“Tragédia” em Évora poderia ter “sido evitada” em pedreira

Local onde a Proteção Civil suspeita que várias pessoas poderão ter ficado submersas numa pedreira na zona de Borba, depois de uma estrada ter abatido, Borba, Évora, 20 de novembro de 2018. O deslizamento de terras para a pedreira provocou, pelo menos, dois mortos, mas as autoridades desconhecem, para já, o número de pessoas desaparecidas. NUNO VEIGA / LUSA

Da Redação
Com Lusa

O deslizamento de terras para uma pedreira, ocorrido na tarde do dia 19 na zona de Borba, provocou, pelo menos, dois mortos, divulgou o Comandante Distrital de Operações de Socorro (CODIS) de Évora, José Ribeiro.

“Às 15:45” ocorreu o “deslizamento de um grande volume de terra” na estrada 255, que provocou “a deslocação de uma quantidade muito significativa de rochas, de blocos de mármore e de terra para o interior de uma pedreira”, relatou o CODIS de Évora numa conferência de imprensa, ao início da noite, no quartel dos bombeiros de Borba.

Em consequência deste deslizamento, continuou, “houve dois operários da empresa que explora aquela pedreira que foram arrastados”, sendo estas as duas vítimas mortais que é possível confirmar.

O deslizamento de terras da estrada para a pedreira contígua, segundo o comandante distrital de operações de socorro, aludindo aos “relatos que foi possível recolher”, terá também “arrastado duas viaturas”.

Industriais do setor dos mármores em Borba (Évora) consideraram neste dia 20 que a “tragédia” de segunda-feira, com o deslizamento de terras para uma pedreira, com vítimas mortais, poderia ter “sido evitada” porque “os problemas” da estrada estavam identificados.

O que sucedeu, poderia ter sido “evitado porque, pelo menos há quatro anos, que nós, empresários, propomos à câmara” o corte daquele troço de estrada, a antiga estrada 255, que liga Borba a Vila Viçosa, segundo José Batanete, empresário do setor.

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Segundo o industrial, que possuía há quatro anos uma pedreira de extração de mármore junto à estrada onde aconteceu o deslizamento de terras, entretanto vendida, os empresários até apresentaram ao município “soluções” alternativas para a circulação rodoviária “para que aquilo [o colapso da estrada provocando vítimas] não pudesse ou não devesse acontecer”.

“Entretanto, como costuma ser usual neste país, as coisas, pelos vistos, caíram todas em ‘saco roto’, até à tragédia que se verificou ontem [na segunda-feira]”, lamentou José Batanete.

Contactado pela agência Lusa, outro industrial do setor com pedreiras de extração de mármore naquela zona, Luís Sottomayor, sublinhou que “há muito tempo” que “os problemas da estrada” estavam identificados.

Há quatro anos, recordou, a então Direção Regional de Economia promoveu uma reunião de trabalho com os empresários e com a câmara “no sentido de cortar esta estrada, numa parte que era perigosa”, visto que servia, não apenas para acesso às pedreiras, mas para a circulação rodoviária dos habitantes em geral.

Os técnicos do Ministério da Economia, ligados à área de geologia, assinalou, alertaram que “o problema” era que a estrada poderia “cair de um momento para o outro e não dava segurança”.

“E nós anuímos porque temos as pedreiras aqui, somos empresas responsáveis, gostamos de trabalhar em segurança e aquilo também era uma insegurança para nós, além de nos limitar” quanto a “trabalharmos mais junto à estrada”, disse.

Na altura, evocou, não chegou a “haver consenso” entre os empresários para o corte da estrada e “não saiu nada” de concreto da reunião, na qual participaram cerca de 10 industriais: “Alguns colegas, chamaram-nos malucos” e disseram que “a gente estava a levantar um problema que não existia”.

José Batanete confirma, ressalvando, contudo, que os opositores à interrupção do trânsito na via rodoviária representavam “uma minoria”.

“Ninguém pensava que isto acontecesse”, julgavam que “era tudo estudos, que aquilo iria durar mais não sei quantos anos”, argumentou.

Luís Sottomayor explicou ainda que, nessa altura, os empresários efetuaram um estudo, que poderia ter servido de “base de trabalho” e que apresentaram ao município, identificando o problema” e, no caso de corte daquela estrada, “como é que cada empresa” na zona poderia “ter acesso a Borba e a Vila Viçosa” através de “caminhos alternativos”.

“Ficou tudo em ‘águas de bacalhau’”, lamentou, argumentando que quem circulava na estrada “não percebia”, devido às sebes que a ladeiam, mas o que ali se encontrava, com pedreiras de um lado e de outro, “era uma ponte estreitinha, um talude, de seis metros” de largura por pouco mais de 100 de comprimento.

Luís Sottomayor argumentou que, na altura, “foi dito” ao autarca de Borba que, “se houvesse algum azar, a responsabilidade” seria “da câmara”.

“As responsabilidades não sei quem as tem”, disse, por seu turno, José Batanete, afirmando-se “revoltado” com o sucedido e recordando: “Ficou combinado que a câmara iria fazer uma assembleia municipal, propor à população que a estrada deixasse” de ter trânsito, mas tudo “caiu em ‘saco roto’”.

Dois homens residentes em Bencatel, concelho de Vila Viçosa, estão dados como desaparecidos desde segunda-feira, podendo terem sido vítimas do deslizamento de terras para uma pedreira em Borba, disse hoje à agência Lusa fonte da junta de freguesia.

De acordo com a mesma fonte, os homens terão indicado a familiares que iriam na tarde de segunda-feira a Borba, passando pela estrada onde ocorreu o acidente.

Tanto o secretário de Estado da Proteção Civil, José Artur Neves, como o presidente da Câmara de Borba, António Anselmo, o responsável distrital da Proteção Civil considerou que o resgate das vítimas constitui uma operação “de grande complexidade”.

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