Autoridades e associações condenam agressão à companhia de teatro em Lisboa

Nesta quarta-feira, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa condenou o ataque contra companhia A Barraca e transmitiu solidariedade a todos os atores desta companhia de teatro.  O partido Livre apresentou hoje no parlamento um voto de condenação pelas agressões a um ator da companhia por um grupo de extrema-direita, manifestando “profundo repúdio”, e Rui Tavares exigiu uma investigação que “castigue os responsáveis”.

Na terça-feira, Dia de Portugal, um ator da companhia de teatro A Barraca, Adérito Lopes, foi agredido por um grupo de extrema-direita, em Lisboa, quando entrava para o espetáculo com entrada livre “Amor é fogo que arde sem se ver”, de homenagem a Camões.

O chefe de Estado condenou hoje esse ataque, tendo falado por telefone com a diretora da companhia, a atriz e encenadora Maria do Céu Guerra, de acordo com uma nota publicada pela Presidência da República.

Marcelo Rebelo de Sousa “sublinhou, em particular, que em democracia há e tem de haver liberdade de pensar e exprimir o pensamento, de forma plural e sem censuras”. “Essa liberdade e esse pluralismo não podem ser calados, nem sovados, por quem discorda. Vivemos em democracia e não queremos voltar a viver em ditadura”, acrescenta-se, na mesma nota da Presidência da República.

Os vereadores e eleitos do PCP na Assembleia Municipal de Lisboa (AML) também condenaram “vivamente a agressão perpetrada por membros de uma organização neonazi contra atores da Companhia de Teatro A Barraca, ontem à noite em Lisboa”.

“Não pode haver espaço para isto na cidade, nem no país, e este crime não pode ficar impune. Exige-se das autoridades a continuação da identificação e atuação contra os responsáveis (indivíduos e organizações) por esta agressão”, lê-se num comunicado que enviaram à imprensa.

Os vereadores e eleitos do PCP na AML manifestaram ainda “toda a sua solidariedade” aos atores agredidos, à companhia e aos seus demais atores e trabalhadores.

Em declarações à agência Lusa, Maria do Céu Guerra contou que a agressão ocorreu cerca das 20:00 de terça-feira, quando os atores estavam a chegar ao Cinearte, no Largo de Santos e, junto à porta, se cruzaram com “um grupo de neonazis com cartazes, programas”, com várias frases xenófobas, que começaram por provocar uma das atrizes.

“Entretanto, os outros atores estavam a chegar. Dois foram provocados e um terceiro foi agredido violentamente, ficou com um olho ferido, um grande corte na cara”, relatou Maria do Céu Guerra, referindo o ator em causa teve de receber tratamento hospitalar.

O público só abandonou o espaço já depois das 22:00, acrescentou a atriz, que realçou que o sucedido só não foi pior por ter aparecido a Polícia de Segurança Pública (PSP).

Fonte da PSP adiantou à Lusa que, com as características do eventual suspeito fornecidas pelo ofendido e por um seu amigo, foram feitas várias diligências nas ruas adjacentes ao Largo de Santos, tendo sido possível localizar um homem com 20 anos, suspeito de ser o autor da agressão, adiantou a mesma fonte.

Associação

A Federação Portuguesa de Teatro condenou “o ato de violência de que foram alvo os atores de A Barraca Teatro”, expressando solidariedade.

O Teatro D. Maria II, “enquanto instituição artística, e perante o recrudescimento de ameaças à liberdade de expressão, […] condena todas as formas de violência e tentativas de condicionamento dos direitos culturais de todas as pessoas e continuará a trabalhar comprometidamente na defesa da liberdade de criação e participação cultural como valor fundamental de uma sociedade democrática”, lê-se na página oficial do teatro nacional.

A ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve também reagiu, expressando “solidariedade para com A Barraca Teatro, em particular com o ator Adérito Lopes, brutalmente agredido num ato cobarde de violência de cariz neonazi”.

Em comunicado enviado hoje às redações, a associação SOS Racismo disse estar “ao lado das pessoas que sofrem na pele a violência de grupos organizados de extrema-direita, sobretudo imigrantes e pessoas racializadas” e pediu aos responsáveis políticos – Governo, Presidente da República e presidente da Assembleia da República – que condenem agressões e discurso de ódio motivado pelo preconceito e que tomem medidas.

Ao Ministério da Administração Interna, o SOS Racismo solicitou uma intervenção rápida, “garantindo a proteção policial necessária para salvaguardar as pessoas” e, ao Ministério Público, o coletivo pediu rápida detenção dos autores das agressões e um julgamento célere.

No mesmo comunicado, o SOS Racismo considera ainda que “a inoperância do Governo é assustadora” em relação ao caso da eliminação de um capítulo do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) 2024, que continha informação sobre a presença de grupos de extrema-direita em Portugal.

Concentrações em solidariedade com o ator Adérito Lopes, foram convocadas para domingo em Lisboa e no Porto.

A concentração “Não queremos viver num país do medo”, marcada para as 16:00 em frente ao Teatro A Barraca, em Lisboa, e para as 18:00 na Praça da Batalha, no Porto, é promovida pela sociedade civil e está a ser divulgada nas contas de várias associações nas redes sociais, entre as quais a SOS Racismo e a Plateia – Associação de Profissionais das Artes Cénicas, e de estruturas artísticas como a Palmilha Dentada, os Artistas Unidos e a Plataforma 285.

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