Cabo Verde quer promoção do crioulo associada ao ensino de outras línguas

Da Redação
Com Agencias

No Dia Internacional da Língua Materna, o chefe de Estado cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, defendeu a “obrigação” de conjugar a preservação e promoção da língua materna cabo-verdiana com o ensino de outras línguas para assegurar a inserção dos cabo-verdianos no mundo.

“Somos obrigados a associar a preservação e promoção da nossa língua, enquanto instrumento de afirmação cultural no país e na diáspora, com o desenvolvimento e o acesso a outras, com destaque para o português”, sustentou Jorge Carlos Fonseca.

Numa mensagem alusiva a data, Jorge Carlos Fonseca, apontou os desafios de preservação do crioulo num contexto em que, segundo a agência das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura (UNESCO), 43% das cerca de seis mil línguas existentes no mundo estão ameaçadas.

Por isso, sustentou, as “políticas que promovem os debates e os estudos em torno do desenvolvimento e da sistematização da língua materna devem prosseguir com determinação e competência”.

“Igualmente é fundamental que se atribua a maior importância ao ensino do português e das outras línguas não maternas com o objetivo de proporcionar aos cabo-verdianos instrumentos fundamentais à sua inserção num mundo cada mais globalizado e multicultural”, reforçou.

Cabo Verde assinalou o Dia Internacional da Língua Materna, proclamado pela UNESCO em 1999, com um conjunto de atividades em várias ilhas e com as emissões da Rádio Nacional em crioulo.

O ministro da Cultura e Indústrias Criativas, Abraão Vicente, em declarações à imprensa local a propósito da efeméride, reafirmou a intenção do executivo oficializar o crioulo na Constituição cabo-verdiana.

“A minha meta, como ministro que tutela o Instituto do Patrimônio Cultural, é que a minha equipe haja de forma imediata para a oficialização simbólica do crioulo como patrimônio nacional, criando um decreto, e logo a seguir criar as condições acadêmicas para que seja oficializado, também, na Constituição”, disse.

Segundo das Nações Unidas, a diversidade linguística está cada vez mais ameaçada, com o desaparecimento, em média, de um idioma a cada duas semanas.

Moçambique

Moçambique também comemorou neste 21 de fevereiro, o Dia Internacional da Língua Materna. O tema da celebração este ano é “A Diversidade Linguística e o Multilinguismo Contam para o Desenvolvimento Sustentável”.

A ONU News em Moçambique foi às ruas da província de Manica, centro do país, ouvir da população quais são suas palavras preferidas na sua língua-mãe. As palavras foram ditas em Citewe, Echuwabo, CiSena, Cindau e Cinyungwé.

“A minha língua materna é Chitewe , palavras que eu mais gosto Muricuindepe, quer dizer “estás a ir aonde?”… Arsénio Marcelino Veríssimo: ‘a minha língua materna é Chuabo, as palavras que eu gosto de pronunciar na minha língua são, Eu que significa Mio, Você que significa Weyo, Onde vai? Ondovi’. Saíde Guirage Ndau e Cisena: ‘por exemplo em Cindau Goa, significa que são Riachos, depois tem Ginga significa Pinico em Cindau.’ Ferro Paulino Ernesto: ‘ma Cinyungwe, quando digo não quero, Nhonho…”

Segundo a especialista em Moçambique da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, Dulce Domingos Mungoi, ensinar dois idomas gera bons resultados no processo de aprendizagem.

“Nós sabemos que apenas 10% da população (de Moçambique) tem a língua portuguesa como materna e o nosso sistema de ensino tem o português como a língua de instrução. As crianças aprendem melhor falando a sua língua materna e achamos que a partir destas intervenções a nível das políticas linguísticas, o ensino bilíngue é uma estratégia que o governo tem adotado para permitir que as crianças tenham um processo de aprendizagem satisfatório.”

A Especialista de Educação de Adultos da Unesco afirma ainda que o Dia da Língua Materna é motivo de reflexão face às estatísticas que o país enfrenta no setor de ensino.

“Há estudos feitos pelo Ministério da Educação que mostram que em 2013 apenas 6,3 % das crianças adquiriram as competências requeridas. Esta situação três anos depois, em vez de melhorar, piorou. Estamos apenas com 4,9% das crianças que adquiriram competências de leitura. Consideramos que este pode ser um fator determinante e achamos que numa data como esta, podemos chamar atenção da importância da língua materna no ensino.”

Já Horácio Moisés, ponto focal do ensino bilíngue na provincia do Niassa, norte de Moçambique, destaca a importância da lingua materna na interação entre professor e aluno.

“Na província do Niassa foram introduzidas três línguas: Emakhuwa, Ciyao e Cinyanja. São importantes porque facilitam a comunicação e interação entre professor e aluno, aluno e professor. Fazem com que o aluno quando sai de casa não encontre um ambiente novo que lhe possa provocar timidez na escola. O ambiente de casa encontra também na escola, ajuda para socializar-se no meio escolar.”

Dados do censo publicado indicam que 25% da população moçambicana tem a língua Emakhuwa como língua materna, o que faz dela a mais falada no país.

O Dia Internacional da Língua Materna foi criado com o objetivo de promover o máximo de idiomas e para lembrar que a diversidade linguística e o multilinguismo são essenciais para o desenvolvimento sustentável.

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