Emigrantes têm “uma percepção muito incompleta” dos países para que emigram

Da Redação
Com Lusa

A pesquisadora Alina Esteves defendeu que os emigrantes têm “uma percepção muito incompleta” dos países para os quais emigram, em particular quanto ao funcionamento dos mecanismos sociais.

“Os emigrantes têm uma percepção muito incompleta do país para que vão”, disse à Lusa a investigadora do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, à margem da conferência “Migrações e Estado-Providência”, inserida na celebração dos 10 anos do Observatório da Emigração.

Esta foi uma das conclusões alcançadas pela investigação conduzida por uma equipa do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT), composta por Alina Esteves, Jennifer McGarrigle, Bruno Machado e Maria Lucinda Fonseca, destinada a entender o impacto que os sistemas de previdência social têm nos fenômenos migratórios.

A investigação insere-se no projeto Mobile Welfare, que resulta da cooperação entre o Instituto Demográfico Interdisciplinar da Holanda (NIDI), o Instituto Internacional para a Migração da Universidade de Oxford, o Centro de Investigação para as Migrações da Universidade de Varsóvia e o IGOT.

Este projeto pretende responder a três questões: como e de que maneira os sistemas de previdência social afetam os padrões de mobilidade na Europa, até que ponto e como é que as percepções destes afetam os fenômenos migratórios, e que papel desempenha a portabilidade destes mecanismos na migração.

Durante a investigação, a equipa realizou, ao longo de três anos, 39 entrevistas a cidadãos britânicos em Portugal e a cidadãos portugueses no Reino Unido.

Do lado dos portugueses em território britânico, as motivações que levaram os entrevistados a abandonar Portugal entravam em duas categorias: econômicas – como o desemprego e a austeridade ou a mobilidade profissional -, e realização pessoal – com os investigadores a apontarem a identificação com uma área de especialização ou uma nova experiência como um dos pontos fortes.

No sentido inverso, os britânicos inquiridos optaram por viajar para Portugal pelo estilo ou custo de vida ou simplesmente para realização pessoal.

Durante as entrevistas, os investigadores entenderam também que, tanto os portugueses no Reino Unido como os britânicos em Portugal, se esforçam para criar “redes de segurança” para “o caso de precisarem”.

Nesse sentido, os investigadores referem que há investimentos que são feitos nos dois lados, incluindo em propriedades e através da dupla contribuição.

Alina Esteves referiu que este é um mecanismo para “ter alguma proteção social”.

“Tenho de garantir que eu tenho casa, que tenho acesso à saúde, que consigo colocar os meus filhos numa escola”, explicou a investigadora do IGOT, que diz que estas são “estratégias para tentar contrariar as limitações”.

A equipe de investigadores compreendeu que as motivações para a migração não são influenciadas pelas preocupações com mecanismos de assistência social e que certos direitos são difíceis de exercer, levando, por vezes, os emigrantes a adotarem práticas transnacionais.

Entre os exemplos citados, os investigadores referiram casos, por exemplo, de emigrantes que visitam os seus países unicamente para receber cuidados médicos.

Na conferência participaram ainda representantes do Observatório da Emigração, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia e do investigador belga Jean-Michel Lafleur, da Universidade de Liége.

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