Mais de uma centena de imigrantes manifestam-se junto à AIMA

Imigrantes, a maioria de origem asiática, com faixas durante um protesto contestando a discriminação e a falta de respostas da AIMA (Agência para a Integração, Migração e Asilo), Lisboa, Portugal, 7 de abril de 2025. MIGUEL A. LOPES/LUSA

Mais de uma centena de imigrantes asiáticos concentraram-se esta manhã em frente à Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), em Lisboa, para contestar a falta de respostas das autoridades portuguesas e exigir direitos iguais para todos.

“Direitos iguais para todos”, “somos todos legais”, “não mais espera” e “residência para todos” são algumas das frases gritadas pelos imigrantes asiáticas na manifestação promovida pela Associação Solidariedade Imigrante.

Em declarações aos jornalistas, o presidente da associação, Timóteo Macedo, criticou o acordo assinado recentemente entre o Estado português e as entidades patronais para a contratação nos países de origem, conhecido como via verde, dizendo que desta forma os trabalhadores vão ficar “escravizados e nas mãos dos patrões”.

Em declarações anteriores à agência Lusa, o presidente da associação referiu que têm recolhido muitas queixas de imigrantes do Bangladesh, Nepal, Paquistão e Índia. “[Aqueles] que o Estado português não quer aceitar”, adiantou.

“Nada nos cai dos céus, nada nos é dado, se nós não lutarmos para que as coisas se alterem”, afirmou à Lusa Timóteo Macedo, antes da concentração agendada para as 10:00.

O dirigente explicou que um grupo de imigrantes pediu à associação para realizar uma “manifestação de descontentamento”, sendo a concentração de hoje a primeira de várias previstas contra a política migratória portuguesa.

“Reunimos há pouco tempo com representantes das várias comunidades que estão a ser muito perseguidas, até por algumas organizações da extrema-direita em Portugal. Falamos das comunidades asiáticas e também das comunidades islâmicas”, disse Timóteo Macedo, denunciando o “aumento da islamofobia” no país.

O dirigente acusou a AIMA de estar a mostrar uma “grande inoperância”, o que deixa a vida de milhares de imigrantes suspensa, e acusou esta estrutura de estatal de “não responder e indeferir mais de 50% das anteriores manifestações de interesse”.

Além disso, os imigrantes identificados como irregulares noutros países europeus são colocados numa “lista de não admissão do espaço Schengen” e, por causa disso, não têm resposta da AIMA.

Essas pessoas optaram por vir para Portugal para pedir manifestações de interesse e caberia à AIMA identificar os casos e retirá-los da lista em causa, caso cumpram os requisitos legais em Portugal.

Mas “a AIMA não está a fazer absolutamente nada, queixa-se de não ter recursos humanos e diz que não tem muitas vezes competências para fazer isso”, acusou Timóteo Macedo, que quer, com esta concentração, “alertar a sociedade civil e a comunicação social para a situação destes milhares e milhares de pessoas que têm a vida suspensa”.

“Estão cá a trabalhar, fazem os seus descontos, passaram por um outro país e não fizeram nada de mal. Mas agora têm a vida parada”, afirmou, salientando que só no Porto existem 800 casos deste tipo.

A abertura de canais prioritários aos cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa ao contrário do que sucede com outras origens corresponde a uma estratégia de “dividir para reinar” os imigrantes e o movimento associativo.

“Os patrões não ficam responsáveis por nada, porque retiram dos salários tudo, o seguro de saúde, os custos da educação [da língua portuguesa] ou a habitação que disseram ao Governo ser responsáveis”, acusou, frisando que vão “meter em contentores as pessoas, presas às empresas, sem direito a uma vida autônoma”.

O protesto expressa o descontentamento das pessoas com as mudanças legais em Portugal, que eliminaram as manifestações de interesse, um recurso legal que permitia que estrangeiros fossem legalizados após entrar no país apenas com vistos de turista.

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