10 Junho: Portugal não pode desistir de “criar mais riqueza, mais igualdade, mais coesão” – Presidente

Mundo Lusíada com Lusa

Neste 10 de Junho, em Peso da Régua, o Presidente da República defendeu que Portugal não pode desistir de criar mais riqueza, igualdade, mais coesão, considerando que só isso permitirá que continue a ter a sua “projeção no mundo”.

“Não podemos desistir nunca de criar mais riqueza, mais igualdade, mais coesão, distribuindo essa riqueza com mais justiça”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa no seu tradicional discurso na cerimônia militar comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que decorre hoje no Peso da Régua, distrito de Vila Real.

Só dessa forma, prosseguiu o chefe de Estado, Portugal poderá continuar a ter a sua “projeção do mundo”, o seu “desígnio nacional”.

“É a nossa vocação de sempre: fazermos pontes, sermos plataforma entre oceanos, continentes, culturas e povos. Outros há, e haverá, que são e serão mais ricos do que nós, mais coesos do que nós, mas com línguas que poucos conhecem, incapazes de compreenderem o mundo, de o tocarem e de o influenciar, mesmo aquele mundo que está mesmo à beira da sua porta”, disse.

O chefe de Estado destacou a influência de Portugal e da língua portuguesa no mundo, dando o exemplo das forças militares destacadas em missão, a reeleição do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e os compatriotas à frente de empresas e universidades, em áreas como a arte ou a tecnologia.

“É de pasmar para tão pequeno território terrestre e tão reduzida população. Temos um peso no mundo muito muito maior, de longe, do que o nosso território terrestre”, referiu, destacando também a influência marítima e área do país.

Marcelo Rebelo de Sousa questionou, contudo, essa influência: “De que nos serve termos essa influência mundial, se, entre portas, sempre tivemos e temos problemas por resolver?”.

“Mais pobreza do que riqueza, mais desigualdade do que igualdade, mais razões para partir às vezes do que para ficar. Sejamos honestos para conosco mesmos, assim tem sido e continua a ser século após século”, acrescentou.

Relembrando os “tempos mais ricos” do império colonial, a “longa e penosa” restauração da independência, as “insensatas” expulsões de não-cristãos, o “delírio” do ouro, pimenta e prata, Marcelo Rebelo de Sousa terminou evocando o o Estado Novo, tempo em que, enalteceu, “as finanças estavam certas, mas a liberdade, saúde, educação e segurança social ou não existiam ou eram para um punhado de privilegiados”.

“Tudo isto foi e às vezes ainda é verdade”, observou.

Ramos mortos

Presidente considerou ainda necessário “cortar os ramos mortos que atingem a árvore toda”, advertindo que, só se não se quiser, é que “Portugal não será eterno”.

No seu discurso na cerimônia militar, Marcelo Rebelo de Sousa pegou na vocação universalista do país e na luta da região do Douro para se projetar para deixar alguns recados, numa altura em que a política portuguesa continua centrada na polêmica em torno do incidente no Ministério das Infraestruturas e no envolvimento do SIS na recuperação de um computador de um adjunto do ministro João Galamba.

O chefe de Estado considerou que o país não quer “nunca cometer o erro” de trocar a sua vocação universal pela ilusão de que, para ser feliz, é necessário deixar de ser o que o marcou “há séculos”.

“Mas atenção, que isso não seja álibi ou justificação para não sermos mais fortes e mais justos cá dentro, até para podermos ser mais fortes e justos lá fora”, frisou.

Segundo o chefe de Estado, “é esse o apelo deste Douro e de todos os Douros”: “Pegarmos no impossível, tentarmos uma vez, com vezes, mil vezes, falharmos mais do que acertamos, (…) não desistirmos, começarmos de novo”.

“Darmos de novo viço ao que disso precisar. Plantarmos, semearmos, podarmos, cortarmos os ramos mortos que atingem a árvore toda. Recriarmos juntos, neste Douro, em todos os nossos Douros, o que faça o nosso futuro muito diferente e muito melhor do que o nosso presente”, declarou, sem nunca mencionar diretamente qualquer caso político atual.

Com o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro das Infraestruturas, João Galamba, a ouvi-lo na plateia, o Presidente da República disse: “Só se não quisermos é que o nosso Portugal não será eterno”.

Neste discurso, de pouco mais de 15 minutos, Marcelo Rebelo de Sousa salientou que o 10 de Junho deste ano é “muito diferente dos últimos” por ser comemorado no Peso da Régua, uma “cidade do interior, que nunca foi nem capital de distrito, nem cabeça de diocese”.

“É o retrato do Portugal que queremos, porque nós queremos que os Pesos das Réguas dos nossos interiores sejam tão importantes quanto as Lisboas, os Portos, os Setúbais, as Coimbras, os Aveiros, as Vianas do Castelo, os Faros deste nosso continente e, claro, os Funchais, os Portos Santos, as Pontas Delgadas, as Angras do Heroísmo, as Hortas, os São Jorges, as Madalenas, as Santas Marias, as Graciosas, as Flores e os Corvos”, elencou.

Por outro lado, o chefe de Estado salientou também que este 10 Junho une 19 municípios, “como que a dizer que só a união faz a força, a união na diversidade, mas a união em torno daquilo que é mesmo essencial para todos eles” e para todos os portugueses.

Marcelo Rebelo de Sousa destacou que o Douro “será sempre um exemplo da vontade, da persistência, da determinação dos homens e das mulheres perante uma natureza única, mas avassaladora, inclemente, quase indomável”.

Para o Presidente da República, o vinho do Douro “projetou Portugal no mundo e continua a projetar”, numa altura em que o “crescimento e a justiça social” que o país ambiciona “se fazem de investimento, de exportações de bens, como esse vinho de excelência, e também de exportações de serviços”.

“Só somos verdadeiramente portugueses na medida em que sempre fomos e somos universais, mas sempre disponíveis para a solidariedade em relação aos outros”, disse.

Neste ponto, o chefe de Estado abordou o caso de Manuel Ponte, o português que, esta quinta-feira, ajudou a impedir um atacante de fugir à polícia num parque infantil em Annecy, nos Alpes Franceses, para salientar que, esse cidadão, com mais de 70 anos, “fez aquilo que outros, com menos de 70 anos de idade, não fizeram”.

“Partimos há mais de seis séculos e nunca deixamos de ir e de vir, de largar e de voltar, por pobreza, por aventura, por desejo de horizontes mais largos, por sobrevivência, algumas vezes, tantas vezes, convertida em realização e de entender, ao mesmo tempo, que temos de receber outros, tal como exigimos que eles nos recebam a nós”, disse.

O Presidente da República acrescentou ainda que o Douro, que está “de novo navegável, e tantos velhos do Restelo não acreditavam, está hoje aqui no seu potencial, contribuindo para o desenvolvimento da região e o bem-estar dos seus habitantes”.

“Obras fundamentais que fizemos e outras que não fizemos e continuamos a adiar”, frisou.

As comemorações do Dia de Portugal, de Camões das Comunidades Portuguesas terminam hoje no Peso da Régua com a tradicional cerimônia militar do 10 de Junho, depois de terem passado pela África do Sul.

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