Presidente de Portugal chega a Guiné-Bissau num clima “o mais plural possível”

Da redação com Lusa

Na noite desta segunda-feira, o Presidente português afirmou desejar que os contatos institucionais na Guiné-Bissau decorram num clima “o mais plural possível” e referiu que há dias falou com guineenses que protestavam contra esta visita oficial.

Marcelo Rebelo de Sousa discursava num hotel de Bissau, perante representantes da comunidade portuguesa, num encontro que começou mais de três horas depois do previsto, devido ao atraso da sua chegada à Guiné-Bisssau, vindo de Cabo Verde, na segunda-feira, e à demora no percurso do aeroporto até ao centro da capital guineense, durante o qual foi saudado por uma multidão.

Encontro com representantes da Comunidade Portuguesa na Guiné-Bissau

O chefe de Estado português, que permanece em Bissau até ao fim do dia, depois de em outubro do ano passado ter recebido em Lisboa o seu homólogo guineense, Umaro Sissoco Embaló, afirmou que “o estreitamento das relações bilaterais e o simbolismo da troca de visitas de um chefe de Estado e de outro num espaço de seis meses significa a vontade de ir mais além”.

Depois, em resposta a críticas que tem recebido por esta visita oficial à Guiné-Bissau, a primeira de um Presidente português desde 1989, acrescentou: “Terei, naturalmente, os contatos institucionais mais importantes, num clima que quero o mais plural possível – que nós, portugueses, somos plurais”.

“Isso explica por que razão eu fiz questão de aparecer pessoalmente a uma reunião em Belém em que eram recebidos manifestantes reticentes quanto à minha vinda, para lhes explicar muito fraternalmente a razão de ser dessa visita”, referiu, observando: “E penso que fiz bem”.

Marcelo Rebelo de Sousa adiantou que, na sua ausência, “serão recebidos outros manifestantes por representantes da Presidência da República, porque o pluralismo é isso”.

“É como o pluralismo na Assembleia [Nacional Popular da Guiné-Bissau], onde eu vou ter oportunidade de encontrar representantes de várias formações de opinião política e de expressão política da vida guineense”, salientou, declarando que “Portugal quer verdadeiramente abraçar todos os guineenses”.

Por outro lado, o Presidente português defendeu que “há um mundo de coisas a fazer” na cooperação entre Portugal e a Guiné-Bissau, que devem ser empreendidas “para além das circunstâncias de cada instante” e dos protagonistas políticos.

“A nossa relação, a nossa amizade, a nossa cumplicidade, a nossa fraternidade é duradoura, não depende de quem é o Presidente português ou o Presidente guineense, de quem é o Governo português ou o Governo guineense, de quem é quem em cada momento histórico”, argumentou.

No mesmo sentido, prosseguiu: “Nós somos apenas protagonistas por um prazo limitado de uma relação muito mais profunda e muito mais longa. Temos de dar o nosso melhor para que essa relação se aprofunde, e tenha mais futuro do que presente e do que passado. E é possível, e é desejável, e é fundamental”.

Marcelo Rebelo de Sousa assinalou que à chegada à capital guineense foi recebido também por embaixadores de países da União Europeia e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) na Guiné-Bissau, o que apontou como sinal de “solidariedade, em particular europeia, mas também lusófona, a reconhecer a importância desta visita”.

No seu entender, o programa “não é ainda aquilo que, passada a pandemia, será possível fazer e irá ser feito, que é ir até às atividades econômicas e sociais, ir até às estruturas sanitárias, ir até ao contacto escolar, portanto, ir mais longe em termos de futuro, mas é um recomeço bilateral de conversas em termos de visitas de chefes de Estado”.

Quanto à importância dos contatos políticos, Marcelo Rebelo de Sousa sustentou que “há um campo único em que as relações humanas são insubstituíveis”, porque “delas nasce a cooperação”.

De acordo com estimativas oficiais, vivem na Guiné-Bissau cerca de 2.500 portugueses, embora muitos não estejam permanentemente no país.

O Presidente português elogiou “a capacidade de resistência, de afirmação, a coragem e determinação de portugueses e luso-guineenses ao longo destas décadas” e disse-lhes: “África é muito especial, ou se ama ou não se ama. Eu sou daqueles que amam, há muitas décadas”.

Multidão

Milhares de pessoas espalhadas continuamente ao longo dos cerca de oito quilômetros que distanciam o aeroporto do centro da cidade acompanhavam a chegada de Marcelo Rebelo de Sousa, que saiu várias vezes do carro para ir ao encontro da multidão efusiva, provocando grande agitação nas forças de segurança.

À sua passagem, pessoas corriam e gritavam “Presi, Presi”, outras agradeciam a sua vinda, ao fim 31 anos sem uma visita oficial de um Presidente português a este país. Também se ouvia o nome do Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, e pedidos de vistos para entrar em Portugal: “Visa, visa”.

Já no final da avenida, artistas cantavam e dançavam num palco improvisado no cimo de um camião, que acompanhou parte do percurso da longa comitiva de Marcelo Rebelo de Sousa, composta por dezenas de viaturas.

Forças Armadas

Marcelo Rebelo de Sousa encontrou-se à noite, em Bissau, com representantes de ex-combatentes deficientes das Forças Armadas Portuguesas.

“No quadro da visita oficial à Guiné-Bissau, o Presidente da República encontrou-se com dois representantes da Associação dos ex-Combatentes Deficientes das Forças Armadas Portuguesas na Guiné-Bissau, com quem abordou alguns dos temas que mais os preocupam”, segundo nota da Presidência da República.

O encontro, que não constava do programa oficial desta visita à Guiné-Bissau, decorreu na segunda-feira à noite no Centro Cultural da Embaixada de Portugal em Bissau.

Na terça-feira à tarde, Amadu Djau, presidente da associação de deficientes de guerra formada por guineenses que serviram o exército português, anunciou em declarações à Lusa que iria apresentar a Marcelo Rebelo de Sousa um caderno reivindicativo “que deve ser cumprido por Portugal”.

O caderno reivindicativo inclui, entre outros pontos, a devolução da nacionalidade portuguesa aos ex-militares guineenses, o pagamento da sua pensão de reforma, de sangue e de invalidez e o acesso a tratamento medico para os ex-combatentes e seus familiares em Portugal.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: