Mundo Lusíada com Lusa
O treinador Artur Jorge foi nesta terça-feira condecorado com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, após conquistar a Taça Libertadores de futebol pelo Botafogo.
“É um momento muito feliz para Portugal o reconhecimento de mérito excecional de um dos nossos melhores, ainda por cima na pátria-irmã do Brasil, revelado num curto período de tempo e nos certames mais significativos do Brasil e da América do Sul. O seu sucesso é o sucesso de Portugal e não é por acaso que a ordem escolhida é a do Infante D. Henrique, que liderou os mares e a expansão noutros continentes”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, numa cerimônia realizada no Palácio de Belém, em Lisboa.
Artur Jorge, de 52 anos, chegou ao clube brasileiro há apenas oito meses, mas bastou para conquistar o campeonato nacional, 29 anos depois do último título do Botafogo, e uma inédita Taça Libertadores, ao vencer na final o Atlético Mineiro, em Buenos Aires.
“Este reconhecimento deixa-me bastante satisfeito e é sinal de todo o trabalho que foi investido numa época desportiva, projeto e aventura extremamente bem-sucedidos. É muito importante poder fazer parte de uma elite que acrescenta e eleva cada vez mais a marca de Portugal e o seu símbolo de qualidade”, frisou o treinador, no seu discurso.
Em respostas aos jornalistas presentes, Artur Jorge ressalvou que, apesar da ambição e determinação com que encarou a sua primeira aventura no estrangeiro, esta “superou todas as expectativas”, o que faz abrir portas e aumentar a vontade em “querer mais”.
“Fui para um campeonato extremamente competitivo, que exige muito do trabalho do treinador, mas também foi uma prova de superação, para conseguir ter a consistência necessária para vencer um Brasileirão e a capacidade de coragem para vencer a Taça Libertadores, com todos os desafios e um grau de exigência elevado. Chegar hoje aqui e ter este reconhecimento do país é ainda mais importante e impactante para o ano de 2024 que tive desportivamente”, disse o técnico, que se fez acompanhar pela família.
Artur Jorge detalhou a “chave do sucesso” para uma época “extraordinária”, com um “comportamento de excelência”, união e coesão, culminada com a inédita conquista de uma Libertadores e de um título brasileiro no qual a margem de erro “é mínima”.
“Não pensaria nunca estar aqui neste momento, até porque sabia da difícil tarefa que tinha em mãos. É um momento de satisfação e grande orgulho. Fazemos parte de uma elite de clubes brasileiros que ganharam a Libertadores e o Brasileirão no mesmo ano, juntamente com Santos e Flamengo. Fico muito feliz de poder fazer parte de uma elite de treinadores que acrescentaram e deixaram a marca de qualidade do treinador luso no mundo. Fazer parte desse restrito lote deixa-me também muito orgulhoso”, atirou.
Artur Jorge tornou-se o terceiro treinador português a conquistar a Taça Libertadores, repetindo o que Jorge Jesus tinha conseguido ao serviço do Flamengo, em 2019, e Abel Ferreira pelo Palmeiras, em 2020 e 2021, na maior prova de clubes da América do Sul.
No Brasil
Em entrevista, declarou ainda ser mais difícil ser campeão no Brasil do que num dos ‘três grandes’ de Portugal.
Ainda assim, o treinador admitiu que “há propostas” de outros clubes, como já o tinha assumido publicamente, “mas, nesta altura, é prematuro falar do que quer que seja”.
“O meu futuro é ter contrato com o Botafogo até dezembro de 2025. Em janeiro, vamos ver aquilo que vamos decidir e começar o nosso trabalho para a próxima temporada. Um regresso a Portugal? Isso é muito difícil acontecer nesta altura, não passa por aí o meu futuro imediato uma vez que até à data não é daí que têm vindo os contactos com o meu agente. Se recebi algum convite de Portugal? Convite, não”, sorriu, admitindo apenas “alguns contactos mais informais”.
Questionado sobre se as conquistas no Brasil lhe dão a certeza que, a médio prazo, está capaz de assumir um projeto num dos ‘três grandes’ de Portugal, Benfica, FC Porto ou Sporting, responde “seguramente”, notando que ganhar um ‘Brasileirão’ e uma Libertadores na mesma temporada “é uma demonstração de competência”.
“Acho que isto só é uma confirmação de um trabalho. Por vezes, nós temos que nos pôr à prova e que nos desafiar em contextos diferentes e eu arrisco-me a dizer que é muito mais difícil ser campeão no Brasil, no Botafogo, do que em qualquer um dos ‘três’ aqui em Portugal. Não tenho dúvidas nenhuma disso, porque a competitividade do campeonato é muito diferente e mais exigente”, disse.
O peso da Libertadores
A conquista da Taça Libertadores de futebol pelo Botafogo, cuja final é um jogo que “marca para a vida”, pesa mais na ‘balança’ de Artur Jorge, admitiu hoje o treinador em entrevista à agência Lusa.
“É difícil escolher, um [título] é a regularidade [o campeonato], o outro é histórico. Mas, até pelo jogo que foi, se eu tiver mesmo que escolher um, escolho a ‘Libertadores’ por ser um troféu inédito no clube e internacional. Tem um valor diferente, especial. Conseguimos acrescentar um novo título a um clube centenário, que tem uma história riquíssima e uma trajetória de grande valor no futebol brasileiro”, disse Artur Jorge.
Lembrar essa partida “épica” de 30 de novembro, disputada no ‘Monumental’, em Buenos Aires, na Argentina, é despertar muitas emoções.
“Tenho ainda muita dificuldade em falar sobre esse jogo, porque emocionalmente é um jogo que mexe muito comigo. É um jogo que me deixou marcas para a vida, seguramente. Aquele foi o jogo das nossas vidas. Conquistar o troféu perante todas aquelas circunstâncias que poderiam ser adversas faz com que esta final tenha um sabor muito especial”, reforçou.
Aos 40 segundos de jogo, Gregore atingiu um adversário e foi expulso, obrigando o Botafogo a jogar com menos uma unidade mais de 90 minutos, período de descontos incluídos.
“Isso fez com que tivéssemos que ter alguma serenidade, cabeça fria, tomar as melhores decisões e acalmar a equipa”, lembra.
Depois, elogiou, foram os jogadores que não se deixaram abalar por essa circunstância, unindo-se “mais do que nunca”, e fazendo “um jogo tremendo e de grande superação: tenho que dizer muito obrigado aos jogadores pela forma como se comportaram”.
Sobre a conquista do campeonato, destacou a vitória por 3-1 no terreno do Palmeiras, “um competidor extremo” que obrigou o Botafogo a estar “sempre no limite”, na antepenúltima jornada e após três empates consecutivos que colocaram mesmo a turma de Abel Ferreira na liderança, como “um momento chave”.
“O ‘Brasileirão’, pela regularidade que implica e pela competitividade que o campeonato tem, é um título também que me deixa muito satisfeito”, frisa.
Artur Jorge admite que, quando chegou ao Brasil, no início de abril deste ano, nunca imaginou conseguir estes feitos.
“Quando decidi apostar neste projeto, ia carregado de ambição e determinado em poder fazer história no clube, mas confesso que não imaginaria a dimensão daquilo que foi conseguido. O que conseguimos, fazendo um balanço, superou todas as expectativas que eu tinha”, admite.
O real impacto destas conquistas só virá dentro de algum tempo, como lhe transmitiram os adeptos, no Rio de Janeiro.
“Uma das coisas que eu mais ouvi foi ‘vocês não têm noção do feito que alcançaram’. Porque estamos a falar do que só aconteceu três vezes no futebol brasileiro, com o Santos, Flamengo e agora o Botafogo, de vencer a Libertadores e o campeonato no mesmo ano. Tudo isto foi um feito que nos deixou uma marca muito vivida. Vimos famílias inteiras a chorar, que quebraram com a emoção, que ansiavam por todos estes momentos de alegria. Foi uma jornada incrível e impagável, inolvidável mesmo. Seguramente que o tempo nos vai ainda levar para uma galeria dos notáveis da elite, daquilo que são as lendas e os heróis do Botafogo”, concluiu.