TAP diz ser “óbvio” que não vai conseguir pagar dívida em seis meses

Da Redação
Com Lusa

O presidente executivo da TAP admitiu nesta terça-feira ser “óbvio” que a TAP não tem condições para pagar o empréstimo que vai receber de até 1.200 milhões de euros e quer apresentar o plano de reestruturação em três meses.

“É óbvio que nós não temos condições de pagar a dívida daqui a seis meses. Nenhuma companhia aérea no mundo tomou empréstimo para pagar em seis meses”, admitiu Antonoaldo Neves, que falava na comissão parlamentar de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, na Assembleia da República, em Lisboa.

Em causa está um empréstimo estatal que pode ir até 1.200 milhões de euros à TAP, aprovado pela Comissão Europeia, mas com a condição de que a transportadora devolva o valor injetado em seis meses ou apresente um plano de restruturação da empresa.

Antonoaldo Neves adiantou ainda que a intenção da TAP é de apresentar aquele plano dentro de três meses.

“O importante agora é não deixar os seis meses passarem para fazer esse plano. […] Não podemos ficar na situação de ter uma arma nuclear na cabeça quando for para negociar com a Comissão Europeia”, acrescentou.

Salvar a TAP

Antonoaldo Neves ainda disse que é preciso que o país se una para salvar a companhia aérea da pandemia e preparar o plano para o futuro.

O responsável da transportadora aérea, perante os deputados da comissão parlamentar, considerou ser necessário “unir o país para salvar a TAP da pandemia”.

Antonoaldo Neves defendeu ainda que a companhia aérea não teria sobrevivido à pandemia se não fossem os investimentos que fez nos últimos quatro anos, por exemplo, com a renovação de frota e aumento de rotas, nomeadamente para os Estados Unidos.

“O desafio é muito grande e é global. […] A procura não vai vir na velocidade que a gente gostaria. É muito importante neste momento o país se unir à volta do plano futuro da TAP”, acrescentou.

Plano alternativo

Nesta terça-feira, a Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) subscreveu a posição da Associação Comercial do Porto (ACP) sobre a necessidade de encontrar um plano alternativo de viabilização da TAP tendo em conta todos os aeroportos nacionais.

A principal associação hoteleira algarvia subscreveu a posição da ACP, que se opõe à injeção pelo Estado de 1,2 mil milhões de euros para viabilizar a companhia aérea portuguesa, “porque se identifica com as preocupações” da associação portuense “no que se refere à necessidade de o Estado canalizar verbas importantes para as diferentes regiões e aeroportos” nacionais, justificou o presidente da AHETA.

Em declarações à Lusa, Elidérico Viegas argumentou que faz sentido o país “apoiar as companhias aéreas que voam para esses aeroportos e que trazem turistas para o país e para essas regiões”, mas lembrou que esse não é o caso da TAP, que não opera voos diretos do centro e norte da Europa para o Algarve.

“A TAP, como sabemos, tem os voos concentrados apenas em Lisboa, e de alguma forma podemos entender que em relação aos voos intercontinentais faz sentido que se voe primeiro para Lisboa e depois para os outros destinos do país, mas no que diz respeito ao centro e norte da Europa, de onde têm origem mais de 90% dos turistas do Algarve, faz sentido que houvesse voos diretos”, afirmou.

A região é destino de voos de companhias aéreas de bandeira como é o caso da “British Airways, Air France e Lufthansa”, exemplificou, notando que a TAP “tem uma importância meramente residual desde sempre no Algarve”, que “não chega a 3%” do tráfego do aeroporto de Faro.

“Faz sentido é que, sendo o turismo um setor estratégico e prioritário na economia do país, sendo o Algarve a maior e a mais importante região turística nacional, em nome do interesse público, o Estado canalize verbas financeiras importantes para a região para que esta possa captar mais e apoiar companhias aéreas que voam para Faro, porque é por essa via que chegam os turistas à região”, sugeriu.

Elidérico Viegas considerou que, “se a TAP voasse, podia ser apoiada”, mas como “não voa, não fez disso a sua estratégia” e “não quer fazer disso a sua estratégia”, são as companhias que já voam para Faro que “deveriam ser obviamente apoiadas”.

“Os avultados e sucessivos prejuízos da TAP não podem ser imputados ao Algarve. Se a TAP não voa para o Algarve, os prejuízos foram gerados noutro sítio, não no Algarve. Portanto, não podemos pedir agora aos algarvios para suportar os prejuízos da TAP, quando não foram eles que contribuíram para que esses prejuízos existissem”, argumentou.

A ACP anunciou no sábado que iria apresentar “no prazo de uma semana e meia” um “plano B” para assegurar a viabilidade da TAP, mesmo que centrada apenas em Lisboa, e simultaneamente dar “apoio expresso” aos aeroportos do Porto, Madeira, Açores e Faro.

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