Museu das Bandeiras, Cidade de Goiás (GO): turismo e cartas de alforria

Cidade de Goiás foi a primeira capital do estado, e conta com forte herança lusitana na arquitetura, na poesia, na gastronomia e outros. Foto Jean Santos

Por Jean Carlos Vieira Santos

O Museu das Bandeiras, atrativo turístico da Cidade de Goiás, se encontra no antigo edifício construído na segunda metade do século XVIII para ser utilizado como Câmara e Cadeia, na antiga capital do estado de Goiás. A nova e atual função foi dada em meados do século XX, para guardar um acervo composto por objetos significativos da presença portuguesa, negra e indígena no Cerrado goiano, cuja missão é preservar e ser espaço de pesquisa e memória nacional.

Esse emblemático museu aberto à visitação está localizado na Praça Brasil Ramos Caiado, mais conhecida como Largo do Chafariz, pois se trata de um espaço público onde também está o suntuoso e imponente Chafariz de Cauda, paisagem considerada um produto da história na geografia do Rio Vermelho. Tal destino turístico contempla, ao mesmo tempo, literatura, tertúlias, exposições, arte, gastronomia, música e Patrimônio Cultural Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Com quase 300 anos de história, esta é, sem dúvidas, uma cidade com narrativas inesquecíveis pela História.

Atualmente, o Museu das Bandeiras não é apenas um lugar de visitação turística, mas também de contributos essenciais para estudos em diferentes segmentos educacionais. Entre os exemplos que poderiam ser citados, destaca-se neste texto a investigação acerca da temática “Por uma análise histórica dos pronomes átonos em cartas de alforria da Cidade de Goiás, séculos XVIII e XIX” coordenada, em 2025, pela Profa. Dra. Dra. Marília Silva Vieira Pereira, do Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Interculturalidade (POSLLI), da Universidade Estadual de Goiás (UEG).

Como objetivos do trabalho, visa-se “analisar a mudança de critério de descrição da colocação pronominal, com vistas a uma explicação morfossintática. Busca também mapear as rotas do Português goiano, com vistas ao cotejo com a história de outras variedades nacionais e lusófonas, e investigar as correlações entre a história do Português e a fundação da primeira capital”. Entre os resultados aguardados pela pesquisadora, espera-se atestar que o “Português Europeu apresenta traços modernos, enquanto o Português Brasileiro conserva traços do Português clássico.

Tal fato se explica por características relacionadas à colocação pronominal: o Português Brasileiro tem tendência à próclise, como atestam documentos formais do século XVIII (‘eu me aSigney com o meu signal costumado’), enquanto o Português Europeu tem preferência pela ênclise (‘eu aSigney-me com o meu signal costumado’)”. Assim, a referida instituição é referência para intelectuais dispostos a conhecer e investigar a memória do Cerrado.

Em um contexto de turismo e pesquisa científica, o Museu das Bandeiras se revela como ilustre vizinho do Chafariz de Calda e palco repleto informações, com uma componente ímpar para o conhecimento e a atividade turística de um destino que evoca sentimentos e memórias. Em quaisquer comentários dos visitantes da Cidade de Goiás, que quase obrigatoriamente passam pela Casa de Cora Coralina, é inevitável não recomendar o prédio das antigas Cadeia e Câmara!

Por Jean Carlos Vieira Santos

Professor e Pesquisador da Universidade Estadual de Goiás (UEG/TECCER-PPGEO). Pós-doutorado em Turismo pela Universidade do Algarve (UALg/Portugal) e Doutorado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (IGUFU/MG).

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