Presidente do CNPq recebe grau de Dr. Honoris Causa pela Universidade de Lisboa

Técnico apadrinha grau Doutor Honoris Causa a Ricardo Galvão, cientista e ‘homem de causas’ do Brasil.

 

Mundo Lusíada

O Presidente do CNPq, Ricardo Galvão, recebeu na segunda-feira, dia 4, o título de Dr. Honoris Causa da Universidade de Lisboa. A cerimônia aconteceu no Salão Nobre do Instituto Superior Técnico da universidade, na capital portuguesa.

O título foi uma proposta do Instituto Superior Técnico “como reconhecimento pelos seus contributos notáveis nas dimensões acadêmica, científica e profissional prestados, com elevado reconhecimento a nível mundial e, desde a entrada de Portugal na senda da Fusão Nuclear, colaborando e dando o seu avisado contributo ao Técnico”, segundo a instituição.

“Na qualidade de reitor, confiro o grau Doutor Honoris Causa, pela Universidade de Lisboa, ao professor Ricardo Galvão”. Após estas palavras de Luís Ferreira, proferidas no Salão Nobre do Instituto Superior Técnico irrompeu em aplausos, numa ovação de pé que se estendeu ao longo de um minuto.

Na intervenção que deu início à cerimônia solene, Rogério Colaço, presidente do Técnico, relembrou que “é necessária coragem para defendermos os valores em que acreditamos” e que “o professor Ricardo Galvão é um exemplo dessa coragem”. “Tem um percurso de vida que nos inspira a todos”, acrescentou. A declaração viria a ser justificada nos vinte minutos seguintes, durante os quais Carlos Varandas, antigo professor do Técnico e colega de Ricardo Galvão há mais de 40 anos, enunciou as conquistas acadêmicas e profissionais do investigador, uma “tarefa bem difícil” de fazer na moldura temporal disponível, acrescentou. Terminou o discurso com a oficialização do pedido de atribuição do título Doutor Honoris Causa.

Minutos depois, e ostentando já a medalha referente ao grau, Ricardo Galvão saudou os presentes e a memória de colegas de investigação. A ligação com o Técnico, uma instituição que referiu ter “enorme prestígio internacional na área de física de plasmas”, remonta a 1982. Nesse ano, por ocasião do primeiro Latin-American Workshop on Plasma Physics (Workshop Latino-Americano em Física de Plasmas), conheceu alguns docentes da Escola – um destes, Carlos Varandas, viria a proferir o seu discurso laudatório 41 anos depois, nesta cerimônia.

Na sua intervenção, Ricardo Galvão realçou pontos-chave do seu percurso científico, incluindo várias colaborações entre o Brasil e Portugal. No que concerne a intercâmbios com o Técnico, destacou as colaborações entre a Universidade de São Paulo e o Centro de Fusão Nuclear e, mais tarde, o Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN). Em declarações feitas mais tarde, o investigador reiterou que sempre considerou “importantíssima a colaboração entre Brasil e Portugal na ciência e tecnologia”.

Galvão agradeceu a honraria e afirmou que sente “parte de sua alma” no Instituto pelo tempo que atuou em conjunto com o IST. Na oportunidade, ele proferiu palestra com o tema “Amazônia e a Atual Política Ambiental Brasileira.

Galvão elucidou os presentes com informação sobre a Amazônia, uma área do planeta que é frequentemente associada apenas ao Brasil, mas que se estende pelo território de nove países designados ‘pan-amazônicos’. Para além de abordar o papel da floresta amazônica na manutenção do equilíbrio ecológico e ambiental do planeta, o cientista relembrou os povos indígenas que nela habitam e a sua relação com esta.

A segunda parte da palestra focou-se na problemática da desflorestação e na evolução da sua magnitude ao longo dos anos. Através de dados recolhidos por projetos de monitorização, Ricardo Galvão enfatizou os efeitos negativos da mudança de política ambiental do governo do Brasil entre 2019 e 2022 e apresentou iniciativas e sistemas para a prevenção do abate ilegal de árvores e da ocupação de territórios amazônicos.

“Gostaria de ter mais instituições portuguesas – em particular o Técnico – a trabalhar junto de investigadores brasileiros contra problemas relevantes para a Amazônia”, afirmou o investigador à saída do auditório. Relembrando os 30 milhões de habitantes daquela área, Ricardo Galvão sublinhou o difícil acesso e as dificuldades logísticas como obstáculos que podem ser enfrentados por essa cooperação científica. “Hoje em dia, com a produção de energia solar e, até, a possibilidade de internet por satélite, é possível estudar grupos localizados e os seus problemas específicos”, acrescentou.

Numa mensagem aos colegas portugueses, o cientista instigou ao “abrir de olhos para os problemas científicos na Amazônia” e para “procurarem os seus parceiros mais convenientes no Brasil”.

 

Biografia

Ricardo Magnus Osório Galvão é um cientista, acadêmico e líder científico brasileiro, internacionalmente reconhecido em todas estas dimensões e com uma forte ligação à Universidade de Lisboa, através do Instituto Superior Técnico e do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear.

Doutorado pelo Massachussets Institute of Technology (1976), a sua atividade científica centra-se nos plasmas de fusão nuclear, tendo projetado a investigação experimental em Fusão Nuclear no Brasil e liderado, durante inúmeros anos, o programa brasileiro de Fusão Nuclear onde desenvolveu dois protótipos experimentais no Instituto de Física da USP. Tem uma intensa atividade científica e foi presidente da Sociedade Brasileira de Física onde ajudou a impulsionar a União de Físicos dos Países de Língua Portuguesa. É Professor Titular da Universidade de São Paulo, tendo também desenvolvido actividade académica e científica na Unicamp e no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da Força Aérea Brasileira.
Fruto da ligação ao Centro de Fusão Nuclear e posteriormente ao Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear, tendo sido um forte promotor do intercâmbio científico e técnico entre a Universidade de São Paulo e o Instituto Superior Técnico, com participação em júris acadêmicos a todos os níveis, co-orientação de estudantes, transferência de tecnologia, e participação em comités de aconselhamento. Em particular, promoveu a utilização, no tokamak TCABR, dos sistemas de controle e aquisição de dados desenvolvidos no IPFN e a utilização de sistemas de reflectometria para análise de ondas de Alfvén e colaborou intensamente em várias campanhas experimentais, conduzidas no tokamak ISTTOK, sobre melhoria do confinamento através de polarização externa com eléctrodos emissivos. Deu ainda conselhos avisados sobre a exploração científica do ISTTOK e melhorias a introduzir na sua operação durante as suas estadas de professor visitante.
Através da ligação a Portugal iniciou a ligação e a participação da comunidade científica brasileira no programa europeu de Fusão Nuclear nomeadamente no Joint European Torus (JET) levando à internacionalização mais atlântica das colaborações do Instituto de Física da USP.
Em 1984, recebeu o Prémio ICTP, concedido pelo Abdus Salam International Center for Theoretical Physics a jovens físicos e matemáticos (com menos de 40 anos) provenientes de países em desenvolvimento a fim de promover a física e a matemática teórica e que distinguiu alguns dos mais eminentes cientistas da China, Índia e Brasil. A distinção reconheceu o seu trabalho teórico em física dos plasmas, embora mais tarde o seu trabalho tenha sido centrado em desenvolvimentos experimentais da fusão nuclear em tokamaks.
É Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico (Brasil), atribuído pelo Presidente da República do Brasil em 2008, e recebeu a Medalha Carneiro Felippe em 2015, atribuída pela Comissão Nacional de Energia Nuclear do Brasil a cientistas que se destacam na investigação direcionada ao uso pacífico da energia nuclear.
É membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, da Academia Brasileira de Ciências e foi membro do General Council da Sociedade Europeia de Física.
Foi presidente da Sociedade Brasileira de Física (2013-2016) e de 2005 a 2012 foi diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Em 2016 assumiu a direção do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (equivalente a agência espacial brasileira). Defensor intransigente da ciência e do rigor dos dados científicos, foi demitido pelo Presidente do Brasil em 2019 deixando contudo o INPE e os seus investigadores numa posição impar e inatacável, beneficiando-os com uma imagem externa de fidelidade intransigente aos princípios da ciência.
Foi distinguido pela revista Nature como uma das dez personalidades internacionais do ano de 2019 pela sua defesa da ciência contra as ingerências políticas.
Em Fevereiro de 2021, a American Association for the Advancement of Science (AAAS) atribuiu-lhe o AAAS Award for Scientific Freedom and Responsibility.

 

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