Comparar desemprego de 2015 com o de 2011 é como “batatas e laranjas”, diz BE

Mundo Lusíada
Com agencias

Logo_DesempregoA coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, declarou que comparar a taxa de desemprego de 2015 com a de 2011, “é como comparar batatas com laranjas”, e acusou o Governo de propaganda nesta matéria.

“Vimos nos últimos dias a enorme propaganda sobre a suposta descida da taxa do desemprego. Ouvimos até dizer que a taxa de desemprego tinha descido, quando comparada com 2011. E isto depois de quatro anos de um Governo em que a cada mês dez mil pessoas emigraram e a cada dia 220 postos de trabalho foram destruídos”, disse a líder do BE, na Costa de Caparica, Almada.

O Instituto Nacional de Estatística estima que a taxa de desemprego para junho deste ano se situe nos 12,4%, o que levou vários elementos do Governo a comparar estes resultados com a taxa que se verificava em 2011 (12,7%), quando o executivo tomou posse.

Para a coordenadora do BE, comparar os dois valores, é como comparar batatas com laranjas, porque entre 2011 e 2015 a forma de contabilizar a taxa de desemprego alterou-se. Martins apresentou ainda outros números para demonstrar que os dois valores não são comparáveis.

“É que de lá para cá (entre 2011 e 2015), saíram do país 400.000 pessoas, de lá para cá, as pessoas que estão desempregadas há tanto tempo, que até já saíram das estatísticas, duplicaram, e de lá para cá, multiplicaram por seis os estágios”, salientou.

A bloquista disse ainda que há também hoje em Portugal menos 210 mil empregos do que em 2011. Acrescentou que, se a esse número se somar os estágios, “foram destruídos 300.000 postos de trabalho” nestes quatro anos, considerando este número “assustador”.

Catarina Martins acusou o Governo de usar estratégias para ocultar a real taxa de desemprego. “Para mascarar a taxa de desemprego, não tem sido outra coisa do que dinheiro do Estado a retirar pessoas das estatísticas do desemprego, com falsas formações, com estágios, com contratos de emprego-inserção. Com tudo, menos como a dignidade que se exige a quem trabalha: um contrato de trabalho e um salário”, vincou a bloquista.

Perante algumas dezenas de apoiantes, a líder do BE defendeu que nenhuma empresa possa ter acesso a programas de estágio financiados pelo Estado, se não contratar, pelo menos, um em cada dois estagiários. E pediu igualmente o fim das empresas de trabalho temporário, as quais, “não são precisas para absolutamente nada e só servem para ficar com uma parte do salário” do trabalhador. Catarina Martins voltou a defender a reposição dos salários e pensões e o aumento do salário mínimo nacional.

Segundo uma economista afirmou ao Dinheiro Vivo, 509 mil portugueses sem emprego ficam de fora das contas do INE, já que não são contabilizados os trabalhadores inativos, que não procuraram emprego no período do inquérito, e os em subemprego. “Se analisarmos os desempregados com subsídio e somarmos a esses os desempregados sem subsídio, os inativos e subempregados, é que temos mais de 10% da população em crise. Além de que, entre os desempregados, não contam os que estão a fazer cursos de formação e estágios”, afirmou ao dinheiro vivo a economista Mariana Abrantes de Sousa.

Aproveitamento político
Diante das manifestações, a Comissão de Trabalhadores do Instituto Nacional de Estatística [INE] expressou “repúdio pelo aproveitamento político” com suas informações, pondo em causa “credibilidade e independência da instituição”, lê-se no comunicado enviado às redações.

O INE lembra que o instituto é uma entidade independente e “prementemente escrutinada”, tanto a nível nacional como internacional, e recordam que as estatísticas mensais do desemprego são provisórias “produzidas segundo um modelo rigorosamente definido, assente em metodologias consistentes e validadas a nível internacional”.

Quanto ao conceito de desemprego, que várias vezes provoca debate público, dizem que a “utilização de um conceito alternativo inviabilizaria a comparabilidade das estatísticas do mercado de trabalho com os restantes Estados Membros”, tendo em conta que este é um conceito harmonizado a nível internacional.

“As afirmações que têm sido proferidas por intervenientes de diferentes quadrantes políticos são reveladoras de um profundo desconhecimento técnico e de uma falta de literacia estatística que a CT não pode deixar de lamentar, considerando o grau de responsabilidade de quem as emitiu e os efeitos que, por esse motivo, são gerados na opinião pública”, lamenta.

Nos arquipélagos
A taxa de desemprego entre os 15 e 34 anos atinge mais de um quarto da população na Madeira e Açores, sendo a mais alta do país nessa faixa etária, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Além das regiões Autônomas da Madeira (27,8%) e Açores (25,3%), a taxa de desemprego entre os 15 e os 34 anos está acima da média nacional (20,4%) no Alentejo (22,4%) e na região Norte (21%). De acordo com o Retrato Territorial de Portugal, abaixo da média nacional no desemprego jovem estão a Área Metropolitana de Lisboa (19,9%), o Algarve (19,2%) e a região Centro (18%).

Já a taxa de jovens entre 15 e 34 anos não empregados e que não frequentam atividades de educação e formação aumentou, de 2011 para 2014, na Madeira, Açores, Alentejo e Norte e diminuiu no Algarve, Área Metropolitana de Lisboa e região Centro.

A região Centro era aquela que apresentava o valor mais baixo do país (12,5%) seguida de Lisboa, com 14,1%, ambas abaixo da média nacional de 15,2%. O valor médio nacional aumentou em um ponto percentual de 2011 para 2014, situando-se, ainda assim, abaixo da média dos 28 países da União Europeia, que era de 16,5%.

Acima da média nacional na taxa de jovens entre os 15 e 34 anos não empregados e que não frequentam atividades de educação e formação estão o Norte (15,6%), o Algarve (15,9%), Alentejo (16,7%), Madeira (22,6%) e Açores (24,8%).

Já a proporção de trabalhadores com profissões não qualificadas e com habilitações ao nível do ensino secundário ou superior aumentou entre 2011 e 2014 em todas as regiões do continente, não tendo o INE divulgado dados das ilhas.

O Instituto Nacional de Estatística assinala um “acentuar do desajustamento entre as habilitações e o emprego obtido”, que afetava, em 2014, mais de um em cada cinco (21,2%) trabalhadores com profissões não qualificadas no continente, proporção que, três anos antes, se cifrava em 15,6%.

O INE assinala que, entre 2011 e 2014, a taxa de emprego da população entre 20 e 64 anos “diminuiu para o total do país e também para a maioria das regiões NUTS II”, excetuando-se, nestas, o Algarve e a Área Metropolitana de Lisboa, que registraram aumentos ligeiros.

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