Estados brasileiros admitem risco de racionamento para combater falta de água

Foto A2 Fotografia / Edson Lopes Jr
Foto A2 Fotografia / Edson Lopes Jr

Mundo Lusíada
Com agencias

Autoridades de São Paulo e Minas Gerais admitem a necessidade de se racionar a distribuição de água para combater a crise que afeta o sudeste brasileiro. O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, afirmou à imprensa local que no caso do consumo não ser reduzido em 30%, poderá haver um “grave racionamento”.

Tanto Minas Gerais como o Rio de Janeiro já pediram a ajuda do governo federal para a realização de obras de combate à seca. O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, negou a necessidade de racionamento no seu Estado.

Em São Paulo, o diretor da companhia de abastecimento de água, a Sabesp, já afirmou que, caso o volume do sistema de reservatórios da Cantareira não volte ao limite mínimo, pode ser necessário um racionamento de cinco dias sem água para dois com água nas torneiras do Estado.

O sistema da Cantareira, que abastece 8,1 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, opera hoje com 5,1% da sua capacidade. Como um paliativo para a situação, a Sabesp anunciou ter iniciado nesta semana uma diminuição da pressão da água que chega às residências paulistas.

Dia 28 um grupo de prefeitos do Estado de São Paulo reuniram-se para definir uma ação conjunta contra a seca nos reservatórios. Uma das ideias é definir uma punição única para quem desperdiçar o precioso líquido. O Comitê Gestor do Programa de Aceleração do Crescimento (CGPAC) aprovou a inclusão do empreendimento de interligação do reservatório Jaguari-Atibainha na carteira do PAC. A obra faz parte dos projetos de segurança hídrica que o governo de São Paulo apresentou à presidência em novembro, com o objetivo de reforçar o abastecimento de água no estado.

A Usina de Santa Branca, no Rio Paraíba do Sul, em São Paulo, pertencente à Light, fornecedora do Rio de Janeiro, chegou ao nível do volume morto e parou de gerar eletricidade no dia 25) de acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). É a segunda usina hidrelétrica integrante do Sistema Interligado Nacional (SIN) que parou de funcionar por falta d’água. O nível do reservatório de Santa Branca chegou a -0,81 do volume útil, ou seja, está no chamado volume morto, nível em que não é mais possível a geração de energia.

Problema grave
O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, em 22 de janeiro disse que, se os reservatórios das hidrelétricas chegarem a níveis menores que 10% da capacidade máxima, o país poderá ter “problemas graves”, e o governo tomará as “medidas necessárias”, que podem incluir o racionamento de energia. Atualmente, os reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste estão em 17,43% de sua capacidade máxima e os da Região Norte estão em 17,18%.

“É óbvio que se tivermos mais falta de água, se passarmos do limite prudencial de 10% nos nossos reservatórios, estamos diante de um cenário que nunca foi previsto em nenhuma modelagem”, disse Braga. Segundo o ministro, esse é o limite estabelecido pelo Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) para o funcionamento das usinas hidrelétricas. “A partir daí, teríamos problemas graves, mas estamos longe disso”, ressaltou.

Segundo o ministro, o país enfrenta atualmente uma situação hidrológica pior do que a verificada em 2001, quando foi decretado um racionamento de energia no país.

Plano de racionamento
O governo já deveria estar preparando um plano para decretar o racionamento de energia no país, com o objetivo de evitar o desabastecimento, segundo o especialista e presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales. Ele defende que o corte no consumo seja feito depois do período de chuva, que termina no fim de abril.

Para Sales, o racionamento deve ser feito juntamente com incentivos e normas que levem ao corte do consumo, com a redução dos contratos de energia, para que as geradoras não sejam prejudicadas. Para o especialista, a queda do nível em plena época de chuva é um indicativo de que o país pode ficar com reservatórios abaixo do necessário para enfrentar o resto do ano.

“Tem dias que não tem água de manhã, tem dia que não tem à tarde e tem dia que falta o dia todo”, relatou Iélia Barbosa, auxiliar administrativa de um restaurante na Vila Madalena, bairro nobre da zona oeste paulistana. Comerciantes entrevistados pela Agência Brasil contam que têm driblado o problema da falta d’água. Na zona leste, a lanchonete de Halisson Parente precisou fechar as portas uma vez por causa da falta d’água. “Já teve dias em que a gente não estava preparado e faltou [água] o dia inteiro. O jeito foi deixar para o outro dia”.

O geólogo Pedro Luiz Côrtes, professor da área ambiental da Universidade de São Paulo (USP) e do mestrado em gestão ambiental da Universidade Nove de Julho, avalia que é fundamental manter a população informada. “A informação chega a conta-gotas. Isso é péssimo porque aumenta a insegurança sobre o que vai acontecer. Esta é uma crise que poderia ter sido minimizada se a população tivesse sido avisada com antecedência”, apontou. Ele defende que o governo estadual apresente à sociedade um plano com os cenários com os quais está trabalhando para a crise, o planejamento para cada um deles, como deve se dar a recuperação dos mananciais e as alternativas para o abastecimento.

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