Diáspora é 10ª ilha dos Açores, diz governo regional

No apontamento do primeiro-ministro José Maria Neves, Cabo Verde era anteriormente uma sociedade de despedida e acolhimento. “Mas a globalização fez de todos nós as duas coisas”, afirmou no encerramento da Conferência Metropolis.

 

Por Vanessa Sene
Especial de Ponta Delgada, nos Açores para o Mundo Lusíada

Do Governo dos Açores, André Bradford, ao lado do primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves. Fotos: Mundo Lusíada

Açores é uma região de migrações praticamente desde a sua autonomia, em 1976, afirmou o Secretário do Governo Regional da Presidência, André Bradford, na sessão de encerramento da Conferência Metropolis. Mais de 1,5 milhão de açorianos vivem fora do arquipélago.
“Não podemos falar dos Açores sem falar da sua diáspora” disse Bradford, citando que os Açores é muito maior do que seu espaço físico de nove ilhas. Por isso, o governo procura corresponder com responsabilidade aos cidadãos residentes na diáspora, a qual representa a 10ª ilha dos Açores – “a maior, mais vasta e mais populosa de todas” disse.
Somente nos Estados Unidos e Canadá, existem mais de mil associações açorianas. O governo regional tem procurado criar sinergias com essas instituições que trabalham para conservar e difundir a cultura açoriana. Em Portugal existem mais de uma dezena de associações, e Brasil também conta com Casas dos Açores. Elas são, para o governo, como postos consulares. Com dinamismo e credibilidade, “sentimos representados” diz Bradford.
A agenda das casas açorianas no mundo é definida no Conselho Mundial das Casas dos Açores, que conta com apoio do governo, além de manter acordos com algumas entidades, e promover ações, como intercâmbios, para integrar as gerações mais jovens. André Bradford finalizou a sua explanação dizendo que ser açoriano no estrangeiro não é apenas uma questão cultural ou gastronômica, mas “é uma questão de alma”.

CABO VERDE

O primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves.

O primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, foi o último a falar na Conferência Metropolis 2011. Nesta sessão de encerramento, o premier falou da importância da questão imigratória para o arquipélago, citando as semelhanças com o arquipélago dos Açores.
De acordo com Maria Neves, a figura do imigrante é tão forte no país que quase se afirma no meio natural. “Olhamos para a problemática” da imigração sem descuidar que “somos um país migratório de destino” afirmou, citando a fuga da pobreza mais do que a procura por espaços como principal razão migratória no arquipélago.
Os primeiros imigrantes caboverdianos, no século 16, escolheram Brasil como destino, seguido de Estados Unidos. Ao longo do século 19, formaram-se importantes comunidades imigrantes, as quais são notórias na Argentina, Uruguai e Portugal. Os caboverdianos imigraram por três grandes fases: a primeira até 1926 tendo EUA como principal destino; de 1927 a 1945 foram os destinos Brasil e Argentina, principalmente pelas restrições nos EUA, além de outras comunidades que começaram a se destacar como São Tomé e Príncipe, Guiné, Angola e Portugal; e a terceira fase até 1973, tendo como destinos França, Luxemburgo, Itália, Suíça. Europa e EUA permaneceram como destinos preferenciais.
Segundo o primeiro-ministro, essa movimentação criou impactos econômicos, sociais e políticos, transformando-se numa questão importante para o país. Com as remessas enviadas pelos caboverdianos no exterior, se deu origem a um fluxo que chega a ser um dos motores da economia do arquipélago.“A participação do emigrante foi fundamental para Cabo Verde” cita o primeiro-ministro.
Ainda, nas comunidades da diáspora, os aspectos culturais se mantém muito fortes, como por exemplo a língua crioula. “O emigrante não desprende do seu modo de origem” cita Maria Neves, descrevendo a diáspora como a afirmação do espaço nacional fora do território, e que se acrescenta ao arquipélago. A população do “Cabo Verde global” é maior do que nas ilhas, mas as comunidades na África, Europa, Américas são parte integrante da mesma nação caboverdiana, afirma.
No apontamento do primeiro-ministro, Cabo Verde era anteriormente uma sociedade de despedida e acolhimento. “Mas a globalização fez de todos nós as duas coisas” disse. “Antes Cabo Verde era ‘cais de ver partir’, construímos assim formidáveis diásporas, a partir do nosso cais. Mas passou também a ser cais de ver chegar” citou José Maria Neves, exemplificando com comunidades do Brasil, Açores, Ucrânia, Nigéria, Portugal e outras, residentes no território caboverdiano.
Portanto, finalizou, como gerir as novas questões na política de imigração nas sociedades de Cabo Verde a partir de então é um novo desafio para todos.

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