Por Marco Calhorda
Num mundo em que a Inteligência Artificial e a visão política de Trump e outros atores políticos colocam a antiga ordem mundial em causa, há algumas coisas que não mudam.
Em Portugal, quando sentamos no sofá depois do jantar, há seguramente uma novela brasileira fazendo sucesso na TV. Wagner Moura e Fernanda Torres, Jorge Amado, Paulo Coelho e Anitta, esses são nomes sobejamente conhecidos por todos os amantes de cinema, leitura e música aqui pelas terras de D. Afonso Henriques.
Em sentido inverso, os nomes mais conhecidos devem ser Jorge Jesus, Abel Ferreira e Artur Jorge. Estes treinadores de futebol se beneficiaram do amor do brasileiro pelo esporte e conseguiram ter um impacto muito forte na psique do adepto do desporto rei.
Há, no entanto, alguns lutadores culturais que querem ultrapassar os limites do esporte e tentar trazer algo da herança cultural do velho continente para o Brasil através da uma arte um tanto surpreendente…as histórias em quadrinhos.
Desde 2023, Filipe Abranches, autor de histórias de ficção distópico, conseguiu financiar dois livros através da plataforma de financiamento coletivo Catarse, a mais antiga no mercado brasileiro e a mais utilizada para publicação de títulos estrangeiros. O mesmo aconteceu com “O Pescador de Memórias” de Miguel Peres e da brasileira Majory Yokomizo.
Marco Calhorda (sem relação com os Replicantes) & Daniel Maia, através do suporte do professor universitário e editor Thiago Modenesi (Editora Quadriculando), tem em curso uma campanha (https://www.catarse.me/cobra) para o livro “CoBrA: Operação Goa”, uma obra nomeada para vários prémios em Portugal. Já que o CoBrA conseguiu 20% do financiamento na primeira semana, mais livros entrarão em preparação, motivados pelo sucesso destes exemplos.
A questão que se coloca, no entanto, é: (1) porquê a exportação deste tipo de obras e (2) porquê a abordagem comercial utilizada.
A resposta a primeira é relativamente fácil de explicar. O mercado português é pequeno e a existência de uma língua em comum facilita a cultura. A resposta em relação a segunda liga-se ao fato de a internet ter democratizado a produção de quadrinhos.
Não vai ser uma enxurrada, mas mais obras portuguesas vão cruzar o Atlântico para quebrar o monopólio do mangá (7 em cada 10 livros de HQs vendidos no Brasil são mangás) e desafiar (um pouquinho) o domínio da Panini (50% do mercado (dados de 2021 e 2022)). Nunca antes houve tanta oportunidade de aprofundar ainda mais esta muy antiga amizade.
Projeto
CoBrA – Operação Goa é uma obra de ficção que ressalta a ambição e redenção humanas. Enquadrada no contexto histórico da ocupação de Goa e invasão dessa península pela Índia, a narrativa centra-se na intervenção do CoBrA, a agência secreta liderada pelo controverso Jorge Jardim, para forçar a abertura de canais de comunicação entre os vários intervenientes desta história, na coação dos poderes políticos, incluindo os de Portugal, a abandonarem considerações imediatistas e oportunistas e, por fim, no engendrar do repatriamento dos prisioneiros Portugueses detidos Goa.
CoBrA: Operação Goa é a nossa primeira HQ de 2025, trabalho magistral de uma nova geração dos quadrinhos portugueses, com um roteiro histórico, uma trama envolvente e uma arte belíssima. Clique em https://t.co/DxjPfXDhU7 e confira mais sobre nosso lançamento! pic.twitter.com/ECp4ujSWZc
— Quadriculando (@quadriculando1) February 6, 2025