Da Redação
Com Lusa
A doçaria regional portuguesa instalou-se há poucas semanas em Macau para ser servida com o chá asiático numa cidade em que o casamento histórico entre oriente e ocidente permanece uma imagem de marca.
Pastéis de Águeda, beijinhos de Pombal ou ovos moles de Aveiro começaram a ser vendidos e servidos recentemente na “Casa da Rocha – confeitos portugueses e chás da Ásia”, no coração de Macau, a cidade que é desde 1999 uma região da China como administração especial, mas que durante mais de 400 anos esteve em mãos portuguesas.
Apesar desta história, em Macau não há uma tradição do chá e de casas de chá como noutras regiões da China. E também não ficou na cidade uma tradição de doçaria portuguesa, ao contrário de outros pontos da Ásia por onde passaram os portugueses ou de outros produtos ou tradições oriundos de Portugal.
“É estranho”, admite Rui Rocha, o dono da Casa da Rocha, ex-diretor do Instituto Português do Oriente (IPOR) e atual diretor do Departamento de Língua Portuguesa e Cultura dos Países de Língua portuguesa da Universidade Cidade de Macau.
Apesar de profundo conhecedor de Macau, da sua história e tradições, confessa não encontrar uma razão para isto: “Macau é uma cidade muito complexa, muito estranha”.
Ele próprio, como a Casa da Rocha (por se situar na Calçada da Rocha) é um símbolo do encontro entre oriente e ocidente que é Macau. Nascido em Portugal, a mãe é de Macau. Desembarcou na cidade em 1983 e é um apreciador, conhecedor e estudioso do chá.
Ir à Casa da Rocha é, por isso, mais do que um simples momento para apreciar um chá e comer um bolinho vindo diretamente de Portugal. Com este anfitrião, muito provavelmente, tornar-se-á numa lição sobre as 136 variedades de chá verde que há na China, de que Rui Rocha diz “só” conhecer “cerca de 50%”, a arte de o preparar e a forma adequada de o apreciar.
Aos chás da China, Vietname, Tailândia e Japão juntam-se doces de diversos pontos de Portugal, que a clientela, maioritariamente portuguesa, tem feito esgotar em pouco tempo, assim que chega uma remessa de Lisboa, aparentemente ávida por reencontrar sabores originais e não os “arremedos maus” à venda nas pastelarias e montras de Macau, como o onipresente ‘egg tart’ ou ‘portuguese tart’, de cara igual ao pastel de nata.
Na Casa da Rocha, chás e doces são servidos sobre mesas de madeira chinesas com tampos de azulejos azuis e brancos, feitos nos ateliês da Casa de Portugal em Macau. Em volta, prateleiras com bules chineses.
“Queremos que seja também um espaço de cultura”, diz Rui Rocha, que pretende abrir a sua casa a artistas ou outras pessoas que queiram fazer exposições e apresentações ou ‘workshops’, por exemplo.