos marginalizados.
“Em pleno Jubileu de Esperança, neste mundo de hoje tão sedento de amor e misericórdia, estamos certos de que o Santo Padre, dando testemunho do Evangelho de Jesus, contribuirá para o diálogo inter-religioso e para o diálogo com a sociedade, na construção de pontes ao serviço da fraternidade para a busca de caminhos de paz e justiça, oferecendo à humanidade renovadas centelhas de esperança”, lê-se num comunicado.
Novo Papa
O cardeal Robert Francis Prevost, 69 anos, foi hoje eleito Papa, após dois dias de conclave, na Cidade do Vaticano, e assumiu o nome de Leão XIV.
Nascido em Chicago, Estados Unidos, o novo Papa tem ascendência espanhola e nacionalidade peruana, e pertence à Ordem de Santo Agostinho.
Leão XIV sucede ao Papa Francisco, que morreu em 21 de abril, aos 88 anos.
Uma paz desarmada e desarmante!#Leão14 pic.twitter.com/8Bf0hYpRJe
— Vatican News (@vaticannews_pt) May 8, 2025
Presidente
O Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa, considerou hoje que o novo Papa é um continuador do Papa Francisco, de quem era “muito próximo”, e alguém com abertura ao mundo, em particular às Américas.
Em declarações aos jornalistas, durante uma visita a uma feira de arte na Cordoaria Nacional, em Lisboa, o chefe de Estado referiu que já enviou em nome dos portugueses uma mensagem ao novo Papa, “de felicitação e ao mesmo tempo sublinhando as relações antigas, históricas, fundamentais entre Santa Sé e Portugal e o papel da Igreja Católica ao longo da História dos humanos”.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, a escolha do cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, que também tem nacionalidade peruana, “foi uma surpresa, mas é uma surpresa que, à primeira vista, tem lógica”,
O Presidente da República realçou a sua origem “norte-americana, com um toque latino-americano”, pelo período que passou no Peru, e considerou que tem “preocupação com a paz, muito grande, abertura ecuménica, abertura ao mundo”.
“Dá a sensação de um compromisso entre o ser um continuador de Papa Francisco, próximo dele nos últimos anos, não tão falado como outros nomes que eram muito falados, mas também abrindo a um novo mundo completamente diferente, as Américas”, disse.
O chefe de Estado referiu que, para o que é habitual, o novo Papa “é muito novo”, com 69 anos, perspetivando-se “um pontificado longo”.
Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, celebrou hoje a eleição do novo Papa e indicou que espera trabalhar com Leão XIV na promoção da “solidariedade, reconciliação” e na construída de “um mundo justo e sustentável para todos”.