“Como Xangai, Portugal tem longa tradição de abertura ao mundo” diz Costa na China

O primeiro ministro, António Costa fala durante a conferencia de imprensa conjunta com o primeiro-ministro da República Popular da China, Li Keqiang, no âmbito da visita de Estado à República Popular da China e à Região Administrativa Especial de Macau, no Palácio do Povo, em Pequim, 09 outubro de 2016. ESTELA SILVA/LUSA
O primeiro ministro, António Costa fala durante a conferencia de imprensa conjunta com o primeiro-ministro da República Popular da China, Li Keqiang, no âmbito da visita de Estado à República Popular da China e à Região Administrativa Especial de Macau, no Palácio do Povo, em Pequim, 09 outubro de 2016. ESTELA SILVA/LUSA

Mundo Lusíada
Com agencias

Em visita oficial a China, o primeiro-ministro português evocou a “longa tradição” de abertura ao mundo de Portugal e da região de Xangai para defender o país como “porta de entrada” dos investidores chineses na União Europeia. Esta posição foi assumida por António Costa no “Fórum Investimento em Portugal”, perante centenas de empresários chineses da região de Xangai.

Na sua intervenção, além de referência ao caráter histórico e cosmopolita de Xangai – e de elogiar a cidade “por se encontrar sempre em mudança” -, o primeiro-ministro também aconselhou potenciais investidores chineses a consultarem responsáveis de grandes grupos, como a Fosun ou a Haitong, para que lhes falem sobre como é estar presente em Portugal.

Mas António Costa deixou sobretudo a mensagem de que estar em Portugal é o mesmo que estar em todo o espaço da União Europeia.

“Tal como Xangai, Portugal tem uma longa tradição de abertura ao mundo, e é um país membro da União Europeia. Portanto, investir em Portugal, ter visto para entrar ou para residir em Portugal é o mesmo que investir, exportar ou residir em qualquer país da União Europeia. Por isso, Portugal pode ser uma excelente porta para se entrar na União Europeia”, sustentou.

Neste contexto, o primeiro-ministro falou na política de “abertura” seguida por Portugal na concessão de vistos a cidadãos chineses, os chamados `vistos gold`.

“Temos registrado um elevado crescimento do número de cidadãos chineses que residem ou investem em Portugal. Não somos um país que se dirige só às grandes empresas, mas a todas as pequenas e médias que queiram investir no país. Dirigimo-nos também a todos os que querem estudar em Portugal”, afirmou ainda.

No seu discurso, António Costa disse que nas relações entre Portugal e a China “ainda há um grande potencial para desenvolvimento nos setores financeiro e da energia”, mas acentuou que há boas oportunidades por explorar em Portugal, como no setor automóvel.

Sobre este setor, o primeiro-ministro referiu mesmo que o país tem já uma tradição de produção e “desenvolveu” um `cluster` ao nível do mercado de componentes na sequência da instalação em Portugal de fábricas alemãs, francesas e japonesas. “Temos feito grandes esforços ao nível da investigação sobre o futuro da indústria automóvel”, declarou, numa alusão aos projetos de mobilidade elétrica.

António Costa falou ainda em oportunidades de negócios em Portugal nos setores dos têxteis, do calçado (que disse ser o segundo mais caro do mundo em valor), no agroalimentar (desde a carne, à fruta, passando pelo azeite e vinho), mas, igualmente, no turismo.

O primeiro-ministro referiu aos empresários chineses que o turismo cresceu 10% no último ano e que “a rendibilidade dos hotéis subiu 17%”. “Este é um crescimento que vai prosseguir, porque há cada vez mais novos mercados emissores que passam a trabalhar com o mercado de Portugal”, justificou.

O dia em Xangai do primeiro-ministro começou com um pequeno-almoço com empresários, entre os quais se encontravam representantes de alguns dos maiores grupos econômicos desta região da China. Estiveram também presentes no pequeno-almoço, além do ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, o presidente da Haitong, Jie Zhou, o líder da Tengda Constructions, Ye Yongxing, e o presidente da Shangai Wordoor Tecnology, Qiu Lijun.

António Costa esteve ainda presente numa mostra de produtos nacionais em Xangai, intitulada “Portugal Flavours”, com a presença de várias marcas nacionais de vinho, azeite, conservas, queijos, enchidos e chocolates.

No final da tarde na China, foi anunciado que a “Portugal Food”, associação de empresas agroalimentares, vai assinar um protocolo com a “City Shop” chinesa, considerada a maior distribuidora de produtos estrangeiros para supermercados da China.

Nas suas declarações durante viagem, António Costa abordou ainda a existência de “um cada vez maior número de chineses a aprender português” e de haver 30 instituições universitárias da China que ensinam a língua portuguesa. “Os países de língua oficial portuguesa não se resumem a Portugal, são nove países, desde o Brasil a Timor-Leste. Toda esta comunidade lusófona é uma área muito importante e em franco desenvolvimento”, acrescentou o primeiro-ministro, destacando neste ponto o papel de Macau como plataforma de aproximação da China a este grupo de países.

Chineses enganados
Foram quase três mil chineses que chegaram a Portugal nos últimos anos através dos “Vistos Gold”, mas a Liga dos Chineses em Portugal acusa o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de dificultar a renovação das autorizações de residência. Ao todo, vivem em Portugal mais de 21 mil chineses, a maioria chegou na década de 80.

Segundo a Liga, centenas de chineses que aderiram aos vistos gold sentem-se “enganados por Portugal”. “Os ministros e vice-primeiros-ministros anunciaram o golden visa e a comunidade chinesa em Portugal fez esforços para trazer investidores, mas agora para eles é uma “propaganda falsificada” declarou presidente da Liga dos Chineses em Portugal Y Ping Chow. “O mínimo era 500 mil euros, mas eu tenho amigos que gastaram 2 ou 3 milhões, além de grupos que investiram 10 ou 15 milhões”.

De acordo com declarações à TSF, Y Ping Chow conta que tudo se complicou depois de 2014 quando do diretor do SEF e um chinês terem sido presos por corrupção nos vistos gold: “desde esse momento os dirigentes do SEF têm muito medo de encontros com chineses o que é um sinal de falta de credibilidade de si próprios”. “Já fizeram o investimento, estamos fartos de esperar e as pessoas sentem-se enganadas”, afirma um empresário chinês em entrevista à TSF.

O órgão português admitiu atrasos nos vistos e prometeu resolver toda a situação até final do ano com “medidas de esforço”.

Durante sua visita, o primeiro-ministro destacou a política do Governo português de alargar o programa de `vistos gold` a novas áreas de investimento e o plano de criar um novo consulado em Cantão para cobrir o sul da China.

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