Incêndio no Museu Nacional controlado na madrugada. Com 200 anos, dano é “irreparável”

Foto Tânia Rego/Agência Brasil 

Mundo Lusíada
Com agencias

As primeiras estimativas é que muita história se foi com o fogo devastador que tomou o edifício que já foi o palácio de D. João VI, o Museu Nacional do Brasil.

O incêndio no Museu que fica no Rio de Janeiro, situado na Quinta da Boa Vista, na capital fluminense, foi controlado apenas por volta das 3h da manhã desta segunda-feira, dia 3. Os bombeiros continuavam no local fazendo o trabalho de rescaldo e de combate a outros focos de fogo.

Até o momento, não há registros de focos de incêndio na mata que cerca o museu, localizado em um parque nacional.

O Corpo de Bombeiros informou que a partir das primeiras horas desta manhã homens de 13 quartéis e 24 viaturas estavam no local. Integrantes da Polícia Federal, Polícia Militar e da Guarda Municipal, além de profissionais de saúde, também foram chamados para colaborar com os trabalhos.

Vários diretores, funcionários e pesquisadores do Museu Nacional passaram a noite no local acompanhando os trabalhos e tentando colaborar. Havia preocupação com as dificuldades em controlar as chamas, a ausência de água e o risco de desabamento.

Oficialmente, o Corpo de Bombeiros informou que não há ainda dados sobre as causas do incêndio. No domingo, funcionários do museu relataram problemas na obtenção de água, pois dois hidrantes não funcionaram no momento em que os bombeiros estavam no local.

Como o museu está em uma colina, no parque nacional, há uma série de limitações para o fornecimento de água. Os bombeiros confirmaram que o abastecimento de água foi feito por carros-pipa, cedidos pela companhia de água e esgoto do Rio de Janeiro.

O Ministério da Cultura já divulgou que “lamenta profundamente o incêndio que dizimou o acervo e as instalações do Museu Nacional, que pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro, e considera que as causas e responsabilidades devem ser rigorosamente apuradas”.

Segundo o órgão, a direção do museu era apoiada desde 2017 na elaboração de projetos e na busca por recursos para financiar o plano de revitalização e requalificação. Um total de R$ 21,7 milhões foi conseguido junto ao BNDES, que financiaria grande parte do projeto. Outras ações foram realizadas pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), com o objetivo de apoiar a gestão porém “infelizmente não houve tempo” traz em nota.

“Trata-se de uma perda irreparável para o país. A cultura brasileira e o Brasil estão de luto. Uma grande mobilização nacional em prol da reconstrução do Museu Nacional do Rio de Janeiro é necessária. O Ministério da Cultura fará todo o esforço para apoiar este processo, olhando também para os demais museus do País, com o intuito de evitar que tragédias como essa se repitam e causem mais prejuízo ao patrimônio cultural brasileiro”.

Acervo

O Museu Nacional do Rio reunia um acervo de mais de 20 milhões de itens dos mais variados temas, coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e arqueologia. No local, estava a maior coleção de múmias egípcias das Américas.

No local, também estava Luzia, o mais antigo fóssil humano encontrado nas Américas, que remete a 12 mil anos, e representa uma jovem de 20 a 24 anos. No museu, havia ainda o esqueleto do Maxakalisaurus topai, maior dinossauro encontrado no Brasil.

O museu é a mais antiga instituição histórica do país, pois foi fundado por dom João VI em 1818, completou 200 anos em junho. É vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com perfil acadêmico e científico. Tem nota elevada nos institutos de pesquisa por reunir peças raras, como esqueletos de animais pré-históricos e múmias.

O local foi sede da primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891, antes de ser destinado ao uso do museu, em 1892. O edifício é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O Museu Nacional do Rio oferece cursos de extensão e pós-graduação em várias áreas de conhecimento. Para esta semana, era esperado um debate sobre a independência do país. No próximo mês, estava previsto o IV Simpósio Brasileiro de Paleontoinvertebrados também no local.

O prédio foi oferecido por um rico comerciante à família real portuguesa quando esta chegou em 1808 ao Rio de Janeiro para escapar das tropas napoleônicas, tendo sido residência de D. Maria I até à morte em 1816 e de D. João VI até regressar a Lisboa em 1821. Lá também viveu D. Pedro I do Brasil (IV de Portugal) e lá nasceu a D. Maria II, além de D. Pedro II, filhos da imperatriz Leopoldina.

Dano irreparável

O diretor de Preservação do Museu Nacional, João Carlos Nara, afirmou à Agência Brasil que o incêndio causa um “dano irreparável” ao acervo e às pesquisa nacionais. Ele acompanha de perto o trabalho dos bombeiros no local e disse que “pouco restará”, após o controle das chamas.

“Infelizmente a reserva técnica, que esperávamos que seria preservada, também foi atingida. Teremos de esperar o fim do trabalho dos bombeiros para verificar realmente a dimensão de tudo”, afirmou o arquiteto e historiador.

De acordo com João Carlos Nara, a equipe de administração do Museu Nacional aguardava o fim do período eleitoral para iniciar as obras de preservação da infraestrutura do prédio.

“É tudo muito antigo. O sistema de água e o material, tudo tem muitos anos. Havia uma trinca nas laterais. Isso é ameaça constante”, disse o diretor.

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