Desacatos em manifestação da restauração no Porto são “reflexo do desespero”

Manifestação de empresários e trabalhadores da área da restauração organizada pelo movimento de cidadãos “A Pão e Água”, que protestam no centro do Porto contra as medidas anunciadas pelo Governo de recolhimento obrigatório mais alargado nos fins de semana dos próximos 15 dias, Avenida dos Aliados, Porto, 13 de novembro 2020. JOSÉ COELHO/LUSA

Da Redação
Com Lusa

O porta-voz do movimento “A Pão e Água” classificou nesta sexta-feira os desacatos durante a manifestação na Avenida dos Aliados, no Porto, como o reflexo do “desespero” em que os empresários da restauração, bares e comércio se encontram.

“Isto [desacatos] é o exemplo claro do estado de desespero em que as pessoas se encontram neste momento”, afirmou à Lusa Miguel Camões, porta-voz do movimento “A Pão e Água” e presidente da Associação de Bares e Discotecas da Movida do Porto.

O protesto, que começou cerca das 16:00 e desmobilizou pelas 18:30, reuniu mais de mil empresários a contestar medidas que consideram restritivas impostas pelo Governo português para travar a pandemia de covid-19 e resultou em “desacatos” com a polícia.

Além do arremesso de garrafas contra elementos das forças de segurança, os manifestantes colocaram caixões [simbolizando a morte do setor] a queimar, obrigando a intervenção policial.

Segundo Miguel Camões, os desacatos refletem “o estado de desespero” daqueles que depois de “tantos meses em espírito de sacrifício”, não tem “pão para pôr na mesa”.

“Convém não perder o foco de que o setor está em grande desespero. Tanto, que se vê em situações destas”, referiu, acrescentando que para a manifestação cada pessoa trouxe os objetos com que “se identificava mais para manifestar”.

À Lusa, agentes da autoridade no local explicaram que os confrontos começaram quando os manifestantes tentavam apagar o caixão que se encontrava a arder junto à estátua de Almeida Garrett, na Praça General Humberto Delgado.

Em circunstâncias em que nem agentes da PSP ouvidos pela Lusa conseguem clarificar, num momento em que a polícia se aproximou dos manifestantes, estes começaram a arremessar garrafas e pedras contra os agentes e contra uma viatura policial que se encontrava do lado direito do edifício da Câmara do Porto (no sentido descendente da avenida dos Aliados), verificou a Lusa no local.

De acordo com a polícia no local, até cerca das 18:50 não tinham sido feitas detenções nem identificações, mas foi necessário um reforço de policiamento na Avenida dos Aliados, tendo sido chamadas mais quatro equipes de intervenção policial, cada uma com cerca de cinco elementos.

Os ânimos acabaram por se acalmar, ainda antes da chegada do reforço policial.

“Costa: faz outra proposta”, “Estão a matar quem não tem covid” e “Nove meses para nascer, nove meses para morrer” são alguns dos cartazes hasteados nas escadarias da Câmara Municipal do Porto e que mostram o descontentamento do setor.

Munidos de frigideiras, colheres de pau, panelas e outros utensílios, os empresários consideram as medidas de apoio anunciadas pelo Governo “insuficientes”.

O país está em estado de emergência desde 09 de novembro e até 23 de novembro, período durante o qual há recolher obrigatório nos concelhos de risco de contágio mais elevado e municípios vizinhos. A medida abrange 114 concelhos, número que passa a 191 a partir de segunda-feira.

Durante a semana, o recolher obrigatório tem de ser respeitado entre as 23:00 e as 05:00, enquanto nos fins de semana a circulação está limitada entre as 13:00 de sábado e as 05:00 de domingo e entre as 13:00 de domingo e as 05:00 de segunda-feira.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.294.539 mortos em mais de 52,7 milhões de casos de infecção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 3.250 pessoas dos 204.664 casos de infecção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

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