Consórcio vai investir mais de 600 ME na TAP e abrir novos voos para EUA e Brasil

David Neeleman e Humberto Pedrosa em conferência de imprensa. Foto JOSE SENA GOULAO/LUSA
David Neeleman e Humberto Pedrosa em conferência de imprensa. Foto JOSE SENA GOULAO/LUSA

Mundo Lusíada
Com agencias

O consórcio Gateway, que venceu a privatização da TAP, vai investir mais de 600 milhões de euros na companhia, entre capital permanente e compra de aviões, declarou em 24 de junho o empresário David Neeleman, que integra o agrupamento vencedor.

“O investimento na TAP supera os 600 milhões de euros”, disse David Neeleman em conferência de imprensa, em Lisboa, depois de ter assinado o contrato de venda de 61% do capital social da empresa ao consórcio Gateway, do empresário norte-americano e brasileiro David Neeleman e do empresário português Humberto Pedrosa, do Grupo Barraqueiro.

O empresário explicou que o consórcio vai colocar 345 milhões de euros de capital permanente, dos quais 270 milhões de euros agora e o restante ao longo de 2016. A este valor soma-se o financiamento para a compra de aeronaves, o chamado PDP (Financing commitments), que será “no mínimo de 150 milhões de euros, mas pode ir até aos 300 milhões de euros”, adiantou.

Ao todo, um pacote de investimento de 600 milhões de euros, mas que David Neeleman admite que poderá subir para os 800 milhões de euros. A estratégia passa para já pela aquisição de pelo menos 53 aeronaves, um número que também poderá aumentar.

Também o empresário português Humberto Pedrosa afirmou que quer tornar a companhia aérea na melhor da Europa e que está nos negócios “para ficar”. O dono do grupo Barraqueiro sublinhou que ser “um dia muito importante para Portugal”, porque “se firma um compromisso de crescimento (…) com base no histórico empresarial de dois parceiros com provas dadas de sucesso e credibilidade”.

“Estamos nos negócios para ficar”, salientou Humberto Pedrosa na cerimônia de assinatura do contrato de venda da TAP, no Ministério das Finanças, garantindo que ambos são fiéis às empresas que criam. Garantiu ainda que os empresários estão apostados em fazer crescer a TAP num projeto de longo prazo, ambicioso, “mas sólido e realista” e que querem fazer da companhia “a melhor da Europa”.

Para Humberto Pedrosa, garantir que o centro de decisão da companhia continua em Lisboa foi um fator decisivo para participar neste projeto: “Posso garantir com orgulho que a TAP é efetivamente portuguesa”.

Sobre David Nelleman, considerou que “é a pessoa certa para garantir que a TAP continuará a ser a empresa bandeira” portuguesa, pois ambos partilham “uma visão de crescimento e futuro para a TAP” e que não passa apenas pela capitalização da transportadora.

O empresário dono da Azul ainda afastou a ideia de que o BNDES irá participar como acionista, o banco estatal brasileiro deve participar apenas no financiamento do negócio, além do envolvimento de bancos em outros países.

O empresário assumiu também que vai ficar com “100% da dívida da TAP”, afirmando que está a trabalhar em conjunto com os bancos. “Este ano vai ser difícil para ganhar lucro, mas no ano que vem, quando implementarmos a mudança, pretendemos ganhar lucro”, disse Neeleman.

Novos voos
David Neeleman ainda afirmou que quer reforçar as ligações da companhia com os Estados Unidos e o Brasil. O empresário afirmou que ambiciona criar mais dez destinos para os Estados Unidos da América (EUA) e oito a dez no Brasil e prometeu que vai “fazer tudo” para reforçar o capital da empresa, comprar mais aviões e “tratar bem as pessoas”, que considerou o principal ativo da TAP.

Salientou ainda que a TAP é uma empresa muito importante para Portugal e que, por isso, quando o Governo pediu 30 anos de compromisso para o ‘hub’ (centro de operações) permanecer em Portugal, respondeu: “Podemos dar 100 anos”.

Neeleman detalhou algumas das novas dez rotas que quer criar para os Estados Unidos, que incluem Boston, Washington e Chicago. Além de fazer entre oito a dez novas rotas para o Brasil, salientando que a TAP recebe 26% dos passageiros que vão do Brasil para a Europa.

O empresário brasileiro e norte-americano, dono da companhia aérea brasileira Azul, adiantou que vão ser adquiridas 53 aeronaves, 14 Airbus 330-900 NEO e 39 Airbus A320 ou A321, os aparelhos que considerou mais baratos e eficientes para viagens de longo curso.

Afastou, no entanto, qualquer possibilidade de voar para a China, pelo menos para já.
“As empresas que estão a voar para lá estão a ter muitos problemas”, justificou, reforçando: “queremos fazer um lado do mundo para ganhar dinheiro, não estamos aqui para queimar dinheiro”.

Neeleman adiantou ainda que vai ser feita a reconfiguração das cabinas dos A330-200 em uso atualmente, a fim de melhorar o conforto dos passageiros.

Processo
A Comissão Europeia confirmou nesta quarta-feira à Lusa que está a analisar uma queixa que recebeu sobre a venda de participação da TAP, no dia em que foi assinado o contratado de venda de 61% da companhia aérea ao consórcio Gateway.

Um dia após a Associação Peço a Palavra ter anunciado que foi aberto um “processo oficial de inquérito” no âmbito da denúncia que efetuou em Bruxelas sobre a alegada ilegalidade do caderno de encargos da privatização da TAP, o gabinete de imprensa da comissária com a pasta do Mercado Interno indicou à Lusa que a Comissão recebeu efetivamente “uma queixa relacionada com a venda de participação da TAP”, não podendo identificar o queixoso, “e está a analisá-la”.

“Mesmo que venha um novo Governo, tenho a certeza de que vai aprovar o nosso projeto”, disse o empresário português, depois de ter assinado o contrato. “Se amanhã houver um novo Governo, seja que governo for, e se a TAP já estiver numa situação melhor do que a que está hoje, com certeza que o Governo acha que foi boa opção e que deve continuar nas mãos de privados”, reforçou Humberto Pedrosa.

David Neeleman reconheceu que “é claro, que o negócio pode ser travado”, mas sublinhou que o plano para a transportadora “é muito bom” e vai acabar por colher apoio junto dos diferentes quadrantes. “Sem dinheiro a TAP não vai para a frente. O nosso plano é muito bom e os sindicatos vão gostar bastante”, disse.

O consórcio foi questionado sobre a eventualidade de uma reversão do negócio, depois de o Partido Socialista ter insistido no contrato não incluir uma cláusula de anti-reversão contratual, chegando a avisar que desencadearia todos os mecanismos para requerer a ilegalidade do contrato entre o Estado e o agrupamento Gateway, caso o mesmo incluísse essa possibilidade.

Em 11 de junho, o Governo aprovou a venda de 61% do capital social da TAP ao consórcio Gateway, de David Neeleman e do empresário português Humberto Pedrosa – um dos dois finalistas do processo de privatização da transportadora aérea portuguesa.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: